São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2002

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SEGURANÇA

Diferentemente do que diz o governo, não há tendência de queda; dezembro pode ter batido recorde histórico

Sequestros voltam a subir em São Paulo

SÍLVIA CORRÊA
IURI DANTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os casos de sequestro estão em ascensão em São Paulo, diferentemente do que diz o governo. Em dezembro, foram pelo menos 40 deles, contra 31 em novembro.
Nos 40 casos, porém, ainda não estão somadas as ocorrências atendidas pelas delegacias do interior. Mesmo assim, já é o segundo maior índice do ano, atrás apenas do recorde de outubro: 56 casos no Estado, inclusive o interior.
Como a contagem de dezembro ainda é parcial, há indícios de que o último mês do ano inscreveu outra marca histórica nos altos índices de violência do Estado. Só de Campinas, 14 casos ainda não estão nas estatísticas. Isso já elevará o índice de dezembro para 54 -duas ocorrências a menos do que em outubro. Mas ainda faltará somar ao total do mês os casos atendidos pelas delegacias de grandes centros, como Ribeirão e Santos, segundo a própria Secretaria da Segurança Pública.
Em 28 de dezembro, o secretário Marco Vinicio Petrelluzzi divulgou que ocorreram 267 casos no Estado de 1º de janeiro a 30 de novembro: 15 (janeiro), dez (fevereiro), 16 (março), 26 (abril), 19 (maio), 16 (junho), 24 (julho), 26 (agosto), 28 (setembro), 56 (outubro) e 31 (novembro).
Anteontem, a assessoria dele divulgou o que seria o número total desses crimes até 31 de dezembro: 307 casos atendidos, com 322 vítimas. Disse mais: deles, 201 ocorreram na capital, 81 nas cidades da Grande SP e 25 no interior.
No mesmo dia, porém, a Delegacia Anti-Sequestro de Campinas informou que, só naquela região, foram 39 ocorrências em 2001 -14 acima do que a secretaria atribuíra a todo o interior.
A Folha voltou a procurar ontem a secretaria para saber os motivos da divergência. Daí em diante, foram sucessivas versões -todas gravadas-, indicando que os crimes voltaram a subir.
Inicialmente, a secretaria disse que não poderia voltar a divulgar a divisão geográfica dos casos, pois ela estaria sendo revista pelo diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado), Godofredo Bittencourt. Na ocasião, porém, a assessora reafirmou que, no total, até dezembro, foram 307 casos em todo o Estado de São Paulo.
A reportagem procurou Bittencourt, que afirmara, horas antes, em entrevista ao vivo à Rede Globo, que os números estão em queda. Ele negou estar revendo os dados e afirmou que todos os índices haviam sido repassados à CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), órgão ligado ao gabinete do secretário Petrelluzzi.
A Folha voltou a procurar a secretaria. Dessa vez, a informação foi de que a CAP explicaria as divergências até o final da tarde.
No final da tarde, a secretaria informou que os dados repassados à reportagem no dia anterior se referiam apenas aos casos atendidos pela Delegacia Anti-Sequestro da capital -poucos deles fora da Grande SP- e não somavam as ocorrências atendidas pelas delegacias sediadas no interior.
"Esses 307 são os dados só da Deas da capital, falta computar os casos que foram atendidos pelas delegacias do interior -Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, São José do Rio Preto, Santos", disse Carlos Gatti, um dos assessores de Petrelluzzi. "Por erro nosso, fizemos a divulgação antecipada."
O governo só comentará os dados quando terminar de somá-los, na semana que vem.

Preocupação
O presidente Fernando Henrique Cardoso está preocupado com a violência em São Paulo, segundo disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso.
Mas, apesar da tensão provocada pelo assassinato da dona-de-casa Rosana Melotti por seus sequestradores em frente à sua casa (em Campinas), Cardoso afirmou que não há orientações para intervir diretamente no Estado.



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