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DANUZA LEÃO
Dois mundos
Quando a seleção entrou em campo, o mundo se dividiu: de um lado, as mulheres,
do outro, os homens
COMO TERÇA-FEIRA é a estréia
do Brasil, lembrei de um dia
em que, na última Copa, fui
ver o jogo na casa de um amigo que
tinha um telão. Os homens gostariam que as mulheres não fossem
para não atrapalhar, sabendo que no
país inteiro só umas 15 entendem de
futebol, mas elas foram.
Quando a seleção entrou em campo, o mundo se dividiu: de um lado,
as mulheres, do outro, os homens.
Eram dois universos, e era só olhar
para entender a diferença dos sexos.
Os homens eram o símbolo do
mundo masculino: largados com
uma cerveja na mão, os olhos grudados na televisão, para eles não existia nada, a não ser o jogo. Se a TV
desse um plantão informando que o
mundo estava se acabando, eles
nem veriam. Estavam na deles, como só eles são capazes de ficar.
Se o telefone tocasse e fosse um
recado de casa urgente, diriam, tranqüilamente -sem mexer a cabeça
nem os olhos-, "pede para ligar
mais tarde". Macho é assim, e se por
acaso chegasse aquela mulher que
faz jogo duro há anos e sentasse do
lado de um deles, de shortinho, coxa
com coxa, nenhum deles perceberia.
A única coisa que interessava era saber se houve ou não impedimento.
Enquanto a bola rolava, as mulheres conversavam. Falavam de quê?
Deles, é claro. De como não entendem que os homens sejam tão loucos por futebol, que só pensam nisso, que nem nos momentos mais
desvairados de amor eles se concentram tanto.
No dia em que a seleção joga, nem
Simone de Beauvoir e Sartre, juntos,
seriam capazes de convencer alguém de que homens e mulheres
são iguais, até porque não são. Homem só consegue fazer uma coisa de
cada vez; já a mulher consegue fazer
várias ao mesmo tempo. Está acostumada a atender o telefone e abrir a
geladeira -com o filho no colo- e
simultaneamente dar uma olhada
na televisão. Se está com os filhos,
está pensando no homem, e se está
com o homem, está pensando nos filhos -sempre com uma ponta de
culpa, é claro.
Nenhuma atividade consegue fazer com que uma mulher se desligue
totalmente do mundo; quando amamenta seu filho, talvez. Mas mesmo
nessa hora ela é capaz de olhar para
as unhas e lembrar que precisa ir à
manicure, mandar fazer a bainha da
saia e passar no supermercado.
Quando está em casa, costuma ter
uns surtos de nostalgia, pensando
nos bons tempos em que, àquela hora, estava dando pinta num bar tomando um dry martini, com as pernas cruzadas e um salto bem alto.
Mas se está no bar, tomando o mesmo dry martini com que sonhou
tanto, liga o tempo todo para casa
para saber como estão as crianças.
Talvez isso aconteça porque a
imaginação feminina é mais fértil
que a de qualquer homem. As mulheres são inquietas, ardentes, e não
conseguem, jamais, ficar durante 90
minutos vendo 22 marmanjos correndo atrás de uma bola; conseqüentemente, não podem entender
como eles ficam paralisados quando
a seleção entra em campo. O máximo que conseguem, em matéria de
futebol, é discutir sobre qual o jogador mais bonito do time do Brasil.
Mesmo assim, ainda há quem
ache possível haver solução para o
problema homem/mulher. Solução
não existe, mas que é um passatempo muito interessante ficar tentando, lá isso é.
E terça-feira vai ser igualzinho,
como em todos os jogos de todas as
Copas.
danuza.leao@uol.com.br
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