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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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ADMINISTRAÇÃO

Em apelo à PM e à Justiça, prefeita culpa sindicatos pela falta de ônibus nas ruas e pelo despejo de lixo

Marta se diz vítima de crime organizado

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do fim da greve dos motoristas, 71 mil paulistanos ainda são afetados pela falta de transporte devido a uma ação atribuída ao sindicato da categoria, ligado à Força Sindical. Na madrugada, caminhões de lixo são bloqueados, prejudicando a coleta. Nada menos do que 35 toneladas de lixo são jogadas nas ruas e em frente a um órgão da prefeitura, que culpa o sindicato da categoria, cujo diretor e mentor do protesto é filiado ao PT.
A prefeita Marta Suplicy (PT) reúne secretários, chama a imprensa e faz seu maior ataque público a motoristas, classificando as ações desencadeadas ontem contra usuários e sua administração como "políticas" e típicas do "crime organizado".
Essas foram cenas do capítulo de ontem de uma crise que, na segunda e na terça-feira, já fez 3,5 milhões de usuários sofrerem com a falta de transporte.
Marta afirmou que a prefeitura já fez a sua parte para conter a ação dos sindicatos e fez um apelo para a Justiça e a polícia agirem para acabar com problemas no transporte e na coleta de lixo.
A polícia disse que está agindo, e acusou a Guarda Civil Metropolitana de não colaborar para evitar depredações a ônibus registradas desde segunda-feira -ontem mais dois veículos foram destruídos. A guarda disse que a tarefa não é de sua responsabilidade.
Na Justiça, o caso já envolveu julgamento de que a greve de segunda e terça-feira, quando toda a cidade foi afetada, foi abusiva, mas o Ministério Público do Trabalho entende que o movimento -agora localizado- não acabou e pede nova decisão.
Na quarta, mais 100 mil pessoas ficaram sem ônibus porque coletivos de empresas descredenciadas não puderam ser substituídos -a prefeitura diz que o sindicato impede a saída dos ônibus, destruindo aqueles que arriscam deixar as garagens. Ontem, segundo a prefeitura, a tática prejudicou 71 mil usuários na zona leste.

Recado
Foi para usuários como esses que Marta mandou seu recado. "Segundo promotores, há indícios de conexão entre os dois sindicatos [de motoristas de ônibus e de caminhões de lixo". Isso caracteriza crime organizado. A cidade de São Paulo não pode tolerar esse tipo de comportamento por parte dos sindicatos", disse ela, cercada por secretários, na primeira coletiva do tipo desde o início da greve de motoristas, na segunda-feira.
A prefeitura não divulgou quais seriam os indícios de conexão, mas as duas entidades já tiveram integrantes em comum. Elas, no entanto, negam que suas ações tenham sido combinadas.
No caso dos caminhões do lixo, a prefeitura não deverá ter problemas até a tarde de hoje, segundo José Alves do Couto Toré, 50, diretor do sindicato dos motoristas de caminhões de coleta.
Segundo o diretor, que é petista, a categoria negocia o dissídio, mas resolveu suspender protestos que fez na madrugada por conta de uma audiência de conciliação marcada para hoje no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).
Ele negou ontem ter ligação com o sindicato dos motoristas de ônibus, embora já tenha presidido a entidade e seja ligado ao atual presidente, Edivaldo Santiago.
Toré também negou que o movimento seja político. Ele disse que a prefeitura foi eleita alvo dos protestos -também feitos em aterros e estações de transbordo- porque integra as negociações entre empregados e patrões e é a contratante do serviço.
Já o sindicato dos motoristas nega ter envolvimento com ações para impedir a circulação de ônibus, apesar de Santiago ter declarado na quarta-feira à Folha, em conversa gravada, que adotaria a estratégia.
Segundo ele, essa seria a arma do sindicato até a prefeitura negociar o futuro de 10.800 trabalhadores que podem ser demitidos de nove empresas descredenciadas na semana passada. O descredenciamento e o consequente risco de demissão foram os motivos da paralisação.
"Agora é um caso de polícia e de Justiça. A prefeitura está fazendo a sua parte", disse o secretário Jilmar Tatto (Transporte).


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