São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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TRANSPORTES

FHC inaugura trecho de obra que melhora conexão entre cidades da Grande SP, mas que terá impacto limitado na capital

Rodoanel é vitrine e vidraça de gestão tucana

Patrícia Santos/Folha Imagem
Estudante em trecho do Rodoanel que será aberto amanhã a veículos; ao fundo, obra de passarela


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso inaugura hoje a maior obra rodoviária feita em São Paulo na gestão Covas/Alckmin. Após três anos e meio de construção, a totalidade do trecho oeste do Rodoanel será aberta ao tráfego, interligando cinco das dez rodovias que chegam à capital paulista: Bandeirantes, Anhanguera, Castello Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencourt.
Dos 32 km de estrada, 14 km já foram entregues nos últimos dez meses. A inauguração dos 18 km restantes, entre a Raposo e a Anhanguera, acontece hoje, mas as pistas serão liberadas ao trânsito apenas amanhã, às 6h. A obra é uma das principais vitrines e, ao mesmo tempo, uma das maiores vidraças do governo tucano.
Vitrine porque tem a sua importância reconhecida por especialistas para facilitar a conexão entre municípios da região metropolitana e para ajudar a ordenar a passagem de caminhões no trecho urbano de São Paulo.
Vidraça porque sofreu alterações contratuais que elevaram em 70% os preços pagos às construtoras, porque as melhorias ao trânsito devem ser menores do que a "propaganda" e porque a obra será aberta com algumas "pendências" -falta de passarelas e de iluminação, por exemplo.
A Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) prevê que a inauguração do trecho oeste vai evitar que 3.000 caminhões passem diariamente pelas marginais, na capital paulista. Eles representam 10% dos veículos de carga que chegam nas cinco rodovias interligadas pelo Rodoanel, mas apenas 2,8% dos 108 mil caminhões que utilizam a marginal Tietê e 5,3% dos 57 mil que usam a Pinheiros. Ou seja, a nova estrada pode ajudar, mas está longe de reduzir os congestionamentos.
A própria Dersa manifesta temor sobre a expectativa da população. "Sempre tive esse receio. É preciso deixar claro que pode melhorar para quem estiver em uma área de influência, mas não vai melhorar nada na avenida Paulista", diz Nelson Maluf El Hage, assessor da diretoria da Dersa e ex-presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
O EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente) do trecho oeste, feito em 1997, também explicitava esse efeito reduzido para a lentidão do trânsito. As projeções eram de que esse trecho do Rodoanel poderia elevar a velocidade média dos carros em São Paulo de 27,52 km/h para 27,98 km/h -e que, em 2010, ela já cairia para 19,33 km/h por causa da elevação da frota paulistana.
Mesmo com essa constatação, a obra é considerada importante não só por prever um fluxo de 150 mil veículos por dia -quase três vezes a movimentação do sistema Anchieta/Imigrantes- como por ser um primeiro passo para a construção dos 170 km do Rodoanel, que trarão mais benefícios.

Prefeitura
Os efeitos no trânsito são vistos de maneira ainda mais pessimista pela Prefeitura de São Paulo, sob comando da petista Marta Suplicy. Pedro Nagao, chefe da assessoria técnica da Secretaria dos Transportes, diz que a situação do trânsito pode até "piorar" com a inauguração do trecho oeste.
Ele avalia que os caminhões que hoje chegam da Régis, Castello e Raposo para pegar a Dutra, por exemplo, ainda terão que utilizar a marginal Tietê e acabarão se concentrando na chegada do sistema Anhanguera-Bandeirantes.
Pelos cálculos da prefeitura, a velocidade média na marginal Pinheiros até aumentaria, de 48 km/h para 50 km/h, mas seria reduzida na Tietê, de 29 km/h para 27,5 km/h. Nagao reivindica obras da alargamento na chegada das pontes Atílio Fontana e Ulysses Guimarães para evitar esse possível impacto negativo.
"É um raciocínio errado. O novo trecho será uma opção a mais, vai distribuir melhor. Os caminhões podem evitar um trecho da marginal", diz El Hage, da Dersa.
A disputa entre Estado e prefeitura sobre as obras do Rodoanel acontece desde a inauguração do primeiro trecho, em dezembro -Anhanguera-Raimundo Pereira de Magalhães. Na abertura da ligação Régis-Raposo, em abril, também houve divergência.
Enquanto a gestão Marta critica Alckmin por não atender a pedidos de melhorias viárias para atenuar os impactos, a gestão Alckmin critica Marta pela falta de participação financeira na obra.
Depois que a prefeitura abdicou de bancar 25% dos custos do Rodoanel, ainda na gestão Celso Pitta, os governos estadual e federal assumiram 66,66% e 33,33% dos gastos de R$ 1,25 bilhão, respectivamente, valor que inclui obras, projetos, estudos ambientais, desapropriações e reassentamentos.
Embora vá liderar a inauguração, FHC ainda deve R$ 80 milhões para completar a sua parte. Os atrasos do governo federal levaram a dois adiamentos da entrega -de julho para setembro e de setembro para outubro.


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