São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Vítimas da pílula de farinha tiveram filhos sem arrependimento

Há uma década, mulheres se tornaram mães sem querer após terem ingerido anticoncepcional que não fazia efeito

À época, o laboratório admitiu que, em vez de hormônio, as pílulas foram feitas de farinha para testar novas máquinas

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Pablo, 10, Isabela, 9, Paulinha, 9. Quatro crianças que nasceram entre 1998 e 1999 de gestação não planejada, embora todas tenham crescido cercadas de amor e cuidado. As mães se viram protagonistas involuntárias de um escândalo que mobilizou a sociedade brasileira há uma década: um lote do anticoncepcional Microvlar, contendo farinha, foi comercializado por engano.
Surpreendidas, elas optaram por levar adiante a gravidez e não se arrependem. "Foi muito difícil ter um bebê num momento em que não esperava nem podia. Mas amo muito minha caçulinha", diz a dona-de-casa Vanda Maria Bruini, 42, mãe de Isabela.
À época, o laboratório admitiu que, em vez de hormônio, as pílulas foram feitas de farinha para serem usadas como teste de novas máquinas, mas foram extraviadas e comercializadas. Cerca de 2 toneladas de pílula sem efeito anticoncepcional foram produzidas.
As famílias tiveram que aprender a lidar com as repercussões cotidianas do escândalo, de modo a não deixar que a pílula de farinha continuasse a causar mais danos.
Até hoje o estudante Pablo ainda não entende direito uma brincadeira dos coleguinhas da época do prezinho. Na hora do lanche, as crianças começavam a chamá-lo de ""neném de farinha". Depois de ouvir a primeira referência explícita ao caso, ele chegou em casa e quis saber foi o motivo do tal apelido, motivado por uma reportagem de TV. "Farinha do quê? De bolacha?", perguntou o menino.
Desde aquela tarde de verão de 2003, a mãe de Pablo, a manicure Renata Ramon Mingorance, 34, vem, a conta-gotas, tentando explicar a razão da alcunha. "As pílulas, filho, que a mamãe tomava para não ter bebê, continham farinha. Não medicamento."
Outro cuidado importante é deixar claro a diferença entre uma gravidez inesperada e uma indesejada. "Não posso maquiar essa história maluca. Mas reafirmo o tempo todo que a família é apaixonada por ela", diz, emocionada a advogada Adriana Lopes da Silva, 38, mãe de Paulinha, uma dos filhas do "baby boom" de farinha.


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