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A 2 km do morro do Bumba, outro lixão amedronta os moradores
80 casas ficam em torno do depósito no morro do Céu; moradores reclamam de movimentação de terra e do cheiro do chorume
Prefeitura interditou lixão provisoriamente na última semana após deslizamentos; local recebia cerca de mil toneladas de lixo por dia
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
A dois quilômetros do morro
do Bumba, em Niterói (Grande
Rio), onde funcionou um lixão
que desabou e soterrou cerca
de 50 casas, outro depósito de
lixo já formou uma montanha
de detritos com 190 metros de
altura que ameaça as casas do
entorno, denunciam vizinhos.
O depósito, cujo nome oficial
é aterro controlado morro do
Céu, é o único em atividade no
município. Funciona desde
1983 e, segundo a Clin (Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói), que o administra, será desativado em um ano.
Por enquanto, ainda recebia mil
toneladas de lixo por dia. Anteontem, após dois deslizamentos, a prefeitura decidiu interditá-lo provisoriamente.
Ninguém mora sobre o depósito, mas ao redor dele existem
cerca de 80 casas construídas
legalmente. A maioria foi erguida antes que a área se tornasse
um depósito de lixo.
"Quando era criança, isso
aqui era um sítio. Tinha pomar,
animais e até um córrego", conta o pedreiro Dario Gomes de
Farias, 45, que vive no bairro
desde que nasceu. "Hoje, o
cheiro de chorume [resíduo líquido formado a partir da decomposição da matéria orgânica presente no lixo] sai pelos
ralos, dentro das casas, e toda
hora chega mais lixo."
Segundo os moradores, o sítio foi desapropriado pela prefeitura para ser transformado
em depósito de lixo e permitir a
desativação do lixão que funcionava no morro do Bumba.
Os vizinhos dizem que, embora o depósito tenha um sistema de coleta do chorume, parte
da substância verte a céu aberto, pelo asfalto.
"Quando chove, o sistema de
coleta não dá conta e o chorume escorre pela rua, deixando
um cheiro insuportável e
atraindo um monte de mosquitos", diz a costureira Vera Lúcia
Correa, 55, vizinha do depósito.
Embora a casa dela não fique
sobre o depósito, a costureira
conta que o material em decomposição já comprometeu o
solo. "Minha casa não fica em
cima de morro, mas há seis meses três cômodos desabaram.
Precisei me mudar, mas meu
pai, que tem 80 anos, não quer
sair de lá de jeito nenhum."
A costureira afirma que não
compensa reformar a casa, porque o imóvel está sendo desapropriado. "Há três anos, na administração anterior, a prefeitura iniciou um processo de desapropriação de cerca de 80 casas ao redor do lixão, mas só
quatro donos foram indenizados. O prefeito mudou e a história ficou indefinida. Até agora
não recebemos nada", diz. Consultada, a prefeitura afirmou
apenas que vai comprar 11 casas situadas ao redor do aterro.
Ontem, Vera e outros moradores vizinhos do depósito fizeram um protesto no morro do
Bumba, anunciando o temor de
serem soterrados.
Sobre o aterro só existem
três construções de madeira
que, segundo a empresa administradora, servem como depósitos para catadores de lixo reciclável. "Não há nenhum risco
de desabamento, e todo o chorume é recolhido e tratado", diz
a empresa Clin, responsável
pelo depósito de lixo.
Segundo a Clin, o aterro é
chamado controlado justamente porque não permite a
saída do chorume e está em
"processo de desativação".
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