São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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PEDAGOGIA

Dislexia tem tratamento também para os adultos

Pacientes buscam resolver dificuldades no trabalho ou para voltar à sala de aula

Distúrbio não é considerado doença, mas apenas um transtorno que pede métodos diferentes de aprendizagem ao portador

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca é tarde para aprender. Essa frase resume a idéia de especialistas de que jovens e adultos com dislexia, que não detectaram ou não trataram esse distúrbio de aprendizagem ainda nos primeiros anos de escola, podem buscar tratamento em qualquer momento da vida e minimizar as dificuldades com a leitura, a escrita ou a fala.
Isso significa que quem achou durante anos que a escola era muito difícil ou que não tinha vocação para estudar ainda tem chance de aprimorar suas habilidades. Muitos estão buscando tratamentos para resolver dificuldades no trabalho ou para voltar à sala de aula.
A possibilidade de melhora começa pelo fato de a dislexia não ser uma doença, mas um transtorno de aprendizagem. O disléxico utiliza cerca de quatro vezes mais áreas do cérebro em atividades como a leitura. Por isso, as informações às vezes se "embaralham" e ele cansa mais rápido. Não se trata de um problema de inteligência.
Segundo Birgit Mobus, fonoaudióloga e psicopedagoga da Escola Suíço-Brasileira, o tratamento nos adultos é muito parecido ao aplicado em crianças e inclui exercícios como a identificação de sons e sílabas, jogos, rimas, leituras etc.
Ela diz que o tratamento em crianças é muito indicado "para evitar que fiquem com baixa auto-estima e desistam dos estudos". Nessa fase, o cérebro facilita o aprendizado porque cria conexões mais facilmente.
Contudo, ela diz que "os resultados também são bons após a infância, mas com recursos diferentes. O cérebro desenvolve áreas de compensação."
Um estudo feito recentemente pela Universidade de Padova, na Itália, sugere que "não há idade" para recuperar o tempo perdido. Os pesquisadores mostraram que alunos disléxicos de 6ª, 7ª e 8ª séries tiveram a mesma melhora que os de 3ª e 4ª séries- momento em que geralmente é indicado o início do tratamento- após exercícios para a fluência e precisão na leitura oral de textos.
Após frequentarem uma clínica por período de três a quatro meses, os alunos "mais velhos", de um grupo de 55 crianças, tiveram resultados semelhantes aos mais novos na qualidade e na rapidez da leitura.

Descoberta
Muitos pais hoje descobrem que são disléxicos após o problema ser detectado no filho, já que o distúrbio é genético.
Segundo Raquel Caruso, psicopedagoga da clínica Edac, a dislexia pode ser detectada dois anos após o início da alfabetização, geralmente entre a 2ª e a 3ª séries, mas muitos profissionais ainda não estão preparados para identificar o distúrbio.
"Dei uma palestra para um público de cerca de 80 professores da rede pública. Nenhum disse ter pelo menos um aluno disléxico, o que é muito difícil", afirma Raquel.
Birgit Mobus diz que tratar a dislexia é positivo, mas que é comum que pessoas que não procuram um especialista desenvolvam sozinhas formas de compensar as dificuldades.
Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, pesquisas em vários países mostraram que entre 5% e 17% da população mundial é disléxica.


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