São Paulo, sábado, 11 de abril de 1998

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JUSTIÇA
Brasileiro nega crimes de que foi acusado, diz que não conhecia a vítima e que não retornará mais a Portugal
Padre fugitivo quer trabalhar com carentes

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Fugitivo de uma prisão portuguesa, o padre brasileiro Frederico Marques da Cunha, 47, vai procurar a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) para trabalhar junto a populações carentes.
Cunha está na casa da mãe, Leonor, em Copacabana (zona sul do Rio). Ele disse que não voltará a Portugal.
Em 1993, o padre foi condenado na ilha da Madeira a 13 anos de prisão pela acusação de matar e agredir sexualmente Luís Correia, 15. Ele disse ontem à Folha que não conhecia a vítima.

Folha - O que o sr. fará no Brasil?
Frederico Marques da Cunha -
Vou esperar as conclusões das investigações particulares que estão sendo feitas. Depois, escreverei um livro, que será publicado dentro de seis meses a um ano por uma editora portuguesa.
Folha - Que investigações são essas?
Cunha -
Não posso dizer quem está investigando. São pessoas ligadas ao meio judiciário.
Folha - O sr. vai procurar a Igreja Católica?
Cunha -
Depois da Semana Santa, vou procurar a CNBB para esclarecer minha situação. Vou pedir para ser indicado para dioceses mais carentes.
Folha - O sr. quer continuar trabalhando na igreja?
Cunha -
Sim, estou querendo trabalhar.
Folha - A acusação que resultou em sua condenação é verdadeira?
Cunha -
É uma fraude completa e absoluta. Fui condenado com base em provas testemunhais falsas. Disseram que me viram com o rapaz que morreu às 20h em um miradouro (mirante).
Folha - E o sr. não estava lá?
Cunha -
Estava dentro do carro com um outro rapaz. As testemunhas estavam longe. Não poderiam dizer que o rapaz que estava comigo era o que morreu. Não dava para ver. Esse rapaz que morreu jogava bilhar às 20h em um bar a muitos quilômetros dali. O dono do bar falou isso no tribunal. Às 21h, em outro bar, esse rapaz comprou um sanduíche. O dono desse bar também testemunhou.
Folha - Esse rapaz foi visto depois disso?
Cunha -
Cem por cento dos moradores da aldeia sabem que sou inocente. Esse rapaz foi visto até a meia-noite.
Folha - O sr. o conhecia?
Cunha -
Nunca vi esse rapaz na vida.
Folha - Como o sr. fugiu da prisão?
Cunha -
Eu saí da cadeia. Não fugi. Eles abriram a porta, eu saí e não voltei. Não sou idiota. Não vou ficar pagando por um crime que não cometi.
Folha - O sr. pensa em voltar para Portugal?
Cunha -
Não voltarei.
Folha - O sr. chegou quando ao Rio?
Cunha -
Estou aqui desde o dia 5, mas não vou vou revelar meu roteiro.
Folha - O sr. é acusado também de práticas homossexuais. Foram apreendidas fotos pornográficas em sua casa?
Cunha -
Não há homossexualidade. As fotos eram de um afilhado (José Martins) que morava comigo e é maior de idade (26 anos). Não sabia que ele tinha essas fotos.



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