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CABIDE DE EMPREGO
Média ideal para a administração pública é de 8%; enxuta, CET ajuda a melhorar o desempenho geral
Cohab tem 2 vezes mais cargos de confiança
da Reportagem Local
Os cargos de confiança nas empresas municipais paulistanas chegam a 24,2% do total de funcionários, caso da Cohab. Na média, isso
significa um chefe para cada três
funcionários concursados.
Trata-se de uma distorção.
O ideal para a administração pública em geral é de cerca de 8%, segundo Carlos César Pimenta, ex-secretário nacional de logística do
Ministério da Administração e Reforma do Estado, hoje consultor
do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento).
Entre as cinco estatais municipais que responderam ao questionário da Folha, a média é de 10%
de cargos de confiança. Mas o número foi melhorado pela CET.
A empresa, a mais numerosa e
dona do quadro mais enxuto, destina só 2,7% de seu quadro para
funcionários de confiança. Mesmo
assim, as indicações políticas prevalecem (leia texto na página 4).
A proporção ideal de cargos de
confiança varia conforme a atividade da empresa. Empresas mais
técnicas precisam de mais chefes,
porque a fiscalização é mais sofisticada e rígida.
Mas nem em bancos privados,
onde é preciso máxima fiscalização sobre a movimentação do dinheiro, há legiões de chefes como
nas estatais paulistanas. Nos bancos, diz Pimenta, um chefe cuida
de quatro funcionários facilmente.
A distorção no número de cargos
de confiança é agravada ainda pelo
fato de que todas as estatais terceirizam diversos serviços, o que reduz a necessidade de chefes.
A Cohab, apesar de ter um chefe
para cada três funcionários, terceiriza diversos serviços, como o de
vigilância patrimonial, a cargo da
Entel Segurança.
A assessoria de imprensa da Cohab informou que a receita da empresa é fiscalizada pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação), o
que impede distorções.
Já a SPTrans, que tem 15,65% de
funcionários de confiança, terceiriza os serviços de limpeza, segurança e manutenção geral.
Cedidos
A imagem de "cabides de emprego" das empresas da prefeitura
paulistana ganha reforço pelo
grande número de funcionários
contratados nessas estatais e utilizado em outros órgãos.
Na Prodam, auditoria de 1997 do
Tribunal de Contas do Município
apontou que mais de 600 funcionários contratados pela empresa
trabalhavam na administração direta, na Câmara Municipal e em
outros departamentos.
Hoje, a empresa admite que cede
apenas 19 funcionários, 9 deles para o próprio TCM. Os outros 10 estão emprestados para a Câmara.
Na SPTrans, os funcionários
transferidos são 63, e chegam aos
altos escalões da administração,
como o gabinete do vice-prefeito
Régis de Oliveira.
Nesse caso, além de alimentar o
cabide, a contratação é irregular,
pois a estatal não tem o convênio
necessário para a transferência de
funcionários ao Executivo, conforme admite o ex-presidente da empresa, Francisco Christovam.
Salários
As distorções nas estatais municipais atingem outro ponto fundamental: o salário.
Para o professor Helio Janny Teixeira, que trabalha para a FIA
(Fundação Instituto de Administração da Faculdade de Economia
e Administração da USP), os maiores salários são destinados para a
gerência estratégica da empresa,
formada pela presidência e pela diretoria. São, em geral, cerca de dez
pessoas.
Mas há empresas da prefeitura,
como a SPTrans, que paga R$
7.087, o maior salário de seu quadro de pessoal, para 34 pessoas.
É mais do que os R$ 6.000 que ganha o prefeito Celso Pitta, considerado o teto salarial para o funcionalismo do Executivo.
"Os salários acima do teto do
funcionalismo são o principal incentivo à contratação de pessoal
fora da administração direta", diz
Teixeira.
Nesse quesito, a líder entre as estatais é a CET, cujo presidente ganha R$ 8.269. A Emurb, segunda
colocada nesse item, destina R$
7.744 para o presidente e outros
quatro diretores. Já a Cohab paga
seu maior salário, de R$ 7.254, ao
chefe da assessoria jurídica.
A Prodam não informou a quantas pessoas paga seu maior salário,
de R$ 7.555.
Transparência
Para Pimenta, do BID, e Teixeira,
da FIA, a solução das distorções é a
cobrança de metas das empresas.
Os dois profissionais especializados em administração pública dizem que a imposição de regras e
exigências diminui a eficiência da
empresa pública ou de economia
mista. Isso, aliado à transparência
nas informações, pode trazer melhores resultados.
"Têm que ser criados indicadores de desempenho. Exigir produtividade com qualidade e a um custo competitivo é melhor do que
proibi-la de contratar determinado serviço ou funcionário", diz
Teixeira.
(RODRIGO VERGARA)
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