|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Avaliação externa da USP divide os candidatos à reitoria
A participação da universidade no Enade não é consenso entre professores que disputam eleição; alguns deles elogiam o sistema, outros são contra
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os oito candidatos à reitoria
da USP (Universidade de São
Paulo) se dividem sobre a não
participação da USP (Universidade de São Paulo) no Enade
(substituto do Provão), um dos
temas mais polêmicos e recorrentes nos debates eleitorais.
Há quem elogie o sistema de
avaliação do governo federal e
quem o critique. Há quem diga
que a USP deve participar do
Enade e quem defenda a ausência da universidade.
Em todo o Brasil, apenas os
alunos da USP e da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) não participam do
exame. As duas universidades
estaduais dizem que não concordam com a metodologia.
O Ministério da Educação
usa as notas do Enade para avaliar a qualidade do ensino superior brasileiro.
Vestibular
Ao contrário da questão do
Enade, os candidatos têm pensamentos semelhantes em relação ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Eles não acreditam que a
USP deva fazer como boa parte
das universidades federais, que
decidiu substituir seus vestibulares pelo Enem.
Atualmente, a nota do Enem
tem, sendo esse o desejo do
candidato, peso de até 20% na
primeira fase do vestibular.
Além disso, esse exame garante
um bônus na nota dos estudantes vindos de escolas públicas.
O Enem também é realizado
pelo Ministério da Educação.
Na semana retrasada, descobriu-se que a prova que seria
aplicada no fim de semana passado havia sido furtada de uma
gráfica, e o MEC teve de adiá-la
para dezembro.
Eleição
A eleição para a reitoria da
universidade mais conceituada
do Brasil é realizada em dois
turnos. O primeiro será no próximo dia 20. O segundo, no dia
10 de novembro.
A decisão final, no entanto,
caberá ao governador José Serra (PSDB), que escolherá o novo reitor a partir da lista de três
nomes que sairá do segundo
turno da eleição.
Podem votar nas eleições da
USP somente os membros do
Conselho Universitário, dos
conselhos centrais e das congregações das unidades.
Teoricamente, todos os professores titulares da Universidade de São Paulo podem ser
candidatos nas eleições para a
reitoria. Até o momento, oito
professores se declararam candidatos publicamente. O professor que vencer a eleição deste ano substituirá a reitora
Suely Vilela.
Leia, a seguir, o que disseram
à Folha a respeito do Enem e
do Enade os professores candidatos Armando Corbani (pró-reitor de pós-graduação),
Francisco Miraglia (professor
do Instituto de Matemática e
Estatística), Glaucius Oliva (diretor do Instituto de Física de
São Carlos), João Grandino
Rodas (diretor da Faculdade de
Direito), Ruy Altafim (pró-reitor de cultura e extensão), Sonia Penin (diretora da Faculdade de Educação), Sylvio Sawaya
(diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e Wanderley Messias da Costa (coordenador de comunicação social
da USP).
ARMANDO CORBANI
"O Conselho de Graduação
enviou uma série de correspondências ao sistema federal dizendo que, para entrar tranquilamente no Enade, gostaria que
fossem atendidos determinados itens. E parece que não foram atendidos, mas é uma
questão de tempo. Está sendo
discutido um aprimoramento
do sistema. O Enade deve funcionar como um centro de diagnósticos, não um sistema punitivo. Em relação ao Enem, a
USP já tem tradição em seu
vestibular. A medida atual [um
pequeno peso do Enem no vestibular] está adequado para as
nossas necessidades."
FRANCISCO MIRAGLIA
"A posição que a USP tomou
sobre o Enade, de não participar, me parece adequada. Eu
não imagino que um exame
desses, num país com a diversidade do Brasil, possa medir a
boa formação dos profissionais
egressos da universidade. As
características de um bom profissional aqui não são as mesmas características de um bom
profissional em outros lugares
do país. Eu não sou favorável
que a Universidade de São Paulo use o Enem como vestibular
a esta altura do campeonato. É
claro que o Enem tem méritos,
mas isso [a fraude] nunca aconteceu com a Fuvest."
GLAUCIUS OLIVA
"É muito bom existir um exame nacional. O Enem, porém,
não deve substituir o vestibular
nas carreiras mais disputadas
[da USP]. Pode ser a primeira
fase. Nas carreiras de baixa procura, o Enem é suficientemente seletivo para substituir o vestibular. Em relação ao Enade,
se a USP é um paradigma na
educação e exerce liderança, é
fundamental que participe dos
exames nacionais. Quando participa do Enade, a USP não só se
avalia, mas ajuda o resto do país
dando um exemplo de qualidade e estimulando o sistema [de
ensino superior] como um todo
a progredir."
JOÃO GRANDINO
"É imprescindível que a USP
não se furte a ser avaliada pelos
métodos nacionais [Enade]. Isso não significa que sejamos
avaliados simplesmente por esses meios. A universidade tem
um pessoal tão grande e um
campo tão grande que precisa
formular regras próprias de verificação. Quanto ao Enem,
nem sempre podemos fazer
com que a USP utilize as medidas que hoje são feitas nacionalmente pelo governo federal
[muitas universidades federais
usam o Enem como substituto
do vestibular]. De qualquer forma, a USP deve sugerir métodos de aperfeiçoamento."
RUY ALTAFIM
"Os fóruns internos da USP
decidiram pela não participação no Enade por inúmeras razões, como a possibilidade de
os boicotes [de alunos] prejudicarem a instituição. Estou de
acordo com o Conselho de Graduação, que é um órgão respeitado e teve todo o cuidado ao
tomar essa decisão. De qualquer forma, a USP não foge das
avaliações. A lei determina que
as instituições estaduais devem
ser avaliadas pelo Conselho Estadual de Educação [e não pelo
MEC], e isso é feito. Sobre o
Enem, creio que fatos dessa natureza [o vazamento da prova]
não comprometem a credibilidade do exame."
SONIA PENIN
"Na USP, grande parte dos
cursos tem uma relação candidato/vaga grande. Por isso, o
Enem não pode substituir o
vestibular. A universidade tem
o direito de escolher o tipo de
aluno que quer, e faz isso por
meio de seu vestibular. Em relação ao Enade, eu tenho sido
voto vencido na USP [que decidiu pela não participação na
prova]. É claro que a avaliação
perfeita não existe, mas deveríamos fazer uma colaboração
com o sistema nacional [de avaliação do ensino]. Dessa forma,
nós poderíamos comparar [a
universidade] no âmbito nacional e, assim, ajudar na melhoria
da instituição."
SYLVIO SAWAYA
"Foi uma bobagem a universidade não ter participado do
Enade. Todo mundo sabe que a
relação da USP com o governo
federal é difícil. Mas, se você
não mantém a relação e não batalha, fica ainda pior. A USP
tem que se relacionar afirmativamente com o governo federal, em todos os sentidos, no
pré-sal, na atendimento da saúde etc. Acredito que o Enem
não deve ser substituto do vestibular. O atual uso do Enem
[com um pequeno peso na primeira fase do vestibular] deve
ser mantido. A Fuvest [que realiza o vestibular da USP] é uma
instituição de enorme credibilidade."
WANDERLEY MESSIAS
"Não sou favorável a usar o
Enem como substituto do vestibular. Está bem do jeito que
está hoje. Não me parece correto aplicar a mesma prova em
todo o Brasil, que é um país
muito diversificado e os sistemas curriculares variam de Estado para Estado. Eu particularmente não acho que a USP
deva participar do Enade neste
momento porque antes disso
nós mesmos [a USP] temos que
avaliar as condições de nossos
cursos de graduação, incluindo
instalações, equipamentos,
metodologia, proporção entre
alunos e professores... A USP
tem que discutir esse caminho
primeiro."
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Folha faz dois debates com os 8 candidatos a reitor da USP Índice
|