São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2001

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CRIME EM CAMPINAS

Pelo menos 2 tiros atingiram prefeito, que estava sozinho em seu carro

Aos 49, Toninho, 8 meses de governo, é assassinado

DA FOLHA CAMPINAS

O prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos (PT), 49, foi assassinado ontem por volta das 22h20 com pelo menos dois tiros -um no tórax e outro na nuca- dentro de seu carro em um bairro da periferia da cidade.
Toninho foi encontrado debruçado na direção de seu Pálio Weekend, que bateu em uma placa, na Vila Brandina, nas proximidades do shopping Iguatemi. Os tiros foram disparos de fora do veículo.
O corpo foi reconhecido pelo chefe de Gabinete, Gerardo Mendes de Melo.
O delegado Marcos Manfrim, do 4º DP de Campinas, trabalha com duas hipóteses: assassinato premeditado ou assalto. Segundo o comandante da PM da cidade, Reinaldo Pinheiro Silva, ainda não se pode levantar uma tese sobre o caso, pois não há testemunhas.
A vice-prefeita, Izalene Tiene (PT), descarta a tentativa de roubo. "Não dá para acreditar que isso [roubo] tenha acontecido com o carro andando." O que reforça essa suspeita é o fato de que no veículo de Toninho foram encontradas sacolas de compra, sua carteira e seu terno.
O petista vestia shorts e camiseta. Voltava de uma academia de ginástica onde ia frequentemente, segundo o amigo e deputado estadual Renato Simões (PT).
O senador Eduardo Suplicy estava na cidade no momento do assassinato. Segundo ele, durante reunião à tarde, o prefeito teria comentado sobre a hipótese de sua morte. Toninho, relatou Suplicy, teria dito à vice Izalene: "Se acontecer alguma coisa comigo, você será a primeira prefeita da história de Campinas". "Isso soou como uma premonição", disse o senador do PT-SP.
Declaração do líder do partido na Câmara Municipal, Sebastião Arcanjo, reforça a tese petista de que o crime não foi mais um assalto. O vereador disse que presenciou uma conversa do prefeito na qual ele havia relatado que tinha sofrido ameaças de morte.

Trajetória política
Toninho era casado com a psicóloga Roseana Moraes Garcia. Tinha uma filha, Marina Garcia Costa Santos, 14.
Arquiteto formado pela FAU (Faculdade de Arquitetura de Urbanismo) da USP (Universidade de São Paulo), foi professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas por 25 anos.
Ingressou no PT em 1981, com 29 anos, a convite de Izalene Tiene. Concorreu pela primeira vez à Prefeitura de Campinas em 1988, quando foi eleito vice de Jacó Bittar, na época também petista.
A união dos petistas ruiu quando Toninho denunciou irregularidades na administração do companheiro e deixou a prefeitura da cidade.
As irregularidades eram referentes à licitação do VLT (veículo leve sobre trilhos). A implantação do sistema de transporte foi interrompida.
Em 1996, disputou a Prefeitura de Campinas, mas foi derrotado ainda no primeiro turno. Nas eleições de 2000, foi eleito com 290.132 votos, 59,79% dos votos válidos.

Repercussão
"Não consigo nem acreditar no que aconteceu. Vamos acompanhar de perto as investigações", desabafou ontem José Dirceu, presidente licenciado do PT.
"Estou simplesmente chocado. Toninho era uma pessoa com tanta vida, com tanta paixão pelo que fazia. Isso é um desastre", disse Dirceu, que estava de malas prontas para Brasília quando soube do caso.
"Queremos esclarecimentos totais sobre o que aconteceu. Isso é muito grave", afirmou o deputado federal José Genoino, provável candidato ao governo do Estado de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores.
"Lamentamos muito. O Toninho estava fazendo um trabalho muito bom em Campinas, uma excelente gestão", disse Genoino.
À 0h10 de ontem, Genoino já estava se dirigindo para Campinas para acompanhar a perícia da Polícia Civil e a realização dos laudos técnicos sobre o assassinato. "Vamos acompanhar com rigor toda a investigação."
O prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci Filho (PT), que conhecia Toninho desde 1988, disse que a morte foi muito estranha. "Não parece assalto. Embora tenhamos ainda poucos indícios, está parecendo crime político." "É uma perda muito grande para o partido, para a cidade. Ele era uma pessoa muito disposta, se dedicava inteiramente ao cargo."
Renato Simões, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, cobrou uma apuração rigorosa da polícia sobre o caso.
"O trajeto no qual ele foi assassinado era o mesmo que fazia todos os dias. Ele voltava sempre da academia que frequentava por ali, sozinho, e nunca teve problema", disse o deputado.



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