São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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RETRATOS DO BRASIL

Segundo IBGE, de 91 a 2000 houve crescimento significativo da quantidade de homens que cuidavam dos filhos

Censo aponta aumento no número de pais solteiros

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O clichê de que "não basta ser pai, tem que participar", popularizado em uma campanha publicitária na década de 80, vai aos poucos sendo seguido mais à risca no Brasil. Dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que de 1991 a 2000 houve um aumento de 74,5% no número de pais que cuidavam sozinhos dos filhos nos domicílios brasileiros.
São pais solteiros, desquitados ou viúvos que, por força das circunstâncias ou por opção, tentam acumular as funções de pai e mãe ao mesmo tempo.
Eles cresceram em ritmo mais acelerado no período que as mulheres na mesma situação, que tiveram aumento, também significativo, de 58,8%.
"Há uma mudança na postura do homem. Além da paternidade, os pais querem viver essa "paternagem", ou seja, ter uma relação mais calorosa e amiga com os filhos. Há até homens querendo adotar crianças. Depois da grande revolução da independência feminina, eles ficaram mais perdidos e estão encontrando um novo caminho", afirma a demógrafa Elza Berquó, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp.
"Esse novo homem que começa a aparecer é mais generoso, aberto e rompe com a assimetria tão negativa das relações de gênero", diz a demógrafa.
Apesar de os elogios ao "novo homem", Elza lembra que ele continua sendo raridade. "Em geral, numa gravidez, quem segura a barra é sempre a mulher, e não o homem", afirma ela.
O censo do IBGE mostra que apenas 15,6% do total de chefes de família sem cônjuge e com filhos são homens. Em 1991, eram 14,4%. Entre todos os chefes de família, os homens nessa situação representam apenas 3,4% (1,1 milhão de brasileiros). Em 1991, eram 2,3% (655 mil).

Questão de costume
Na estatísticas desses parcos - mas crescentes- 3,4%, se encontra o fotógrafo Henrique Alvarenga de Andrade, 42, que desde 1998 mora com duas das três filhas.
"Foi uma mudança enorme na minha vida. Eu estava morando sozinho havia seis ou sete anos e já estava acostumado. Tive que mudar minha rotina e me acostumar com a casa cheia de novo", conta Andrade.
Apesar de alguns contratempos, ele diz não ter se arrependido: "Morar com elas era algo que eu queria há muito tempo, desde que elas viajaram para os Estados Unidos e ficaram quatro anos lá. Quando elas viajam e fico sozinho, eu morro de saudade."
A filha mais velha, Catarina Andrade, 21, diz gostar de morar com o pai, mas conta que também teve de se acostumar.
"Morei a vida inteira com a minha mãe. A principal diferença é que ela me mimava mais, fazia sanduíches, sabia qual a marca de absorvente que eu gosto e queria sempre saber onde eu estava. Com meu pai, eu tenho que me virar mais sozinha", diz.
Catarina afirma que o pai não tem problemas de relacionamento com os namorados. Andrade, no entanto, diz que a recíproca não é verdadeira.
"Elas são um pouco ciumentas com relação às minhas namoradas e às vezes criam caso. Mas eu sempre digo que não vou abrir mão do que é meu."
Elza Berquó mostra que, pelas estatísticas, o ciúme do filho com o namorado da mãe é um caso mais raro.
"Enquanto a maioria dos homens que moram com filhos e sem cônjuge são viúvos, entre as mulheres, o número maior é de divorciadas. Na separação, a guarda ainda costuma ficar mais com as mulheres, que têm mais dificuldade de encontrar um parceiro a partir dos 35 anos do que seus ex-companheiros."
A pesquisadora diz perceber, no entanto, um aumento no número de casos de homens que lutam pela guarda dos filhos.
Ela afirma que uma das explicações para o fenômeno do aumento de pais e mães solteiros com filhos é o fato de os casamentos terem cada vez menor duração, o que faz com que as crianças passem a morar mais cedo com apenas um dos pais.



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