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Foco
Tour "macabro" em SP leva curiosos ao edifício Joelma e a cemitérios
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com uma faca sangrenta
"atravessada" na cabeça, a
guia entra no ônibus (enfeitado com véus e morcegos,
ao som de "Romance de Uma
Caveira") -e murmura no
microfone, em voz fúnebre:
"Já estão com medo? É essa
nossa intenção".
E era isso que as pessoas
queriam ao pagar R$ 30 pelo
tour São Paulo Além dos Túmulos, que percorre, todo
mês, os pontos de mau agouro da cidade. "O atrativo
principal é mesmo a morte",
assume o consultor de turismo Jeck Silva, 32, de mãos
dadas com a namorada, para
o primeiro "tour da morte"
de suas vidas, na ensolarada
tarde do último domingo.
"Na Europa é comum", diz
a guia Ângela Arena, citando
a visitação do cemitério Père-Lachaise, em Paris, enquanto o ônibus partia do
largo do Arouche em direção
à casa de Dona Yayá. É lá, onde a rica herdeira Sebastiana
Mello Freire passou 35 anos
trancafiada -tomada por
doente mental-, que o tour
começa. "O lugar ainda é visitado por Yayá", afirma. "É
que ela só saiu daqui morta."
O tom é sempre de humor,
seja no beco dos aflitos, antigo cemitério popular na Liberdade; no castelo da rua
Apa, famoso pela misteriosa
morte dos irmãos e da mãe
da família Reis; ou mesmo
no edifício Joelma, palco do
incêndio que matou 188 pessoas em 1974 (foi uma das
maiores tragédias de SP).
"Olha lá a Yayá, uuuu",
riam os passageiros, enquanto o ônibus parava em frente
ao prédio. Aqui ninguém
desce. "A administração não
acha adequado", afirma Carlos Silvério, dono da agência
Graffit Turismo, que organiza mensalmente o passeio.
"Aqui se percebem atividades paranormais", diz a
guia, enquanto os passageiros fotografavam o Joelma
pela janela, do celular. "Treze pessoas pegaram o elevador e morreram ali dentro.
São as 13 almas desconhecidas do Joelma." Silêncio.
Mas ela continua e diz que,
no mesmo terreno, décadas
antes, o "crime do químico"
apavorou a cidade. Até o padre Quevedo teria vindo ali
medir a atividade de fantasmas de tantas tragédias. "Os
seguranças ainda brigam para fugir do turno da noite",
diz Arena. "É que há vozes."
Mas o público não se amedronta -antes mastigam as
"línguas de múmia", chicletes que adormecem a boca
distribuídos pela agência.
"Adoro ver filme de cemitério e tudo sobre a morte", diz
Jefferson Jardim, 10, os
olhos grudados no túmulo da
marquesa de Santos, enquanto as mulheres davam
voltinhas "para casar". Pois é
ali, no cemitério da Consolação, que o tour tem sua parada de 50 minutos.
Trazido pelo tio, Jefferson
não perdia uma explicação,
fosse sobre as obras do escultor Victor Brecheret; o suicídio do advogado Moacyr Piza, "que morreu de amor por
uma cliente prostituta"; ou
sobre o "maior mausoléu da
América Latina", segundo a
guia, o dos Matarazzo.
Só quatro horas (e muitas
histórias macabras) depois é
que o tour termina -mas
não sem o "lanchinho fúnebre" (amendoim e chocolate
de morango enrolados em
celofane negro) e a despedida não menos tétrica da guia.
"A morte é um fato, a gente
só não sabe quando", filosofa
Arena. "Então riam mais,
aproveitem mais -aproveitem enquanto é tempo."
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