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Governo Lula amplia acesso à mamografia sem aumentar verbas
Presidente sancionou projeto de lei estendendo exame às mulheres entre 40 e 49 anos, a partir do próximo ano
O próprio Ministério da Saúde admite que ainda não há recursos financeiros e estruturais para absorver a nova demanda de exames
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Lula ampliou o
acesso à mamografia para mulheres a partir dos 40 anos sem,
contudo, aumentar as verbas. O
próprio Ministério da Saúde
admite que ainda não há recursos financeiros e estruturais
para absorver a nova demanda.
Hoje, o ministério recomenda que a mamografia (exame
usado para a detecção do câncer de mama, o que mais mata
as brasileiras) seja feita, pelo
menos a cada dois anos, por
mulheres de 50 a 69 anos -faixa etária em que o câncer tem
mais incidência.
Abaixo dos 50, o exame só é
indicado quando há risco elevado de a mulher ter o tumor (história familiar). A mesma política é seguida em países da Europa. Nos EUA, o exame é feito a
partir dos 40 anos.
No final de abril, após forte
pressão de entidades de defesa
da mulher, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sancionou
projeto de lei estendendo a mamografia às mulheres entre 40
e 49 anos, a partir de 2009. Há
12,6 milhões de brasileiras nessa faixa etária, segundo o IBGE.
Considerando que 70% delas
dependem exclusivamente do
SUS, o sistema público de saúde terá de absorver mais 8,8 milhões de mulheres na faixa dos
40, que deverão se somar a outras 10,3 milhões acima dos 50
anos -que, em tese, já teriam
acesso à mamografia no SUS.
Mas, na realidade, a cobertura atual no SUS do exame é de
23% a 60%, segundo a Femama
(Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio
à Saúde da Mama).
"Do jeito que estão distribuídos os equipamentos de mamografia pelo Brasil, o sistema não
tem condições de atender a essa demanda [das mulheres entre 40 e 49 anos]", admitiu à
Folha o ministro José Gomes
Temporão (Saúde).
E o problema não se resume
à alta concentração de aparelhos nas regiões Sul e Sudeste e
à falta deles no Norte, Nordeste
e Centro-Oeste. Estudos do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam que até 60% das
mamografias são de má qualidade. O instituto desenvolve
um programa de capacitação
profissional para melhorá-las.
As dificuldades não param
por aí. As mulheres com alterações nas mamografias (nódulos
suspeitos, por exemplo) precisam fazer outros exames e
biopsias para fechar o diagnóstico e, se o câncer for confirmado, passam por cirurgia, quimio e/ou radioterapia. Em todas as etapas, há filas de espera.
Segundo a médica Maira Calefi, presidente da Femama,
atualmente, são, em média, 188
dias desde a primeira consulta
até o início do tratamento.
Para Calefi, a lei será fundamental para garantir o acesso
das mulheres mais jovens à
mamografia e, assim, levar ao
diagnóstico precoce da doença.
"Mesmo que quisessem, as mulheres que dependem do SUS
não podiam fazer o exame como rotina antes dos 50 anos."
A indicação da mamografia
para mulheres jovens é polêmica porque a incidência do câncer tende a ser menor -80 casos por 100 mil mulheres contra 120 casos por 100 mil por
volta dos 50 anos.
Além disso, afirma o médico
Auro Del Giglio, coordenador
de oncologia do hospital Albert
Einstein, nessa faixa etária há
um grande número de exames
falsos positivos, porque a mama tende a ser mais densa.
"Aumentaremos os casos detectados de câncer às custas de
mais casos falsos positivos."
Ainda assim, ele se diz favorável à medida, "desde que venha acompanhada de recursos
e infra-estrutura para o diagnóstico e tratamento precoce".
Segundo o diretor-geral do
Inca, Luiz Antonio Santini, o
instituto se reunirá neste ano
com diversas entidades para
definir os detalhes da nova lei
-como a periodicidade do exame e o impacto dela no SUS.
Para Santini, dificilmente será possível ofertar a mamografia anualmente às mulheres
mais jovens. "Não há falta de
equipamentos. Há problemas
na distribuição dos aparelhos e
má qualidade dos exames."
O mastologista José Luiz Bevilacqua, do hospital Sírio Libanês, argumenta que os mamógrafos disponíveis no Brasil
seriam suficientes para rastrear 57% das mulheres entre
40 e 70 anos no prazo de um
ano, mas nem isso ocorre. "[Se
ocorresse] Seria um espetáculo, o mesmo nível dos EUA."
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