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AMÉLIA MODERNA
Estudo baseado em dados do IBGE também mostra que a divisão das tarefas domésticas sobrecarrega as mulheres
Marido atrapalha carreira mais que filho
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Esta notícia é para enterrar de
vez a ilusão do casamento perfeito
com o príncipe encantado: casar
faz mal para o bolso feminino. E
não adianta jogar toda a culpa nos
filhos. São mesmo os maridos que
mais atrapalham a inserção da
mulher no mercado de trabalho.
Além disso, mesmo em tempos
de igualdade entre os sexos, a divisão das tarefas domésticas ainda sobrecarrega as mulheres.
A constatação nada romântica é
dos economistas Lena Lavinas, da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), e Marcelo Nicoll.
Ao trabalhar com os dados da
Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) do IBGE
de 2003, eles perceberam que a
porcentagem de solteiras e com
filhos trabalhando era de 70%.
Essa proporção é superior à verificada entre as brasileiras casadas com um homem que assume
a função de chefe de família. Se há
filhos no casamento, a taxa de atividade da mulher fica em 58%.
Sem filhos, chega a 61%.
Além de terem mais presença
no mercado de trabalho, as mulheres solteiras ou que assumem a
posição de chefe de família também conseguem, em todas as
classes sociais, uma renda média
superior à verificada entre as que
são casadas.
Os dados indicam que o tempo
que as mulheres têm para trabalhar fora varia bastante de acordo
com sua condição no casamento.
Se são chefes de família, a média é
de 40 horas. Quando cônjuges, ele
cai para 36,4 horas, se não há filhos, ou 34,6 horas, se há.
Entre os homens, no entanto, a
alteração é mínima. Quando são
chefes, a média de horas semanais
é de 46,7 (sem filhos) ou de 47,8
horas (com). Se não chefiam a família, essas médias caem, respectivamente, para 45,6 e 47,2.
Para Lavinas, os dados indicam
que não é apenas o preconceito
no mercado que dificulta a vida
profissional da mulher: "O potencial feminino é limitado também
nas negociações que acontecem
dentro do casamento, na divisão
das tarefas domésticas".
De fato, o cálculo do tempo gasto em média por homens e mulheres para cuidar das tarefas domésticas mostra que, mesmo
quando eles não estão trabalhando, têm menos dedicação do que
elas. A Pnad de 2003 mostra que
as brasileiras dedicam 28 horas
semanais para essas atividades,
sendo 36 quando não trabalham
fora e 23 quando estão ativas. Os
percentuais masculinos são sempre menores: 11 horas em geral,
sendo 14 quando inativos e 10
quando ocupados.
A sobrecarga do trabalho doméstico nas mãos femininas não é
novidade. O que mudou foi a necessidade da mulher de sair para o
trabalho. Em 1981, 40% das mulheres trabalhavam. Em 2003, essa
taxa aumentou para 69%.
Para o psicólogo social Bernardo Jablonski, professor da PUC-Rio e autor do livro "Até que a Vida nos Separe - A Crise do Casamento Contemporâneo", essa
mudança trouxe conflito para os
casais modernos.
"A mulher quis mudar e foi trabalhar fora. O homem está sendo
convidado a trabalhar dentro,
mas isso nunca foi uma demanda
sua. Isso gera um conflito danado
e, curiosamente, ele está acontecendo principalmente nessas famílias pós-modernas, onde existe
uma promessa de igualdade. Na
família tradicional, a divisão ainda é muito clara e há menos conflito: ele trabalha fora enquanto
ela cuida da casa", diz Jablonski.
O psicólogo diz que a crise gerada por esse conflito leva muitos
casais a um sentimento de frustração por não terem conseguido
realizar um ideal de felicidade.
"A frustração traz a perspectiva
de ter e, quando não temos, isso
gera mágoa, ressentimento, raiva.
O que está acontecendo é que
prometeram à mulher igualdade,
ascensão social e divisão das tarefas domésticas. Se ela está trabalhando fora, alguém tem que ajudar a trabalhar dentro, mas isso é
algo que ele não quer", afirma.
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