São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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A 2 km do morro do Bumba, outro lixão amedronta os moradores

80 casas ficam em torno do depósito no morro do Céu; moradores reclamam de movimentação de terra e do cheiro do chorume

Prefeitura interditou lixão provisoriamente na última semana após deslizamentos; local recebia cerca de mil toneladas de lixo por dia


FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

A dois quilômetros do morro do Bumba, em Niterói (Grande Rio), onde funcionou um lixão que desabou e soterrou cerca de 50 casas, outro depósito de lixo já formou uma montanha de detritos com 190 metros de altura que ameaça as casas do entorno, denunciam vizinhos.
O depósito, cujo nome oficial é aterro controlado morro do Céu, é o único em atividade no município. Funciona desde 1983 e, segundo a Clin (Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói), que o administra, será desativado em um ano. Por enquanto, ainda recebia mil toneladas de lixo por dia. Anteontem, após dois deslizamentos, a prefeitura decidiu interditá-lo provisoriamente.
Ninguém mora sobre o depósito, mas ao redor dele existem cerca de 80 casas construídas legalmente. A maioria foi erguida antes que a área se tornasse um depósito de lixo.
"Quando era criança, isso aqui era um sítio. Tinha pomar, animais e até um córrego", conta o pedreiro Dario Gomes de Farias, 45, que vive no bairro desde que nasceu. "Hoje, o cheiro de chorume [resíduo líquido formado a partir da decomposição da matéria orgânica presente no lixo] sai pelos ralos, dentro das casas, e toda hora chega mais lixo."
Segundo os moradores, o sítio foi desapropriado pela prefeitura para ser transformado em depósito de lixo e permitir a desativação do lixão que funcionava no morro do Bumba.
Os vizinhos dizem que, embora o depósito tenha um sistema de coleta do chorume, parte da substância verte a céu aberto, pelo asfalto.
"Quando chove, o sistema de coleta não dá conta e o chorume escorre pela rua, deixando um cheiro insuportável e atraindo um monte de mosquitos", diz a costureira Vera Lúcia Correa, 55, vizinha do depósito.
Embora a casa dela não fique sobre o depósito, a costureira conta que o material em decomposição já comprometeu o solo. "Minha casa não fica em cima de morro, mas há seis meses três cômodos desabaram. Precisei me mudar, mas meu pai, que tem 80 anos, não quer sair de lá de jeito nenhum."
A costureira afirma que não compensa reformar a casa, porque o imóvel está sendo desapropriado. "Há três anos, na administração anterior, a prefeitura iniciou um processo de desapropriação de cerca de 80 casas ao redor do lixão, mas só quatro donos foram indenizados. O prefeito mudou e a história ficou indefinida. Até agora não recebemos nada", diz. Consultada, a prefeitura afirmou apenas que vai comprar 11 casas situadas ao redor do aterro.
Ontem, Vera e outros moradores vizinhos do depósito fizeram um protesto no morro do Bumba, anunciando o temor de serem soterrados.
Sobre o aterro só existem três construções de madeira que, segundo a empresa administradora, servem como depósitos para catadores de lixo reciclável. "Não há nenhum risco de desabamento, e todo o chorume é recolhido e tratado", diz a empresa Clin, responsável pelo depósito de lixo.
Segundo a Clin, o aterro é chamado controlado justamente porque não permite a saída do chorume e está em "processo de desativação".


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