|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE DE ENERGIA
Moradores reclamam do barulho do equipamento e da emissão de poluentes, resultado da queima de diesel
Ruído tira sono dos vizinhos de geradores
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Fenômeno recente nas cidades,
mas que vem crescendo por conta
do racionamento de energia, os
geradores estão sendo motivo de
reclamação para quem mora ao
lado. Barulhentos e emissores de
gases poluentes, os aparelhos estão tirando o sono e a paciência
dos vizinhos de quem os usa.
Segundo técnicos do Psiu (Programa de Silêncio Urbano) da
Prefeitura de São Paulo, as reclamações por barulho de geradores
estão aumentando desde que surgiu a ameaça de apagão. Os aparelhos rendem ao programa uma
média de 16 reclamações por mês.
A dona-de-casa Sônia Regina
Martins Simonato, 48, é uma "vítima" dos geradores. Vizinha de
um prédio do Itaú, na avenida do
Estado, vem sofrendo há meses
com o ruído dos escapamentos
dos geradores de energia do banco. "Todos os vizinhos reclamam.
À noite, não dá para dormir e, de
madrugada, o barulho é terrível."
Sônia procurou o Psiu e entrou
em contato com o banco para tentar resolver o problema. "O pessoal do Psiu veio até aqui e comprovou que o barulho era alto demais", afirma.
A reportagem da Folha acompanhou uma visita do Psiu à casa
de Sônia para medir o ruído emitido pelos geradores. Em seu
quarto, com janela aberta, os técnicos registraram 59 dB(A) -decibéis na escala A, que mede o nível de ruído comparado à sensibilidade do ouvido humano.
Levando-se em conta horário
(antes das 19h), região (área de indústria e comércio) e condições
de medição, o máximo de ruído
permitido por lei é 55 dB(A).
A hoteleira Mara Abreu, 47, vive
problema parecido. Moradora do
bairro de Cidade Monções (zona
sul), ela, há cerca de dois meses,
não tem conseguido dormir aos
sábados, domingos e feriados.
Mara é vizinha da BCP, que liga
geradores no fim de semana. "Estava tentando contato com a empresa, mas não conseguia. Precisava finalizar um trabalho de conclusão de curso e tinha de fechar
toda a casa por causa do barulho.
É irritante até para conversar, na
hora que desliga é um alívio."
Técnicos do Psiu estiveram no
prédio da BCP com a reportagem
da Folha e constataram que o ruído era excessivo: 90 dB(A) há um
metro do gerador. O máximo permitido para o horário na região,
segundo a prefeitura, é 65 dB(A).
Segundo o Psiu, o excesso de
ruído poderia render à empresa
uma multa de R$ 16 mil.
Também suscetíveis ao barulho
dos geradores, mas menos amparados por órgãos fiscalizadores,
estão os vizinhos de um condomínio na rua Barão de Capanema,
no Jardim Paulista (zona oeste).
A arquiteta Maria Amália
Schmidt de Oliveira, 45, diz sofrer
há mais de um mês com o barulho
e a fumaça de diesel do gerador do
condomínio. A hoteleira mora no
prédio ao lado do equipamento,
que, segundo ela, fica ligado três
horas por dia. "O barulho causa
muito estresse e está mexendo
com a estrutura emocional das
pessoas aqui em casa. Além disso,
o cheiro do diesel é terrível."
Segundo a Cetesb (Companhia
de Tecnologia de Saneamento
Ambiental), um gerador emite fumaça na mesma proporção que o
motor de um ônibus. A companhia pode avaliar se o aparelho
precisa ser ajustado.
A arquiteta diz que o relacionamento com o condomínio é muito difícil e que nem síndico nem
moradores estão dispostos a colaborar. "O Psiu mediu 70 dB(A)
aqui na minha janela."
Segundo os técnicos, o Psiu não
tem a atribuição de multar condomínios, mas pode efetuar medições e orientar os moradores. Levando-se em conta a região, o horário e as condições de medição, o
máximo permitido na casa de
Maria Amália seria 45 dB(A).
Em casos como o da arquiteta, o
Psiu sugere que o morador entre
em contato com a Cetesb. Se não
houver solução, pode procurar
uma delegacia para dar queixa de
perturbação do sossego.
Texto Anterior: Clandestino se veste de drag queen Próximo Texto: Barulho causa estresse e dor de cabeça Índice
|