São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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"Sei que não vou fazer nada da vida mesmo", afirma Caio, 17

DA SUCURSAL DO RIO

"Sonho? Não passa pela minha cabeça. [Pensa por alguns segundos] Não passa nada na minha cabeça, "papo reto". Não fico pensando em fazer nada [da vida], não. Sei que não vou fazer mesmo", diz Caio, 17.
Sem sonhos, os rapazes que crescem no tráfico, sob constante uso de drogas, são jovens envelhecidos precocemente, que não acreditam no futuro.
Autor de um homicídio por dívida de drogas, Caio começou a usar maconha aos nove anos, escondido. Aos 11, já fumava na "boca", ao lado dos traficantes.
"Um dia peguei o radinho. O cara falou: "Segura aí, rapidinho". Era para "bater um fio" se os "home" viessem. Comecei ganhando R$ 150 por semana. Aí, depois, peguei carga (droga) para vender", conta.
A trajetória dele é comum aos meninos no tráfico. A atuação deles como "radinhos" ou "olheiros" é uma das portas de entrada. Outra é o papel de aviãozinho, em que o menino faz favores para a quadrilha -como comprar lanches e refeições- e ganha gorjetas.
Como muitos outros, Caio tinha parente no tráfico, seu tio, que abandonou o crime, diz.
Diogo, 16, Fabrício, 17, e Fernando, 18, foram iniciados no tráfico pelos próprios irmãos.
O pesquisador inglês Luke Dowdney relatou num livro que 40% dos jovens que entrevistou diziam ter parentes envolvidos no tráfico. (RG)


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