|
Próximo Texto | Índice
DROGAS
FHC derruba 35 dos 59 artigos da nova Lei Antitóxicos, inclusive o que previa penas alternativas para os usuários
Presidente veta direitos a traficantes
RENATA GIRALDI
SANDRO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso vetou ontem 35 artigos, seis parcialmente, de um total
de 59 da nova Lei Antitóxicos.
Com os vetos, crimes relacionados ao tráfico de drogas continuam tendo tratamento equiparado aos considerados hediondos. Ou seja, os condenados por
tráfico não têm direito a indulto e
progressão de pena -chance de
passar ao regime semi-aberto.
Foi vetado o artigo que previa a
aplicação de penas alternativas
para os usuários, uma das inovações da nova lei. Segundo a justificativa de FHC, o veto ocorreu
porque o texto não previa prazos
para essas penas.
O governo elaborou um novo
projeto de lei para ser enviado ao
Congresso Nacional, no qual corrige essa e outras imperfeições
contidas nos itens vetados.
Os artigos que sobraram na nova Lei Antitóxicos devem entrar
em vigor até o final de fevereiro.
Foram mantidos dois artigos do
capítulo de procedimento penal
(33 e 34), que legalizam o uso de
meios e procedimentos mais modernos e eficientes de investigação dos crimes do narcotráfico.
A polícia já vinha utilizando esses procedimentos informalmente, como a infiltração de policiais
em quadrilhas, o rastreamento de
contas bancárias e o acesso ao sistema informatizado dos bancos.
A parte da lei que trata da prevenção ao consumo de drogas e
sua erradicação foi preservada.
"A lei sancionada é muito boa e
havia de se aproveitar aquele núcleo que era muito bom", disse o
general Alberto Cardoso (Gabinete de Segurança Institucional).
A possibilidade de vetar integralmente foi desconsiderada
diante do desgaste que a decisão
causaria entre governo e Congresso. Técnicos do governo concluíram que a falta de prazos, a ambiguidade em várias expressões e a
ausência de clareza foram os principais problemas do projeto.
Houve um esforço de integrantes do governo em amenizar o impacto político da quantidade de
vetos à lei. O general Paulo Roberto Uchôa, diretor da Senad (Secretária Nacional Antidrogas),
disse que dos 210 dispositivos da
lei, que incluem artigos, parágrafos e incisos, 85 foram vetados.
"O ministro da Justiça, Aloysio
Nunes Ferreira, não teve a gentileza de me consultar sobre a análise
do projeto nem de me comunicar
sobre os vetos", disse o deputado
Elias Murad (PSDB-MG), autor
do projeto da Lei Antitóxicos.
Para Murad, foi lamentável a
quantidade de vetos. Para ele, a
espinha dorsal da lei, o artigo 21,
que elencava as medidas alternativas à prisão para os usuários,
não poderia ser excluído. Segundo ele, com o veto ao artigo 21, os
usuários poderão ser presos, pois
a lei atual continua valendo.
Para Cardoso e Uchôa, os pontos positivos foram mantidos, entre eles o tratamento aos usuários,
que teve apenas um artigo vetado,
o que obrigava o SUS a prestar
tratamento.
O ex-secretário nacional Antidrogas Wálter Maierovitch disse
que foi criada uma "colcha de retalhos".
Leia a íntegra da Lei Antitóxicos na www.folha.com.br/toxico
Próximo Texto: Tráfico levou 6% dos presos à cadeia Índice
|