São Paulo, quarta-feira, 11 de novembro de 2009

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Milícias ocupam mais favelas que facção

Quadrilhas de policiais, bombeiros e militares controlam 400 áreas no Rio, contra 393 do grupo Comando Vermelho

Megaoperação policial prendeu ontem dois PMs e outras 16 pessoas acusadas de integrar a Liga da Justiça, principal milícia da zona oeste

RAPHAEL GOMIDE
FABIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Quadrilhas de policiais, ex-policiais, bombeiros ou ex-militares que exploram serviços clandestinos de segurança, vans, venda de botijões de gás, TV a cabo e praticam extorsão contra comerciantes em troca de suposta "proteção" já ocupam mais áreas que a principal facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho (CV).
Chamados de milícias, os grupos criminosos avançaram rapidamente entre 2005 e 2008 sobre os territórios antes dominados por facções de drogas, segundo pesquisa do Nupevi (Núcleo de Pesquisa das Violências), da Uerj.
Em 2005, as milícias ocupavam 108 das 965 favelas existentes no Rio, segundo o Instituto Pereira Passos, da prefeitura. Em 2008, esses grupos já tinham controle sobre 400 (41,5%) favelas, contra 393 do CV. Hoje, apenas 27 (2,8%) das comunidades da cidade estão livres do poder de traficantes ou milicianos.
Os mais frequentemente desalojados pelas milícias foram os traficantes da facção mais poderosa antes, o Comando Vermelho, que viu seu domínio de metade das favelas do Rio cair para 40,8%.
"Esse aumento impressionante significa o fracasso da segurança pública. As milícias tiveram o apoio da população, apavorada com a violência de traficantes. Inicialmente, [as milícias] davam proteção maior que a do tráfico, mas depois expandiram os negócios e passaram a explorar a população, inclusive eleitoralmente", afirmou a antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Nupevi.
Dominantes na zona oeste do Rio, os milicianos começaram a se espalhar para a zona norte e o subúrbio, identificou o trabalho da Uerj.
Com a eventual expansão das milícias e o aumento da repressão policial ao tráfico, a pesquisadora prevê mais guerras por disputa dos territórios ocupados, como a que ocorreu recentemente, quando traficantes do Morro dos Macacos tentaram invadir o São João. "O Comando Vermelho está encurralado", diz Zaluar.
O relatório foi encaminhado à Secretaria de Segurança. Zaluar diz acreditar que ele já influencia a política de segurança do Estado.

Prisões
Dois policiais militares e outras 16 pessoas acusadas de integrar a Liga da Justiça, principal milícia que age na zona oeste, foram presos ontem durante uma operação que contou com 360 policiais civis.
A polícia se dividiu para cumprir 46 mandados de prisão e 80 de busca e apreensão. Como 14 mandados de prisão se referiam a pessoas já presas (que tiveram expedidos contra elas novos mandados de prisão), só 32 eram procuradas. Dessas, 19 foram presas, mas uma delas conseguiu uma decisão judicial e foi liberada.
O cabo Ivo Matos da Costa Júnior, o Tomate, acusado de atuar no Batalhão de Policiamento em Vias Especiais, é considerado o principal miliciano preso ontem. "Ele se aproveitava do fato de ser policial para amedrontar", afirma Ronaldo Oliveira, diretor de polícia da capital.
A Folha não conseguiu ouvir representantes dos presos.


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