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Dirigente diz que ministério errou
ao suspender pagamento salarial
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes
das Instituições Federais de Ensino Superior), Carlos Roberto Antunes dos Santos, considera que o
MEC errou ao suspender o pagamento dos salários, num momento em que, segundo ele, as negociações com sindicatos de professores e servidores universitários
estavam evoluindo.
Reitor da Universidade Federal
do Paraná, ele acha justas as reivindicações dos grevistas, mas é
"totalmente contra" o cancelamento do semestre e do vestibular. "Ainda há tempo para a retomada do período letivo", afirmou
Santos, 55, em entrevista à Folha.
Leia, abaixo, os principais trechos
da entrevista:
Folha - O sr. acha que houve erro
do MEC na negociação da greve?
Carlos Roberto Antunes dos Santos - Na reunião em que o ministro nos disse que, se não houvesse
a retomada das atividades dos
servidores e professores, ele suspenderia o repasse das verbas para o salário, nós, da Andifes, colocamos que o momento não era
próprio para tomar essa decisão.
Já havia um processo de avanço
da negociação com a Fasubra
(sindicato que representa os servidores) e até comissões para discutir questões ligadas às pautas de
reivindicações.
Era um momento de construção do debate, e a nossa posição
era que o corte dos salários poderia levar a um processo de radicalização da greve. O ministro nos
explicou que estava cumprindo a
lei, mas achávamos que poderia
ter esperado mais um pouco.
Folha - A Andifes considera justa
a reivindicação dos grevistas?
Santos - Sim. No caso dos servidores, eles estão há sete anos sem
reajuste salarial. Com relação aos
docentes, que pedem um reajuste
de 75,48%, sabemos que há uma
enorme diferença entre o que eles
pedem e o que o MEC oferece.
Nós entendemos, no entanto, que
as reivindicações dos servidores e
dos professores devem iniciar um
processo de negociação com o governo. Consideramos justas as
pautas de negociação, mas jamais
nos posicionamos contra ou a favor à greve.
Folha - A greve pode pôr em risco
o semestre letivo e até alguns vestibulares. A Andifes não se posiciona sobre essa questão?
Santos - A Andifes é totalmente
contra a possibilidade de cancelamento do semestre e do vestibular. Sabemos que um movimento
de greve no segundo semestre pode ser fatal. Historicamente, os
reitores sempre foram favoráveis
à recuperação do semestre e à manutenção do vestibular.
A reposição das aulas vai depender de cada universidade, mas
ainda há tempo para a retomada
do período letivo.
Folha - Por que as universidades
federais chegaram a esse ponto?
Santos - Até a década de 80, chegamos a ter superávits de investimento nas universidades. Dos
anos 90 para cá, principalmente
na metade da década passada, esse investimento começou a diminuir. Nominalmente, ele pode até
ter aumentado, mas não acompanhou o aumento dos custos de
manutenção, dos reajustes de
água e de luz, por exemplo.
Hoje, existe nas instituições federais de ensino superior uma falta de professores bastante significativa. Atualmente, cerca de 15%
a 20% do quadro de docentes é
formado por professores substitutos, que recebem salários menores. Nós entendemos que há
um déficit de 6.000 professores,
além dos 2.000 que o MEC autorizou a contratar. O MEC discorda
desse número. A mesma situação
acontece com os funcionários.
Folha - O sr. reclama de falta de
professores, mas a relação de alunos por professor nas universidades federais brasileiras (de 10,5 para 1) é menos eficiente do que na
maioria das universidades de ponta americanas e européias. O problema não estaria no gerenciamento das universidades públicas?
Santos - Não dá para comparar o
incomparável. A situação de um
docente no Brasil é diferente da situação de um professor nessas
instituições, começando pelo salário e passando pelas condições
de trabalho. Esses números também não batem porque não levam em conta que a universidade
oferece um número muito grande
de serviços e de cursos de extensão ou de aperfeiçoamento.
Não é um problema de gerencial. A avaliação a que as universidades federais se submetem mostra a qualidade do nosso ensino e
pesquisa.
Folha - Quando o ministro da
Educação assumiu, falou-se muito
na aprovação do projeto de autonomia universitária. Por que o projeto não foi adiante?
Santos - Eu não era reitor na
época, mas a informação que temos é que o projeto só não foi
aprovado porque a equipe econômica tomou a decisão de barrá-lo.
Vivemos limitados por um cipoal
de leis que torna extremamente
pesada, lenta e burocrática a atividade dentro da universidade.
Foi por isso que foram criadas
as fundações privadas de apoio.
Elas agilizam muito o nosso dia-a-dia. Estamos colocando ao
MEC a necessidade de retomada
da discussão do projeto. Mas parece que as coisas vão contra a
maré. Recentemente, saiu uma
portaria que libera 2.000 vagas para as federais, mas restringe a contratação de professores sem doutorado. Em algumas áreas, como
jornalismo, música ou artes, é
muito difícil encontrar profissionais com doutorado.
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