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"Sei que não vou fazer nada da vida mesmo", afirma Caio, 17
DA SUCURSAL DO RIO
"Sonho? Não passa pela minha cabeça. [Pensa por alguns
segundos] Não passa nada na
minha cabeça, "papo reto". Não
fico pensando em fazer nada
[da vida], não. Sei que não vou
fazer mesmo", diz Caio, 17.
Sem sonhos, os rapazes que
crescem no tráfico, sob constante uso de drogas, são jovens
envelhecidos precocemente,
que não acreditam no futuro.
Autor de um homicídio por
dívida de drogas, Caio começou
a usar maconha aos nove anos,
escondido. Aos 11, já fumava na
"boca", ao lado dos traficantes.
"Um dia peguei o radinho. O
cara falou: "Segura aí, rapidinho". Era para "bater um fio" se
os "home" viessem. Comecei ganhando R$ 150 por semana. Aí,
depois, peguei carga (droga) para vender", conta.
A trajetória dele é comum
aos meninos no tráfico. A atuação deles como "radinhos" ou
"olheiros" é uma das portas de
entrada. Outra é o papel de
aviãozinho, em que o menino
faz favores para a quadrilha
-como comprar lanches e refeições- e ganha gorjetas.
Como muitos outros, Caio tinha parente no tráfico, seu tio,
que abandonou o crime, diz.
Diogo, 16, Fabrício, 17, e Fernando, 18, foram iniciados no
tráfico pelos próprios irmãos.
O pesquisador inglês Luke
Dowdney relatou num livro
que 40% dos jovens que entrevistou diziam ter parentes envolvidos no tráfico.
(RG)
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