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SP 450
Sistema de transporte coletivo sobre trilhos, que chegou a ter mais de 300 quilômetros de extensão, operou na cidade até 68
Acabar com o BONDE foi uma injustiça
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao entrar em um
bonde para a sessão
de fotos, no Museu
do Transporte Público de São Paulo, Abelias Rodrigues da Silva, 89, não escondia o
sorriso de satisfação.
Afinal, foi dentro de
um desses exemplares que passou boa
parte dos 33 anos de
sua vida trabalhando
como motorneiro da
São Paulo Tramway
Light and Power
Company, a Light,
empresa que fez parte da vida dos paulistanos, também por
conta do fornecimento da energia elétrica, até 1981, quando passou a se chamar Eletropaulo.
"É muito bom voltar ao "comando",
ainda que seja apenas
para uma foto", diz
ele sobre o meio de
transporte que surgiu
oficialmente na cidade em 1872. Na época, os primeiros bondes, da Companhia de Carris de
Ferro de São Paulo, circulavam
ainda com tração animal (burros)
e eram importados dos Estados
Unidos.
Até então, o bonde era chamado
de diligências por trilhos de ferro.
O nome bonde somente foi adotado a partir de uma corruptela da
palavra inglesa ""bond" (usada para designar certificado de débito),
que era uma espécie de ""vale-transporte" válido para pagar a
passagem no lugar de dinheiro.
Segundo Abelias, que trabalhou
no sistema de bondes de 1935 a
1968, o transporte era eficiente e
contava com a simpatia da população. "Até os motoristas dos carros gostavam da gente porque
usavam os trilhos para trafegar,
evitando as ruas de paralelepípedos que estragavam os pneus e as
suspensões dos automóveis."
Por causa disso, explica Abelias,
a borracha dos pneus acabava impregnando os trilhos e tornando-os escorregadios nas subidas. "A
gente tinha uma espécie de balde,
carregado de areia, para jogar no
trilho e dar atrito", recorda.
Com os bondes, a população tinha à disposição um
meio de transporte
barato. Impedida pelo governo de reajustar as tarifas, a Light
teve de manter o preço inalterado por
mais de 30 anos. Somente em 1947,
quando foi criada a
CMTC (Companhia
Municipal de Transportes Coletivos) para assumir o sistema
de bondes e transporte da cidade, que
a tarifa foi reajustada.
"Houve uma revolução popular. As
pessoas queimavam
os bondes nas ruas, e
aconteceram confrontos com a polícia", lembra Abelias.
Com o crescimento desordenado de
São Paulo, o transporte sobre trilhos se
tornou ineficaz para
acompanhar a necessidade da população por transporte
público. Por isso, os
ônibus, mais rápidos
e independentes,
passaram a disputar passageiros
com os bondes. Como consequência, ainda na metade no século passado, gradativamente as
linhas de bonde foram sendo desativadas, substituídas por ônibus.
Acusado de atrapalhar o trânsito, o bonde acabou sendo considerado uma peça do passado,
conflitante com o desenvolvimento urbano e industrial pelo
qual passava a cidade de São Paulo na década de 60.
Mas a decisão de aposentar definitivamente o bonde veio do prefeito Faria Lima, em 1968, quando
restava apenas uma linha. Na última viagem, em 27 de março, 12
veículos fizeram o percurso do
Instituto Biológico (Vila Mariana)
a Santo Amaro. Dentro do carro
número 1.543 seguiam o prefeito
e o governador, Abreu Sodré, e
milhares de pessoas foram às ruas
para se despedir.
"Deu um aperto muito grande
no peito assistir à cerimônia. Muita gente chorava, principalmente
os mais velhos. Foi uma injustiça", diz Abelias.
(KIYOMORI MORI)
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