São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2005

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ADMINISTRAÇÃO

Em carta dirigida ao prefeito e enviada à Folha, Emanoel Araújo relata falta de infra-estrutura; tucano não comenta

Titular da Cultura deixa cargo e critica Serra

Matuiti Mayezo -18.jan.2005/Folha Imagem
O artista plástico Emanoel Araújo, que decidiu deixar ontem a equipe do prefeito José Serra


FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Cultura de São Paulo, Emanoel Araújo, 64, renunciou ao cargo ontem por meio de uma carta dirigida ao prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), e enviada exclusivamente à Folha.
Na carta de seis páginas, o agora ex-secretário de Cultura justifica sua saída da pasta. O documento, no entanto, não foi enviado por ele a Serra, que não quis comentar a demissão -primeira baixa da administração tucana na cidade.
Celebrado no meio cultural como autor da transformação da Pinacoteca do Estado nos anos 90, o artista plástico e curador Emanoel Araújo foi pivô de polêmicas com os tucanos desde que foi anunciado como futuro gestor da pasta da Cultura do governo Serra.
Durante o período de transição, Araújo não escondeu seu apoio à candidatura de Marta Suplicy (PT) à reeleição. Depois de assumir a pasta, rivalizou publicamente com a gestora estadual da Cultura, Cláudia Costin.
A gota d'água da demissão de Araújo, no entanto, ocorreu na última sexta-feira, durante reunião de Serra com seu secretariado para avaliação dos cem primeiros dias de governo.
Na ocasião, o prefeito -conhecido por seu perfil centralizador- anunciou duas medidas na área da cultura que Araújo, então secretário da pasta, desconhecia: a instalação do acervo do MAC (Museu de Arte Contemporânea) e a ampliação do MAM (Museu de Arte Moderna) no pavilhão da Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município) no parque Ibirapuera e uma articulação entre a prefeitura e a Fundação Roberto Marinho para criar dois museus (o Museu da Criança e o Museu do Futebol) no Quintal da Luz (centro).
"Devolvo-lhe esta secretaria desejando que se faça mesmo o Museu da Criança na "cracolândia", mas rogo que não se esqueça de incluir nesse espaço essas crianças abandonadas ao infortúnio da sorte", escreveu Araújo.
"Faça o Museu do Futebol, mas não esqueça a Pinacoteca Municipal guardada na reserva técnica do Centro Cultural São Paulo", provocou o ex-secretário.
"Coloque na Prodam o MAM e o MAC (...). Faça-o como se faz usualmente com o arranjo de um quarto de despejo, mas não toque com sua impropriedade no Museu Afro-Brasil porque este é uma conquista de anos", ameaçou.
Foi no Museu Afro-Brasil, do qual Araújo é criador e diretor, que o desentendimento entre Serra e o ex-secretário ficou evidente. No sábado, convidado para o lançamento do catálogo "Brasileiro, Brasileiros", Serra não apareceu.
Na carta dirigida ao prefeito, Araújo discorre sobre a infra-estrutura da secretaria -que chama de "espaço tratado como pocilga"- e ataca seu antecessor, o secretário da gestão Marta Suplicy (PT), Celso Frateschi.
"A minha saída justifica-se por ter sido internado sem nenhuma infra-estrutura numa secretaria desprovida de recursos humanos, "apagando incêndios" deixados pelo meu antecessor, que eu, ingenuamente, desconhecia. Mas, como ele é ator, soube interpretar muito bem o seu papel."


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