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JUSTIÇA
Brasileiro nega crimes de que foi acusado, diz que não conhecia a vítima e que não retornará mais a Portugal
Padre fugitivo quer trabalhar com carentes
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Fugitivo de uma prisão portuguesa, o padre brasileiro Frederico
Marques da Cunha, 47, vai procurar a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) para trabalhar junto a populações carentes.
Cunha está na casa da mãe, Leonor, em Copacabana (zona sul do
Rio). Ele disse que não voltará a
Portugal.
Em 1993, o padre foi condenado
na ilha da Madeira a 13 anos de
prisão pela acusação de matar e
agredir sexualmente Luís Correia,
15. Ele disse ontem à Folha que
não conhecia a vítima.
Folha - O que o sr. fará no Brasil?
Frederico Marques da Cunha -
Vou esperar as conclusões das investigações particulares que estão
sendo feitas. Depois, escreverei
um livro, que será publicado dentro de seis meses a um ano por uma
editora portuguesa.
Folha - Que investigações são essas?
Cunha - Não posso dizer quem
está investigando. São pessoas ligadas ao meio judiciário.
Folha - O sr. vai procurar a Igreja
Católica?
Cunha - Depois da Semana
Santa, vou procurar a CNBB para
esclarecer minha situação. Vou
pedir para ser indicado para dioceses mais carentes.
Folha - O sr. quer continuar trabalhando na igreja?
Cunha - Sim, estou querendo
trabalhar.
Folha - A acusação que resultou
em sua condenação é verdadeira?
Cunha - É uma fraude completa
e absoluta. Fui condenado com base em provas testemunhais falsas.
Disseram que me viram com o rapaz que morreu às 20h em um miradouro (mirante).
Folha - E o sr. não estava lá?
Cunha - Estava dentro do carro
com um outro rapaz. As testemunhas estavam longe. Não poderiam dizer que o rapaz que estava
comigo era o que morreu. Não dava para ver. Esse rapaz que morreu
jogava bilhar às 20h em um bar a
muitos quilômetros dali. O dono
do bar falou isso no tribunal. Às
21h, em outro bar, esse rapaz comprou um sanduíche. O dono desse
bar também testemunhou.
Folha - Esse rapaz foi visto depois disso?
Cunha - Cem por cento dos
moradores da aldeia sabem que
sou inocente. Esse rapaz foi visto
até a meia-noite.
Folha - O sr. o conhecia?
Cunha - Nunca vi esse rapaz na
vida.
Folha - Como o sr. fugiu da prisão?
Cunha - Eu saí da cadeia. Não
fugi. Eles abriram a porta, eu saí e
não voltei. Não sou idiota. Não vou
ficar pagando por um crime que
não cometi.
Folha - O sr. pensa em voltar para Portugal?
Cunha - Não voltarei.
Folha - O sr. chegou quando ao
Rio?
Cunha - Estou aqui desde o dia
5, mas não vou vou revelar meu
roteiro.
Folha - O sr. é acusado também
de práticas homossexuais. Foram
apreendidas fotos pornográficas
em sua casa?
Cunha - Não há homossexualidade. As fotos eram de um afilhado (José Martins) que morava comigo e é maior de idade (26 anos).
Não sabia que ele tinha essas fotos.
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