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Milícias ocupam mais favelas que facção
Quadrilhas de policiais, bombeiros e militares controlam 400 áreas no Rio, contra 393 do grupo Comando Vermelho
Megaoperação policial prendeu ontem dois PMs e outras 16 pessoas acusadas de integrar a Liga da Justiça, principal milícia da zona oeste
RAPHAEL GOMIDE
FABIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Quadrilhas de policiais, ex-policiais, bombeiros ou ex-militares que exploram serviços
clandestinos de segurança,
vans, venda de botijões de gás,
TV a cabo e praticam extorsão
contra comerciantes em troca
de suposta "proteção" já ocupam mais áreas que a principal
facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho (CV).
Chamados de milícias, os
grupos criminosos avançaram
rapidamente entre 2005 e
2008 sobre os territórios antes
dominados por facções de drogas, segundo pesquisa do Nupevi (Núcleo de Pesquisa das
Violências), da Uerj.
Em 2005, as milícias ocupavam 108 das 965 favelas existentes no Rio, segundo o Instituto Pereira Passos, da prefeitura. Em 2008, esses grupos já
tinham controle sobre 400
(41,5%) favelas, contra 393 do
CV. Hoje, apenas 27 (2,8%) das
comunidades da cidade estão
livres do poder de traficantes
ou milicianos.
Os mais frequentemente desalojados pelas milícias foram
os traficantes da facção mais
poderosa antes, o Comando
Vermelho, que viu seu domínio
de metade das favelas do Rio
cair para 40,8%.
"Esse aumento impressionante significa o fracasso da segurança pública. As milícias tiveram o apoio da população,
apavorada com a violência de
traficantes. Inicialmente, [as
milícias] davam proteção
maior que a do tráfico, mas depois expandiram os negócios e
passaram a explorar a população, inclusive eleitoralmente",
afirmou a antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Nupevi.
Dominantes na zona oeste do
Rio, os milicianos começaram a
se espalhar para a zona norte e
o subúrbio, identificou o trabalho da Uerj.
Com a eventual expansão das
milícias e o aumento da repressão policial ao tráfico, a pesquisadora prevê mais guerras por
disputa dos territórios ocupados, como a que ocorreu recentemente, quando traficantes do
Morro dos Macacos tentaram
invadir o São João. "O Comando Vermelho está encurralado", diz Zaluar.
O relatório foi encaminhado
à Secretaria de Segurança. Zaluar diz acreditar que ele já influencia a política de segurança
do Estado.
Prisões
Dois policiais militares e outras 16 pessoas acusadas de integrar a Liga da Justiça, principal milícia que age na zona oeste, foram presos ontem durante
uma operação que contou com
360 policiais civis.
A polícia se dividiu para cumprir 46 mandados de prisão e
80 de busca e apreensão. Como
14 mandados de prisão se referiam a pessoas já presas (que tiveram expedidos contra elas
novos mandados de prisão), só
32 eram procuradas. Dessas, 19
foram presas, mas uma delas
conseguiu uma decisão judicial
e foi liberada.
O cabo Ivo Matos da Costa
Júnior, o Tomate, acusado de
atuar no Batalhão de Policiamento em Vias Especiais, é
considerado o principal miliciano preso ontem. "Ele se
aproveitava do fato de ser policial para amedrontar", afirma
Ronaldo Oliveira, diretor de
polícia da capital.
A Folha não conseguiu ouvir
representantes dos presos.
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