DA REVISTA

A australiana Geraldine Hewitt, 19, vive em uma autêntica "família do sêmen": ela e os irmãos Kieron, 14, e Genevia, 12, foram gerados dessa forma, cada um de um doador diferente. "Três homens ajudaram a formar nossa família, e nosso pai é um quarto homem, muito amoroso", conta a estudante, por telefone, de Sydney.
Ela sabe a verdade desde os cinco anos -o próprio pai lhe contou seu problema de infertilidade, enquanto a mãe falava da longa lista de espera para adotar uma criança na Austrália dos anos 80. "Na época, existia um consenso de que os pais não deveriam contar aos filhos sobre a inseminação, mas é claro que é melhor saber. Segredos destroem a família", diz.
No ano passado, Geraldine começou a procurar seu pai biológico, mas o hospital se recusou a fornecer dados. "Fico arrasada quando penso que nunca saberei quem ele é, a não ser que ele procure o banco e diga que tem interesse em conhecer seus descendentes."
Os médicos, entretanto, lhe disseram que ela tem outros meio-irmãos da parte desse sujeito desconhecido. Aliviada, ela conta: são "apenas" três. "Conheço gente que tem mais de 40", explica. Na Austrália, não há limites para o uso do sêmen de um mesmo doador. Já no Brasil, só são permitidas duas gestações por doador em uma área de 1 milhão de habitantes.
A proliferação multiplica as incertezas. "Às vezes, estou no trem e olho para um rapaz. Será que é meu irmão? Olho as mãos de um homem mais velho e, se lembram as minhas, penso: "Será que é meu pai?". Uma tia me disse: "Eu te vi no mercado". Eu respondi que não, nunca fui a esse mercado. Então penso: será que era uma irmã minha?"
Seus pais coordenam um grupo de apoio para filhos de doadores de sêmen, que reúne mais de mil integrantes no mundo todo. Geraldine conta que conversas sobre o doador são comuns nos jantares da família. "Na verdade, meu pai está muito a fim de apertar a mão desse cara e dizer "obrigado". Porque, você sabe, é graças a ele que ele me tem como filha."



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