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SAÚDE
Para médicos, estudo dos EUA derruba tese de que tratamento na menopausa protegeria mulheres de problemas cardiovasculares
Terapia hormonal não reduz risco cardíaco
DA REPORTAGEM LOCAL
O estudo divulgado anteontem
pelo governo norte-americano
sobre a terapia de reposição hormonal derruba a tese de que o tratamento protegeria mulheres saudáveis de doenças cardiovasculares na menopausa, dizem médicos. Aquelas que usaram o tratamento por 5,2 anos tiveram mais
risco para esses problemas, em
comparação comparadas com as
que não usaram.
Para especialistas brasileiros, essa é a principal novidade da pesquisa do grupo WHI (Women's
Health Initiative), patrocinada
pelo Instituto Nacional de Saúde
dos EUA.
"O que me preocupa é que uma
das vantagens associadas à terapia, a questão cardiovascular,
passou a ser colocada como desvantagem", disse José Aristodemo Pinotti, professor-titular do
Departamento de Ginecologia e
Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP.
O levantamento, de que participaram 16,6 mil mulheres americanas de 50 a 79 anos, analisou, no
entanto, apenas um dos tipos de
reposição hormonal existente, a
terapia combinada e contínua de
reposição de estrogênio e progesterona (hormônios femininos),
em doses de 0,625 mg/dia e 2,5
mg/dia, respectivamente.
A TRH, como a terapia de reposição hormonal é chamada no
meio médico, é uma das modalidades de tratamento utilizadas
por mulheres para diminuir sintomas da menopausa e prevenir
problemas de saúde. Existem diferentes "esquemas" de aplicação
da TRH e hoje os médicos preferem doses mais baixas.
No Brasil, a Febrasgo (Federação Brasileira de Sociedades de
Ginecologia e Obstetrícia) estima
que 4 milhões de mulheres acima
dos 45 anos utilizem a TRH.
O estudo dos EUA é o primeiro
em larga escala e de longa duração
a quantificar os riscos e benefícios
da terapia. A pesquisa, que comparou mulheres que usavam a
droga com outras que receberam
uma substância inócua, acabou
antes do previsto porque os riscos
foram maiores do que os esperados, especialmente para câncer de
mama invasivo.
Houve 41% de aumento dos
derrames em relação ao grupo
que tomou placebo, 29% a mais
de ataques cardíacos e o dobro de
casos de tromboembolia (coágulos nos vasos). O ensaio mostrou
ainda 22% de aumento de doenças cardiovasculares e de 26% de
câncer de mama.
Houve queda de 37% dos casos
de câncer de reto e de 24% das fraturas em geral. Nenhuma diferença na mortalidade foi encontrada.
Em números absolutos, os dados indicam que, se 10 mil mulheres tomassem as drogas durante
um ano, oito a mais desenvolveriam câncer de mama em comparação com outro grupo de 10 mil
que não fizesse TRH. Mais sete teriam ataque cardíaco e oito teriam derrame, mas haveria menos seis casos de câncer intestinal
e menos cinco fraturas na bacia.
Edmund Baracat, professor titular de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo e presidente da Febrasgo disse que estudos anteriores já mostravam o risco para câncer de mama após longo tempo de uso. "Quanto ao benefício cardiovascular, por este
estudo, o esquema combinado e
contínuo não mostrou proteção."
Ele afirmou que as mulheres
saudáveis que utilizam a droga
com este intuito são as principais
prejudicadas. Outros ensaios já
haviam mostrado que a TRH não
era boa para mulheres com problemas cardiovasculares recentes.
"Para mulheres com o útero
preservado, há outras opções
mais apropriadas do que a TRH
para reduzir o risco de doença
cardiovascular", disse o diretor
executivo da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, Wulf
Utian, em texto no site da entidade. Para ele, as mulheres que utilizam as drogas com outros propósitos precisarão verificar se os benefícios excedem os riscos.
"Está provado que crescem os riscos de complicações", afirmou Décio Luís Alves, presidente da comissão de terapias naturais da Febrasgo.
(FABIANE LEITE)
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