São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011 |
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As escolas são altamente vulneráveis, diz pesquisador Mesmo sabendo que ataques como o de Realengo são imprevisíveis, filósofo da UFMG defende mais segurança nas escolas EMILIO SANT'ANNA DE SÃO PAULO Em um país sem controle sobre o uso e a venda ilegal de armas de fogo, a sociedade está longe de conseguir se prevenir de ataques e atos de violência como o de Realengo, no Rio, semana passada. Para o filósofo e pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp) Robson Sávio Reis Souza, a associação de várias falhas levou ao massacre. Leia trechos da entrevista. Folha -O que vai mudar nas escolas após esse ataque? Elas estão preparadas para situações de emergência? Robson Sávio Reis Souza - A previsibilidade desse tipo de evento é nula. Porém, nossas escolas são altamente vulneráveis. A maioria não possui medidas de proteção básicas, como a presença de um porteiro para controlar suas entradas. Armas de fogo têm sido apreendidas com frequência dentro das escolas brasileiras. Dado que os jovens são as principais vítimas e autores dos crimes, é preciso, principalmente no ensino médio, adotar medidas de proteção e mecanismos de vigilância formal e informal, sem transformar as escolas em instituições isoladas da sociedade. Em que medida isso é um reflexo dos atentados em escolas americanas? O que há em comum nos dois países é a imensa disponibilidade de armas de fogo e munições disponíveis à sociedade. Nesse sentido, os poderes públicos têm responsabilidade pelo descontrole do armamento em poder das pessoas. Armas disponíveis e sem controle são estopim para violência. Como a escola reflete a violência em seu entorno? A escola não está isolada do contexto de violência social. Não podemos defender a ideia segundo a qual as escolas devem se tornar uma ilha, apartada da sociedade. Quanto mais isoladas da comunidade, dos pais, de seu entorno, mais vulneráveis ficam as escolas. À medida que a comunidade se apropria da escola, há uma relação de reciprocidade, aumentando a coesão social em torno da instituição de ensino, ampliando, inclusive os mecanismos de vigilância informal indispensáveis para um ambiente mais seguro. É possível acreditar que a escola pode identificar e alertar as famílias casos de alunos propensos a violência? Não podemos pensar que a escola é a única responsável por todos os males sociais, atribuindo-lhe uma função redentora. Mas, certamente, a comunidade escolar precisa ir além do feijão com arroz que é oferecido aos estudantes, uma educação meramente formal, longe de dialogar e problematizar os grandes dilemas que enfrentam nossas crianças, jovens e famílias no seu cotidiano. A escola precisa adotar novas e criativas metodologias que possibilitem um diálogo mais intenso e sincero com os estudantes e seus familiares. Esse tipo de prática poderia redundar não somente na proteção e defesa dos alunos e professores, mas fundamentalmente numa educação preocupada não somente com a autonomia dos indivíduos, mas também com as responsabilidades que todos temos na construção de uma sociedade pacífica, onde há espaço para as diferenças e onde a convivência respeitosa seja um valor fundante das relações sociais. Texto Anterior: Casa de assassino é depredada pelo 2º dia seguido Próximo Texto: Granizo causa estragos no DF Índice | Comunicar Erros |
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