São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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Só 28% ainda pagam prestações

DA REPORTAGEM LOCAL

A vida não é fácil nos Cingapuras. Lá, além da falta de dinheiro e de áreas verdes que rondam muitos dos moradores da capital, existe também um outro fantasma: o medo de perder o apartamento, de não ter o que deixar para os filhos, de não conseguir vender o imóvel se um dia precisar recuperar o dinheiro investido.
Como previa o BID, a insegurança jurídica sobre a posse do imóvel -certamente aliada à falta de renda, pois 22% dos moradores não a têm- foi alimentando a inadimplência.
Em julho, de acordo com a Secretaria Municipal da Habitação, 71,58% dos moradores estavam inadimplentes -com mais de três prestações em atraso.
Os poucos que pagam sem interrupção os R$ 57 mensais pelo uso do imóvel não sabem nem explicar os motivos que os levam a persistir. "Não vou na conversa dos outros [os que não pagam". Pago porque é o trato", resume Maria Ferreira dos Santos, 54, que vive com o marido, o filho adolescente e uma coleção de centenas de bonecas em um apartamento do Cingapura Chácara Boa Vista (zona leste) desde que o conjunto foi inaugurado, há sete anos.
Do bar instalado em um trailer na rua do conjunto habitacional e dos bicos de pedreiro do marido, Gabriel, a família tira "uns R$ 150, R$ 200" por mês.
A prefeitura afirma que cerca de 20% dos beneficiários originais do projeto já venderam seus imóveis -o que não é permitido pelo Termo de Permissão de Uso. Na Chácara Boa Vista, a estimativa dos moradores é que a renovação já tenha chegado a 50%.
"Dei de graça, por R$ 1.600. Vivia com medo de ir para a rua, eles viviam ameaçando", diz a costureira Elza Pereira da Silva, 49, que pagou apenas as oito primeiras prestações do apartamento.
Por R$ 500, na época, ela comprou um barraco na favela que ainda cerca o prédio. Hoje, diz que vai voltar para Pernambuco.



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