São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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Governo Lula amplia acesso à mamografia sem aumentar verbas

Presidente sancionou projeto de lei estendendo exame às mulheres entre 40 e 49 anos, a partir do próximo ano

O próprio Ministério da Saúde admite que ainda não há recursos financeiros e estruturais para absorver a nova demanda de exames

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Lula ampliou o acesso à mamografia para mulheres a partir dos 40 anos sem, contudo, aumentar as verbas. O próprio Ministério da Saúde admite que ainda não há recursos financeiros e estruturais para absorver a nova demanda.
Hoje, o ministério recomenda que a mamografia (exame usado para a detecção do câncer de mama, o que mais mata as brasileiras) seja feita, pelo menos a cada dois anos, por mulheres de 50 a 69 anos -faixa etária em que o câncer tem mais incidência.
Abaixo dos 50, o exame só é indicado quando há risco elevado de a mulher ter o tumor (história familiar). A mesma política é seguida em países da Europa. Nos EUA, o exame é feito a partir dos 40 anos.
No final de abril, após forte pressão de entidades de defesa da mulher, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou projeto de lei estendendo a mamografia às mulheres entre 40 e 49 anos, a partir de 2009. Há 12,6 milhões de brasileiras nessa faixa etária, segundo o IBGE.
Considerando que 70% delas dependem exclusivamente do SUS, o sistema público de saúde terá de absorver mais 8,8 milhões de mulheres na faixa dos 40, que deverão se somar a outras 10,3 milhões acima dos 50 anos -que, em tese, já teriam acesso à mamografia no SUS.
Mas, na realidade, a cobertura atual no SUS do exame é de 23% a 60%, segundo a Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama).
"Do jeito que estão distribuídos os equipamentos de mamografia pelo Brasil, o sistema não tem condições de atender a essa demanda [das mulheres entre 40 e 49 anos]", admitiu à Folha o ministro José Gomes Temporão (Saúde).
E o problema não se resume à alta concentração de aparelhos nas regiões Sul e Sudeste e à falta deles no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Estudos do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam que até 60% das mamografias são de má qualidade. O instituto desenvolve um programa de capacitação profissional para melhorá-las.
As dificuldades não param por aí. As mulheres com alterações nas mamografias (nódulos suspeitos, por exemplo) precisam fazer outros exames e biopsias para fechar o diagnóstico e, se o câncer for confirmado, passam por cirurgia, quimio e/ou radioterapia. Em todas as etapas, há filas de espera.
Segundo a médica Maira Calefi, presidente da Femama, atualmente, são, em média, 188 dias desde a primeira consulta até o início do tratamento.
Para Calefi, a lei será fundamental para garantir o acesso das mulheres mais jovens à mamografia e, assim, levar ao diagnóstico precoce da doença. "Mesmo que quisessem, as mulheres que dependem do SUS não podiam fazer o exame como rotina antes dos 50 anos."
A indicação da mamografia para mulheres jovens é polêmica porque a incidência do câncer tende a ser menor -80 casos por 100 mil mulheres contra 120 casos por 100 mil por volta dos 50 anos.
Além disso, afirma o médico Auro Del Giglio, coordenador de oncologia do hospital Albert Einstein, nessa faixa etária há um grande número de exames falsos positivos, porque a mama tende a ser mais densa. "Aumentaremos os casos detectados de câncer às custas de mais casos falsos positivos."
Ainda assim, ele se diz favorável à medida, "desde que venha acompanhada de recursos e infra-estrutura para o diagnóstico e tratamento precoce".
Segundo o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini, o instituto se reunirá neste ano com diversas entidades para definir os detalhes da nova lei -como a periodicidade do exame e o impacto dela no SUS.
Para Santini, dificilmente será possível ofertar a mamografia anualmente às mulheres mais jovens. "Não há falta de equipamentos. Há problemas na distribuição dos aparelhos e má qualidade dos exames."
O mastologista José Luiz Bevilacqua, do hospital Sírio Libanês, argumenta que os mamógrafos disponíveis no Brasil seriam suficientes para rastrear 57% das mulheres entre 40 e 70 anos no prazo de um ano, mas nem isso ocorre. "[Se ocorresse] Seria um espetáculo, o mesmo nível dos EUA."


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