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"As empresas aéreas fazem o que querem"
Para a economista Lucia Salgado, do Ipea, companhias atuam "totalmente desreguladas" e Anac não cumpre seu papel
De acordo com ela, a falta de punição para as empresas pode ser um sinal de que o apagão dos aeroportos está longe de acabar
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
O valor "insignificante" das
multas colabora para que as
companhias aéreas não se sintam forçadas a mudar condutas
que auxiliam no agravamento
do caos aéreo. A análise é da
economista Lucia Helena Salgado, pesquisadora do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
"Essa quantia mínima deixa
evidente que as empresas aéreas fazem o que querem e estão trabalhando totalmente
desreguladas, já que a Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) não está cumprindo seu
papel", avalia.
Para a economista, a falta de
punição adequada para as empresas que desrespeitam os
passageiros pode ser um sinal
de que o apagão dos aeroportos
está longe de acabar. "A crise
tem soluções demoradas, mas
há coisas que poderiam ser resolvidas a curto prazo, como
multar com rigor as companhias infratoras, e nem isso está acontecendo", diz ela.
A pesquisadora aponta medidas como ampliação de frota,
com aviões reserva, para minimizar os atrasos por parte das
companhias. "Mas, sem punição, as soluções são adiadas, enquanto o passageiro sofre nos
aeroportos."
Para Alessandro Oliveira,
economista-chefe do Nectar
(Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo), do ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica),
"essas multas, em comparação
com a lucratividade das companhias, não sinalizam nada".
Ele argumenta, contudo, que
as empresas aéreas não podem
ser as únicas responsabilizadas.
"Elas lidam mal com a crise,
atendem mal os clientes prejudicados, mas o problema é muito maior. Falar em multa é até
errado. Não dá para as companhias pagarem sozinhas o pato", avalia o economista.
Para Oliveira, deveria ser tomado como prioridade o desafogamento de vôos do aeroporto de Congonhas, na zona sul de
São Paulo, transferindo vôos
para outros lugares. "O passageiro poderia ter mais opções
para voar a partir do aeroporto
de Viracopos [em Campinas],
sendo recompensado com uma
passagem mais barata."
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