São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2001

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CRISE DE ENERGIA

Moradores reclamam do barulho do equipamento e da emissão de poluentes, resultado da queima de diesel

Ruído tira sono dos vizinhos de geradores

MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fenômeno recente nas cidades, mas que vem crescendo por conta do racionamento de energia, os geradores estão sendo motivo de reclamação para quem mora ao lado. Barulhentos e emissores de gases poluentes, os aparelhos estão tirando o sono e a paciência dos vizinhos de quem os usa.
Segundo técnicos do Psiu (Programa de Silêncio Urbano) da Prefeitura de São Paulo, as reclamações por barulho de geradores estão aumentando desde que surgiu a ameaça de apagão. Os aparelhos rendem ao programa uma média de 16 reclamações por mês.
A dona-de-casa Sônia Regina Martins Simonato, 48, é uma "vítima" dos geradores. Vizinha de um prédio do Itaú, na avenida do Estado, vem sofrendo há meses com o ruído dos escapamentos dos geradores de energia do banco. "Todos os vizinhos reclamam. À noite, não dá para dormir e, de madrugada, o barulho é terrível."
Sônia procurou o Psiu e entrou em contato com o banco para tentar resolver o problema. "O pessoal do Psiu veio até aqui e comprovou que o barulho era alto demais", afirma.
A reportagem da Folha acompanhou uma visita do Psiu à casa de Sônia para medir o ruído emitido pelos geradores. Em seu quarto, com janela aberta, os técnicos registraram 59 dB(A) -decibéis na escala A, que mede o nível de ruído comparado à sensibilidade do ouvido humano.
Levando-se em conta horário (antes das 19h), região (área de indústria e comércio) e condições de medição, o máximo de ruído permitido por lei é 55 dB(A).
A hoteleira Mara Abreu, 47, vive problema parecido. Moradora do bairro de Cidade Monções (zona sul), ela, há cerca de dois meses, não tem conseguido dormir aos sábados, domingos e feriados.
Mara é vizinha da BCP, que liga geradores no fim de semana. "Estava tentando contato com a empresa, mas não conseguia. Precisava finalizar um trabalho de conclusão de curso e tinha de fechar toda a casa por causa do barulho. É irritante até para conversar, na hora que desliga é um alívio."
Técnicos do Psiu estiveram no prédio da BCP com a reportagem da Folha e constataram que o ruído era excessivo: 90 dB(A) há um metro do gerador. O máximo permitido para o horário na região, segundo a prefeitura, é 65 dB(A).
Segundo o Psiu, o excesso de ruído poderia render à empresa uma multa de R$ 16 mil.
Também suscetíveis ao barulho dos geradores, mas menos amparados por órgãos fiscalizadores, estão os vizinhos de um condomínio na rua Barão de Capanema, no Jardim Paulista (zona oeste).
A arquiteta Maria Amália Schmidt de Oliveira, 45, diz sofrer há mais de um mês com o barulho e a fumaça de diesel do gerador do condomínio. A hoteleira mora no prédio ao lado do equipamento, que, segundo ela, fica ligado três horas por dia. "O barulho causa muito estresse e está mexendo com a estrutura emocional das pessoas aqui em casa. Além disso, o cheiro do diesel é terrível."
Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), um gerador emite fumaça na mesma proporção que o motor de um ônibus. A companhia pode avaliar se o aparelho precisa ser ajustado.
A arquiteta diz que o relacionamento com o condomínio é muito difícil e que nem síndico nem moradores estão dispostos a colaborar. "O Psiu mediu 70 dB(A) aqui na minha janela."
Segundo os técnicos, o Psiu não tem a atribuição de multar condomínios, mas pode efetuar medições e orientar os moradores. Levando-se em conta a região, o horário e as condições de medição, o máximo permitido na casa de Maria Amália seria 45 dB(A).
Em casos como o da arquiteta, o Psiu sugere que o morador entre em contato com a Cetesb. Se não houver solução, pode procurar uma delegacia para dar queixa de perturbação do sossego.



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