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"Não há medicina sem animal de pesquisa"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pode ser que no ano 2.200
exista medicina sem a necessidade de animais de pesquisa, mas isso não será verdade tão cedo."
O que diz Mauricio Rocha e Silva, chefe do Departamento de
Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor
do serviço de fisiologia aplicada
do Instituto do Coração (Incor),
pode parecer exagero, mas é opinião quase unânime entre pesquisadores ouvidos pela Folha.
Para eles, é preciso minimizar o
uso de animais. A questão é como
e quando fazer as experiências.
Para isso, é preciso confiar nas
comissões de ética, que, mesmo
não obrigatórias, existem em quase todas as organizações que fazem experimentação em bichos.
O rigor da instituição e a fiscalização da Cofipa (composta por
ONGs, governo e centros de pesquisa) são garantias suficientes de
que não haverá abuso, diz Hélio
Neves, gerente de vigilância em
saúde da prefeitura. "Com critérios éticos, no mundo inteiro se
faz pesquisa com animais."
"Tenho certeza de que 99% dos
brasileiros estão mais preocupados com a saúde do filho. E somos
muito crus em biologia para dispensar os animais", diz Rocha e
Silva, citando insulina, pesquisas
de lesões no coração de crianças e
testes de toxicidade em remédios
como casos que exigem bichos.
A razão para a não-criação dos
animais em biotério é mesmo o
custo. "Nem nos EUA se usam
cães de biotério. Os únicos países
que os criam são a Alemanha e a
Inglaterra porque lá os cães de rua
saem mais caros que os de raça."
Animais de fora passam por
quarentena no biotério da Unifesp, diz Marcos de Almeida, professor titular de bioética e membro da Comissão de Ética em Pesquisa da instituição, que avalia
cerca de 1.400 projetos por ano.
O uso de bichos de biotério coloca questões éticas tão ou mais
sérias que as envolvidas com o
uso de animais de rua, diz. "Já
questionei pesquisas por causa do
número de bichos exigidos."
Cientistas e defensores de animais exageram, diz Carlos Müller,
coordenador da área de experimentação animal da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz). "Devemos buscar alternativas juntos.
Em controle de vacinas, é impossível não usar animais."
(MV)
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