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Incentivados pelos pais, crianças se tornam aprendizes de gourmet
Elas frequentam restaurantes sofisticados na capital e apuram o paladar em viagens gastronômicas, sempre fugindo da dupla hambúrguer e cachorro-quente
ANA PAULA BONI
DA REVISTA DA FOLHA
"Humm, adoro pato. Sempre
gosto de pedir o magret, com
aquele molho. Como é mesmo
o nome?" Marina Cheng Pereira abre um sorriso ao lembrar
do prato degustado recentemente no restaurante La Brasserie Erick Jacquin, em Higienópolis, com molho rôti. À base
de carne e vinho, o caldo concentrado rega finas fatias de um
peito de pato malpassado, que
chega à mesa com sua capa de
gordura também quase crua.
Apesar dos dez anos, Marina
ostenta um paladar de adulto. A
primeira vez que experimentou magret foi aos seis anos e,
aos quatro anos, já tinha provado escargot.
A lista do que Marina experimentou é grande -sopa de barbatana de tubarão, steak tartar,
pekin duck, sashimi, sukiyaki
("você mergulha a carne no ovo
cru e fica muito bom").
Os gostos gastronômicos fazem da garota paulistana parte
de uma turminha diferente.
São crianças que não querem
mais saber de cardápio infantil.
Estimulados pelos pais, esses
pequenos gourmets são apresentados a um vasto mundo
gastronômico.
De restaurante em restaurante, Giancarlo Cappelli
Wong, 7, sempre quer ir no Tatini, nos Jardins. "A gente vai
até demais lá. O Gian adora um
prato que é feito à mesa", diz a
mãe, a consultora imobiliária
Carla von Gabriel Wong. Viciado em comida italiana, o menino fica hipnotizado quando
chega seu prato preferido: ravióli de carne à moda.
Se não for no Tatini, onde até
os garçons sabem o que ele come, Gian gosta de dar uma espiada no menu. "Leio primeiro
as massas, depois as saladas e a
sobremesa." Nada do cardápio
infantil. E Giancarlo tem apenas sete anos.
Mas, os pais também devem
ser os responsáveis por apertar
o freio, frisa a professora Maria
Angela Barbato Carneiro, coordenadora da Brinquedoteca da
PUC-SP. "É bem interessante a
criança ter um paladar mais
apurado, mas os pais devem observar se elas comem demais."
Pé na cozinha
Não é uma relação obrigatória, mas algumas dessas crianças adquirem também gosto
pela cozinha.As irmãs Camila e
Julia di Gianni Mora Valdesoiro, por exemplo, passaram a
frequentar aulas de culinária. O
primeiro curso foi na Escola
Wilma Kövesi de Cozinha.
As aulas, conta Betty Kövesi,
que pilota o curso há 18 anos,
são uma boa oportunidade para
a meninada perder preconceitos, porque conhecem ingredientes e acompanham a transformação dos alimentos.
Com receitas debaixo do braço, no Natal, é a vez de cada
uma fazer um prato. "Eu faço
torta de palmito", conta Camila, 11. A sobremesa fica por conta de Julia, 14: cheesecake com
geleia de framboesa.
Esse tipo de experiência gastronômica em casa, afirma a terapeuta de família Magdalena
Ramos, traz mais benefícios
para a criança que a ida a restaurantes. "Não acho que seja
um programa para uma criança
de sete anos ficar duas horas
sentada num lugar que exige
um comportamento de adulto."
De acordo com a terapeuta,
os pais devem ficar atentos para levar os filhos para o ambiente infantil, em vez de só puxá-los para o mundo dos adultos.
Joelho de porco
A internacional Marina, que
ostenta no passaporte carimbos de viagens gastronômicas
por países como Japão, Alemanha e França, gosta de se arriscar. Em Paris, há dois anos, encarou uma opção à primeira
vista indigesta. "Quando entramos, um velhinho comia joelho
de porco com lentilhas."
Ela pediu o prato e a opção foi
seguida também pelos pais.
"Era tão bom que numa segunda viagem voltamos lá", conta
Marina, que torce o nariz para o
feijão servido na escola. "Ela é
muito exigente", diz a mãe Ramona. "Pode ser arroz e feijão,
mas tem que ser benfeito."
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