São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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SAÚDE

Para médicos, estudo dos EUA derruba tese de que tratamento na menopausa protegeria mulheres de problemas cardiovasculares

Terapia hormonal não reduz risco cardíaco

DA REPORTAGEM LOCAL

O estudo divulgado anteontem pelo governo norte-americano sobre a terapia de reposição hormonal derruba a tese de que o tratamento protegeria mulheres saudáveis de doenças cardiovasculares na menopausa, dizem médicos. Aquelas que usaram o tratamento por 5,2 anos tiveram mais risco para esses problemas, em comparação comparadas com as que não usaram.
Para especialistas brasileiros, essa é a principal novidade da pesquisa do grupo WHI (Women's Health Initiative), patrocinada pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA.
"O que me preocupa é que uma das vantagens associadas à terapia, a questão cardiovascular, passou a ser colocada como desvantagem", disse José Aristodemo Pinotti, professor-titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP.
O levantamento, de que participaram 16,6 mil mulheres americanas de 50 a 79 anos, analisou, no entanto, apenas um dos tipos de reposição hormonal existente, a terapia combinada e contínua de reposição de estrogênio e progesterona (hormônios femininos), em doses de 0,625 mg/dia e 2,5 mg/dia, respectivamente.
A TRH, como a terapia de reposição hormonal é chamada no meio médico, é uma das modalidades de tratamento utilizadas por mulheres para diminuir sintomas da menopausa e prevenir problemas de saúde. Existem diferentes "esquemas" de aplicação da TRH e hoje os médicos preferem doses mais baixas.
No Brasil, a Febrasgo (Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) estima que 4 milhões de mulheres acima dos 45 anos utilizem a TRH.
O estudo dos EUA é o primeiro em larga escala e de longa duração a quantificar os riscos e benefícios da terapia. A pesquisa, que comparou mulheres que usavam a droga com outras que receberam uma substância inócua, acabou antes do previsto porque os riscos foram maiores do que os esperados, especialmente para câncer de mama invasivo.
Houve 41% de aumento dos derrames em relação ao grupo que tomou placebo, 29% a mais de ataques cardíacos e o dobro de casos de tromboembolia (coágulos nos vasos). O ensaio mostrou ainda 22% de aumento de doenças cardiovasculares e de 26% de câncer de mama.
Houve queda de 37% dos casos de câncer de reto e de 24% das fraturas em geral. Nenhuma diferença na mortalidade foi encontrada.
Em números absolutos, os dados indicam que, se 10 mil mulheres tomassem as drogas durante um ano, oito a mais desenvolveriam câncer de mama em comparação com outro grupo de 10 mil que não fizesse TRH. Mais sete teriam ataque cardíaco e oito teriam derrame, mas haveria menos seis casos de câncer intestinal e menos cinco fraturas na bacia.
Edmund Baracat, professor titular de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo e presidente da Febrasgo disse que estudos anteriores já mostravam o risco para câncer de mama após longo tempo de uso. "Quanto ao benefício cardiovascular, por este estudo, o esquema combinado e contínuo não mostrou proteção."
Ele afirmou que as mulheres saudáveis que utilizam a droga com este intuito são as principais prejudicadas. Outros ensaios já haviam mostrado que a TRH não era boa para mulheres com problemas cardiovasculares recentes.
"Para mulheres com o útero preservado, há outras opções mais apropriadas do que a TRH para reduzir o risco de doença cardiovascular", disse o diretor executivo da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, Wulf Utian, em texto no site da entidade. Para ele, as mulheres que utilizam as drogas com outros propósitos precisarão verificar se os benefícios excedem os riscos.
"Está provado que crescem os riscos de complicações", afirmou Décio Luís Alves, presidente da comissão de terapias naturais da Febrasgo. (FABIANE LEITE)


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