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OPINIÃO
Entendendo o predador
JOSÉ ELIAS AIEX NETO
Discordo de Otavio Frias Filho
em vários pontos por ele colocados no texto "A confissão do predador" (Opinião, pág. 1-2, 20/8).
A psiquiatria não é um ramo incrivelmente atrasado. A psiquiatria
forense é que é relegada a segundo
plano, pelos seguintes motivos: a)
lida com a escória da sociedade e
poucos profissionais se dedicam a
ela; b) as autoridades judiciárias
não dão muito valor ao que os psiquiatras forenses afirmam.
Talvez os psiquiatras forenses de
São Paulo não consigam transmitir em linguagem inteligível para o
leigo o que, para nós, é muito simples: o motoboy não é louco. Tem
um defeito de personalidade (anti-social ou psicopática). As características desse tipo de pessoa são:
1) Voracidade. Eles não têm capacidade de se deprimir e não sabem o que é limite. Tal voracidade
pode ser dirigida ao poder, ao dinheiro (quantos psicopatas não
fraudam, corrompem etc. para ter
mais e mais?) ou ao sexo. Francisco diz que transou com mais de
mil mulheres. De repente, só o número não adiantava. Precisava incorporar parte delas ao seu organismo. Passou a mordê-las e depois matá-las, pois não podia deixá-las vivas após tal brutalidade.
2) Capacidade de enganar. Como todo bom político, empresário, pastor de igreja etc. que tenha
personalidade psicopática, o motoboy tem uma capacidade de sedução muito grande. Para eles, o
que importa são fins e não meios.
Não se deprimem; por isso, enganam com a maior tranquilidade.
3) Sentem-se bem na prisão. Não
achando seu próprio limite, quando a sociedade lhes dá o confinamento, é um alívio. O motoboy
mesmo disse que acha importantíssima a manutenção de sua custódia, pois está seguro de que, caso contrário, voltará a matar.
4) Não têm cura. O defeito de
personalidade não tem cura, assim como a atrofia de uma perna
em consequência de poliomielite
não é uma doença e não tem cura.
5) São semi-imputáveis. Não
respondem pelos crimes como os
imputáveis. Devem ir para o manicômio judiciário e receber "medida de segurança". Para sair de
lá, só com parecer de uma junta
psiquiátrica. Se eu fosse chamado
a fazer parte da junta para avaliar o
motoboy, nunca o liberaria. Na
prática, é prisão perpétua.
Finalmente, quem viu "O Silêncio dos Inocentes" deve lembrar
que o personagem Hannibal Lecter era um psicopata do tipo do
motoboy. No filme, ele foi isolado
do mundo. É o que se deve fazer
com Francisco. Além disso, é preciso parar de ter preconceito para
com psiquiatras. Nesses dias de
dor, sofrimento e indagações, podemos ajudar a entender muita
coisa. Só precisamos de aproximação maior com a sociedade.
José Elias Aiex Neto, 46, é médico psiquiatra.
Foi secretário municipal da Saúde de Foz do
Iguaçu (1992) e presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria (1985-87)
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