São Paulo, sábado, 11 de abril de 1998

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RELIGIÃO
Milhares de pessoas querem a "pílula mágica" do primeiro brasileiro beatificado pelo Papa João Paulo 2º
Túmulo de Frei Galvão atrai multidão a SP

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Cerca de 3.000 pessoas aguardam em fila para visitar o túmulo do beato Frei Galvão, no Mosteiro da Luz (centro da cidade)


RITA NAZARETH
da Reportagem Local

A beatificação do Frei Galvão (1739-1822) pelo Papa João Paulo 2º na semana passada tem feito o número de visitantes ao Mosteiro da Luz (centro de São Paulo), onde está seu túmulo, passar de algumas centenas para 3.000 por dia.
Aproveitando a Páscoa, muitos fiéis vêm de outras cidades e Estados atrás de medalhas, santinhos de papel e água benta. O que mais atrai, no entanto, é uma "pílula" de papel com poderes de cura.
A pílula, criada pelo Frei Galvão, contém uma oração em devoção à Virgem Maria e é distribuída principalmente às mulheres grávidas, para que não corressem perigos na gravidez. Hoje, ela é confeccionada pelas 14 freiras do mosteiro.
"Com a beatificação, no entanto, muitas pessoas estão atribuindo um poder mágico à pílula e vêm buscá-la aqui apenas por isso", disse ontem uma das freiras que coordena os registros de milagres do beato, a irmã Cláudia de Santa Beatriz. "Mas se não houver fé, não há pílula que resolva."
Segundo a irmã Cláudia, a Igreja registrou, desde 1938, mais de 30 mil milagres no mundo inteiro, que teriam sido realizados com orações a Frei Galvão. "A maior parte deles se refere a questões de saúde", diz a irmã. "Mas há também quem peça ajuda a questões econômicas ou familiares."
Ontem, cerca de 3.000 pessoas chegaram a esperar de duas a três horas em uma fila na porta do mosteiro para receber a pílula. A maioria queria a pílula apenas para pedir proteção à família.
"Viemos de Araras (170 km de SP) porque soubemos que o santo é milagroso", disse o comerciante Natal Turatti, que levou mais seis pessoas de sua família. "Mas não temos nenhum problema grave."
Já a economista Cláudia Coreixes, 50, veio do Rio de Janeiro para pegar a pílula para o filho de uma amiga. "Ele tem 13 anos e há três descobriu que estava com uma doença degenerativa."
Beato brasileiro
Embora o país tenha mais religiosos considerados beatos pela Igreja, frei Antônio de Sant'Anna Galvão é o primeiro brasileiro.
Nascido em Guaratinguetá (SP), Frei Galvão foi ordenado padre aos 23 anos. O milagre que levou o Vaticano a reconhecer a beatificação ocorreu há cerca de oito anos.
Internada na UTI do Hospital Emílio Ribas com hepatite aguda, Daniela Cristina da Silva, 12, já estava desenganada pelos médicos quando tomou algumas das pílulas de frei Galvão e ficou curada.
Para que frei Galvão seja canonizado, mais um milagre precisará ser reconhecido pelo Vaticano.
Nenhum dos outros dois beatos do Brasil -a madre Paulina (1865-1942) e o padre José de Anchieta (1534-1597)- foram considerados santos.



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