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53% dos formados no país trabalham em outras áreas
Pesquisa comparou a profissão de 3,5 milhões de trabalhadores formados em 21 áreas
Para pesquisador, pautados pelo vestibular, jovens deixam de cuidar da formação e se preocupam com a angústia profissional
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Todo ano, milhões de jovens
brasileiros se deparam com a
difícil escolha de uma carreira
ao se inscreverem num vestibular. O que poucos sabem, no
entanto, é que muitos provavelmente trabalharão numa
área que pouco ou nada tem a
ver com o curso escolhido, como mostra um estudo feito pelo instituto de pesquisa Observatório Universitário.
Ao comparar, a partir dos microdados do Censo do IBGE de
2000, a profissão de 3,5 milhões de trabalhadores formados em 21 áreas diferentes, os
pesquisadores descobriram
que a maioria deles, mais precisamente 53%, está hoje numa
profissão distinta daquela para
a qual se preparou. A situação
varia conforme a carreira. Em
enfermagem, o índice é de 84%.
Em geografia, é de só 1%.
A baixa correlação entre a
área de formação e a de trabalho levou os pesquisadores Edson Nunes e Márcia de Carvalho a definir, no título do trabalho, esse quadro como "A Grande Besteira Educacional Brasileira: um Ensino Profissional
que Não se Aplica às Profissões
que o Defendem".
Na avaliação de Nunes, coordenador do observatório e presidente do Conselho Nacional
de Educação, isso ocorre porque o Brasil escolheu "o pior
dos mundos" na elaboração de
seu modelo de ensino.
"O Brasil oferece uma educação secundária de péssima qualidade e uma profissional muito
precoce, o que faz com que nossos filhos tenham sua vida de
estudantes secundários pautada por vestibulares. Meninos
de 16 anos já têm que começar a
decidir se vão ser médicos ou
advogados, o que faz com que
deixem de ter uma formação e
passem a se preocupar com
uma angústia. Muitos serão
profissionais frustrados."
Nunes defende a tese de que
o objetivo maior do ensino superior é preparar pessoas competentes e com formação sólida
o suficiente para dominar linguagens que as permitam
aprender qualquer profissão.
"O grosso das profissões no
setor terciário se aprende em
um ano e meio ou dois. Grande
parte poderia ser aprendida em
ciclos de pós-graduação curtos.
Essa discussão está ausente no
debate sobre a reforma universitária proposta pelo governo,
que é mais uma discussão de
processos de regulação do sistema que de conteúdo e aprendizado", diz.
Para ele, um dos elementos
que engessam a educação é a
pressão das corporações profissionais para limitar a atuação
no mercado, regulamentar as
profissões e interferir na definição dos conteúdos ensinados.
"Há 43 profissões de nível superior reguladas por lei e uns 14
pedidos para outras. Essas profissões respondem pela vasta
maioria dos universitários, que
estudam hoje para fazer concursos, participar de concorrências ou ter o diploma."
Presidente do Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente do IBGE, o
sociólogo Simon Schwartzman
concorda com a necessidade de
flexibilizar o ensino. "Em geral,
o mercado de trabalho requer
uma formação muito menos
específica que as carreiras que
existem nas universidades."
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