São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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Bairros enfrentam água, esgoto e medo

Dois dias após uma das maiores chuvas dos últimos anos, ao menos seis localidades da zona leste ainda têm ruas alagadas

Vazamento de esgoto da Sabesp e a ocorrência de saques aumentam o caos; governos dizem que área não deveria ser habitada

Mastrângelo Reino/Folha Imagem
Moradores da zona leste da capital paulista ainda estão sofrendo com ruas e casas alagadas no região conhecida como Pantanal

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dias após as chuvas castigarem São Paulo, ao menos seis bairros da zona leste ainda sofriam ontem com ruas e casas inundadas, com o risco de doenças por causa do vazamento de esgoto e pelo medo, decorrente do risco de saques.
No Pantanal, como é conhecida a região na margem do Tietê em São Miguel Paulista, casas ainda tinham mais de um metro de água. Para piorar, o esgoto se misturou à água, já que duas estações da Sabesp foram afetadas pela inundação.
Segundo nota assinada por três órgãos do governo paulista -Secretaria de Saneamento e Energia, DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e a própria Sabesp-, a água demora a baixar porque a região é uma área de várzea, "que é um espaço natural de amortecimento da cheias".
A justificativa também foi usada pela prefeitura, que informou que "a localidade está sujeita às ocorrências relacionadas às cheias do rio" por estar em região de várzea. No local vivem cerca de 10 mil, boa parte em situação irregular, em área de preservação ambiental.
O problema afeta Vila Seabra, Vila da Paz, Jardim São Martinho, Vila Aimoré, Vila Itaim e Jardim Romano. Apesar do nome da região -Pantanal-, moradores dizem que inundações como a desta semana são incomuns. No Jardim Romano, a última foi em 1997.
Moradores ouvidos pela Folha reclamaram do descaso. Muitos disseram que perderam seus bens e não receberam nenhuma ajuda de nenhum governo. A reportagem percorreu ontem as ruas do Jardim Romano e não se deparou com nenhum assistente social, agente de saúde ou membro da Defesa Civil, seja estadual ou municipal. Os únicos agentes públicos vistos foram policiais militares.
No local, a população ontem fazia o que podia para driblar a água. Um garoto transformou um capô de perua Kombi em jangada para transportar os moradores, que não podiam contar com transporte público.
Bruno da Silva, 21, atuava como entregador. "O pessoal lá perto do rio não consegue sair. Eles ligam aqui e vamos comprar o que estão precisando. Levo até lá. A água chega até a barriga." Seu pai, Manoel da Silva, 48, disse que a prefeitura foi ao local na quarta e prometeu colchões e alimentos -até ontem, nada. "Antes de eleição aparecem mais", afirmou.
Crianças brincavam no lamaçal contaminado por esgoto e disputavam corrida. Algumas invadiram o CEU (centro educacional unificado) do bairro e se banhavam em piscinas.
Segundo Elizabeth Roberto, 24, que perdeu geladeira e guarda-roupa, algumas pessoas ficaram doentes, como a filha da sua vizinha, por exemplo.
"Não sabemos se ela está com leptospirose. Esperamos ajuda", disse. Contudo, elas não se arriscam a abandonar o local por medo de saques, que vêm ocorrendo desde terça-feira. .
Tio Xico Gurgel, como é conhecido o líder do bairro, cobra da prefeitura assistência à população e o desassoreamento do rio para evitar enchentes.


Colaborou o "AGORA"


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