São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2001

Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Carro que servia a investigadores explode diante do cadeião de Pinheiros; é a segunda ocorrência desde o fim de semana

Polícia de São Paulo sofre novo atentado

Eduardo Lazzarini/Folha Imagem
Bombeiros apagam incêndio após explosão de veículo que servia a investigadores do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil


ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um posto de trânsito e um carro do setor de operações especiais da polícia de São Paulo explodiram na capital em intervalo de apenas 53 horas, ferindo um investigador na cabeça. Em menos de um mês, quatro unidades policiais foram alvo de atentados.
Antes do último fim de semana, duas delegacias haviam sido alvo de bombas, em frustradas tentativas de fugas de presos. Agora as ocorrências foram diretamente contra a segurança do Estado.
A polícia já sabe que explosivos abriram as paredes dos distritos -16º DP (Vila Clementino, na zona sul) e 33º DP (Pirituba, na zona norte)- e destruíram o posto da Polícia Militar na marginal Tietê. Também se investiga o uso de bomba no carro do GOE (Grupo de Operações Especiais) da Polícia Civil, destruído ontem.
Para o secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, Mário Papaterra Limongi, não existe ligação entre o atentado ao posto de trânsito e a destruição do veículo da Polícia Civil, em frente ao cadeião de Pinheiros (zona oeste da capital). ""Mas o caso do GOE pode ter relação com as bombas que explodiram nas delegacias", afirmou ontem.
A polícia atua em duas frentes de investigação: uma delas apura hipótese de vingança, no caso da PM, e a outra, sobre as explosões nos distritos policiais e GOE, a ação de resgatadores de presos.
Uma explosão diante do Dacar 2, uma das quatro alas que compõem o cadeião de Pinheiros, por volta das 3h50, chamou a atenção dos policiais civis que cuidavam da guarda das muralhas.
Ao saírem para verificar o que acontecia, os investigadores foram recebidos a tiros por dois motoqueiros, que fugiram em seguida. No portão, há marcas de bala de grosso calibre.
O investigador Rogério Cosi, o primeiro a sair, contou à polícia ter visto dois homens, um deles ao lado do carro do GOE, já com chamas dentro, na parte traseira. ""Quando ele foi abrir a porta para pegar o extintor, houve a segunda explosão, talvez pela entrada do ar", afirmou o delegado Marcelo Jacobucci, 34, assistente do GOE.
Com o estouro, o policial teve parte do cabelo e sobrancelhas queimados. Sofreu ainda deslocamento da retina em um dos olhos. Ele chegou a ser internado no Hospital das Clínicas. Passa bem.
O carro foi completamente destruído pelo fogo. Duas espingardas, uma pistola e um revólver, fora munição e coletes, que estavam no interior do veículo Silverado, foram destruídos.
A Secretaria da Segurança não descarta a possibilidade de a explosão ter sido preparada como parte de um plano de fuga do Dacar 2, unidade que recebeu no final de semana a maioria dos detentos do 33º DP -a cadeia alvo de atentado a bomba na última sexta-feira, quando houve tentativa de fuga em massa dos presos.
Depende de laudo a confirmação de que uma bomba e não um incêndio intencional causou a primeira explosão. Policiais disseram à Folha que não havia marcas de arrombamento no veículo, logo após o primeiro estouro.
A tese de resgate, porém, enfraquece porque não houve rebelião após a explosão do carro do lado de fora. No caso, os presos deveriam estar preparados para fugir.
Policiais do GOE, assim como a PM no caso do posto de trânsito destruído, acredita na possibilidade de vingança. O GOE assumiu a vigilância do cadeião de Pinheiros em abril, após fuga de 135 presos de uma vez, pela porta da frente, com suposta conivência de carcereiros do plantão.
Ontem, a Secretaria da Segurança Pública reconheceu, pela primeira vez, que as bombas que explodiram nas delegacias da capital não são ""artesanais" nem ""caseiras", ao anunciar que pretende dar uma resposta rápida ao caso para evitar que ocorrências como essa se espalhem.
""Não é nada usual, embora tenha havido casos recentes, a explosão de bombas no Brasil. Isso é coisa de grupos terroristas de outros países", afirmou Papaterra.
A polícia ainda aguarda resultado da perícia da primeira explosão, ocorrida em 14 de agosto deste ano, no 16º DP, para saber qual foi o tipo de explosivo usado. O resultado será confrontado com as outras perícias feitas.
No caso dos distritos policiais, as bombas estariam sendo montadas com a ajuda de parentes dos detentos, durante as visitas. Há pelo menos dois indiciados.

Fuga
Se não houve fuga em Pinheiros, ela ocorreu no DP de Francisco Morato (Grande São Paulo). Por meio de um buraco no banheiro de uma das celas, 51 dos 88 presos escaparam. Só um havia sido recapturado até a noite de ontem.
A fuga ocorreu provavelmente na madrugada. Os policiais só perceberam o ocorrido às 8h.


Colaborou o "Agora"


Próximo Texto: Para secretaria, bombas em DPs não são caseiras
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.