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Quase extinta, malária ressurge em SP
Em seis meses, cidade registrou 67 casos da doença, normalmente associada aos grotões, contra apenas 6 de 1990 até o início de 2006
Foco da doença foi descoberto no final de 2006; casos concentram-se na zona sul, e desmatamento
é uma das hipóteses
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Doença normalmente associada aos grotões do país, a malária sofreu uma explosão de
casos entre o último trimestre
de 2006 e março na cidade de
São Paulo. No período, foram
confirmados 67 casos, contra
seis de 1990 até o terceiro trimestre do ano passado.
Além de São Paulo, houve
transmissão de casos (chamados autóctones) neste ano em
apenas outras cinco cidades do
Estado -Bertioga, Juquitiba,
Mogi-Guaçu, Pariquera-Açu e
Rifaina. Em 2007, houve um
caso em cada uma delas.
Duas hipóteses, levantadas
por especialistas no assunto e
pela Secretaria de Estado da
Saúde, explicam o aumento.
A primeira é desmatamento,
que leva as pessoas a entrar em
contato com o mosquito transmissor -a zona sul da cidade de
São Paulo, local onde se concentram os casos, é a principal
região de mata da cidade e alvo
de ocupações irregulares.
A outra explicação cogitada é
a melhoria do sistema de notificações do problema.
Zona sul
Desde a década de 90, o recorde de doenças foi registrado
em 1986, quando houve 75 confirmações. Com exceção do ano
passado, não havia mais de 30
casos no Estado desde 1993.
O foco em São Paulo foi descoberto no final de 2006 pela
Secretaria Municipal de Saúde.
Na época, um grupo foi acampar nas matas de Marsilac (zona sul), dentro da serra do Mar,
e voltou com sintomas, como
febre, dor de cabeça e calafrios.
Nas formas mais leves, quando a infecção se dá de maneira
branda, podem ocorrer casos
em que o doente jamais apresenta o sintoma. A exemplo da
dengue, a transmissão da malária ocorre quando um mosquito pica um portador da doença
e depois ataca a pessoa sadia.
Como a serra é considerada
região endêmica do mosquito
transmissor da malária, a secretaria e a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) fizeram uma busca para
rastrear todos os casos suspeitos da doença.
Em cerca de seis meses, foram encontrados os 67 casos,
todos da forma mais branda da
malária, provocada pelo Plasmodium vivax, em que o período de incubação (após a picada)
vai de oito a 30 dias. Os sintomas se prolongam por, em média, duas semanas.
Os casos de malária em São
Paulo não são motivo para alarme, diz a diretora do CVE
(Centro de Vigilância Epidemiológica) da Secretaria de Estado da Saúde, Cilmara Polido
da Silva. Segundo ela, não houve registro de morte nem de casos mais graves da doença.
"Esses registros não podem
ser considerados um problema
de saúde pública, como ocorre
com a dengue", disse Cilmara.
O risco maior é para mulheres grávidas, pois a malária pode representar risco de vida
tanto para a mãe como para o
feto, principalmente se o diagnóstico for tardio, pois o tratamento deve ser iniciado logo
após os primeiros sintomas.
O médico infectologista Luiz
Jacintho da Silva, ex-superintendente da Sucen, afirma que
o número de casos pode ser
maior, pois os médicos do Estado não dispõem, na maioria das
vezes, de treinamento adequado para realizar o diagnóstico.
Esse mesmo problema já havia sido apontado em um trabalho divulgado em agosto de
2006 pelo CVE. Na maioria das
vezes, o exame de laboratório
só é pedido quando o paciente
relata ter ido a um local em que
a doença é endêmica. "Um sobrinho meu ficou duas semanas pensando estar com dengue. Era malária, que ele havia
adquirido em São Sebastião [litoral norte de SP]", disse.
Prevenção
A diretora do CVE afirma que
praticamente não há como prevenir a malária a não ser detectando rapidamente os casos e
fornecendo tratamento adequado aos doentes.
Há risco de o parasita ficar
alojado no corpo e voltar à corrente sangüínea, reiniciando o
ciclo de transmissão.
Para se prevenir contra a malária é necessário evitar matas
fechadas entre o entardecer e a
madrugada e, em trilhas, usar
roupas e repelentes que dificultem picadas de insetos.
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