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Garoto não foi sequestrado, diz defesa do padrasto
Advogados afirmam que não houve desrespeito a convenção internacional
Segundo eles, menino deixou EUA com a mãe e é brasileiro, registrado no consulado; Itamaraty diz que ele também tem cidadania americana
SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os novos advogados de João
Paulo Lins e Silva, padrasto
brasileiro do garoto de oito
anos que virou motivo de estresse diplomático entre Brasil
e EUA, vão argumentar na Justiça que não há, no caso, desrespeito à Convenção de Haia,
acordo internacional relativo à
proteção de crianças e à cooperação sobre adoção.
O pai do menino, o americano David Goldman -com
quem Lins e Silva disputa a
guarda-, argumenta que o filho foi sequestrado.
Por ter saído dos EUA acompanhado da mãe, a brasileira
Bruna Bianchi, e por ser brasileiro, não houve sequestro, alegam Sérgio Tostes e Miguel Pachá, contratados na segunda-feira para atuar com Carlos
Eduardo Martins, que já estava
no caso. Para eles, como o menino está adaptado ao lar carioca, onde mora com o padrasto e
a irmã, deve continuar no Rio.
Tostes e Pachá querem reforçar a brasilidade da criança, que
vive desde os quatro anos no
Brasil, para justificar sua permanência no país e o direito de
guarda do padrasto. Segundo
eles, o garoto não é americano
nem tem dupla nacionalidade
-é exclusivamente brasileiro.
A partir de agora, disse Tostes,
o caso será tratado pelo sobrenome brasileiro da criança.
Para a defesa de Lins e Silva,
como o menino foi registrado
no consulado brasileiro, isso o
torna brasileiro. "A Justiça federal está agindo contra um
brasileiro nato", disse Tostes.
Consultado pela Folha, o
Itamaraty informou que, mesmo assim, o menino tem também, segundo as regras dos
EUA, cidadania americana.
Segundo David Goldman,
Bruna levou em 2004 o menino de férias para o Brasil, de
onde lhe telefonou avisando
que queria o divórcio e que o
menino ficaria com ela. Já casada com Lins e Silva, ela morreu no parto de sua filha, no
ano passado. A guarda agora é
disputada por pai e padrasto na
Justiça brasileira, mas os advogados de Goldman querem que
o caso seja julgado nos EUA,
onde o garoto nasceu.
Justiça estadual
Outro passo importante da
nova defesa é tentar levar o caso de volta à Justiça estadual.
Até fevereiro, o processo era
tratado na 2ª Vara da Família
do Rio de Janeiro, instância na
qual o padrasto conseguiu a
guarda provisória do menino
menos de uma semana depois
da morte da mulher.
O STJ (Superior Tribunal de
Justiça) determinou que o caso
passasse à Justiça federal porque a União é parte do processo
que determina onde a guarda
do menino deve ser julgada.
A defesa do padrasto discorda e deve recorrer da decisão.
Tostes negou que esta seja uma
estratégia para levar o caso ao
ambiente onde a família do padrasto, que é advogado e pertence a uma tradicional família
de advogados, tem influência.
Ricardo Zamariola, defensor
de David Goldman, não quis comentar a nova linha de defesa
de Lins e Silva.
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