São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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CARNAVAL 2006

Agremiações ensaiam em casas badaladas e cobram entrada mais alta que na comunidade para aumentar orçamento

Por renda extra, escolas do Rio vão à zona sul

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em busca de um novo público e de mais dinheiro para fazer o Carnaval, as escolas de samba optam cada vez mais por ensaiar na zona sul ou no centro do Rio, longe de suas comunidades. Nem sempre, porém, os locais alternativos conservam o mesmo entusiasmo das quadras originais das escolas, localizadas, em sua maioria, próximos ao morros da cidade.
Com sua quadra superlotada (mais de 8.000 pessoas a cada sábado e tendo de fechar a bilheteria à 1h), a Mangueira ensaia neste ano também na casa de shows Scala, no Leblon. Na última sexta-feira, colocou cerca de 2.000 pessoas no local. O público, porém, era bem distinto, composto especialmente de turistas, que querem conforto e segurança.
"Acho aqui mais seguro para trazer meus amigos que estão visitando o Brasil. Tem mais gente bonita, embora também vá à quadra e ache lá mais animado", afirmou Barbará Brakarz, 26, que estava acompanhada de um grupo de seis norte-americanos.
A turista paraguaia Valéria Alce, 25, também ressalta a segurança: "Acho que na favela não me sentiria tão tranqüila", afirmou ela, que, ao lado da mãe, Nina, assistiu a um ensaio pela primeira vez.
Opção parecida fez a Beija-Flor, que ensaia todas as sextas-feiras até o Carnaval no Claro Hall, na Barra da Tijuca. A cada apresentação, leva um convidado: nesta semana é a vez de Jorge Ben Jor.
O preço também é mais salgado: varia de R$ 20 a R$ 130, enquanto nas quadras mais badaladas o ingresso fica entre R$ 20 e R$ 30. Em Nilópolis (região metropolitana do Rio), a entrada custa só R$ 5.
A Portela se apresenta neste ano, pela primeira vez, na Lapa (região central). Todos os sábados a escola de Madureira ensaia no Circo Voador.

Público pequeno
Outra escola que veio para a zona sul foi a Porto da Pedra, de São Gonçalo. Seus ensaios acontecem no clube Sírio-Libanês, no bairro de Botafogo. No último sábado, apesar da afinada bateria, o público era pequeno.
"É a primeira vez que venho num ensaio de escola de samba. Pensei que fosse bombar mais", disse Robert Kreuger, 20.
Um outro ensaio badalado na zona sul -e que sempre atrai celebridades- é o da Grande Rio, que utiliza o Clube Monte Líbano para se apresentar. A entrada chega a custar R$ 35.
O Salgueiro também se apresenta fora de sua quadra: a vermelho-e-branco está todas as sextas na casa de show Ilha dos Pescadores, na Barra.
Opções mais baratas e próximas do centro da cidade são a Unidos da Tijuca, que cobra R$ 10 em seus ensaios no Clube dos Portuários (região central, próximo à rodoviária), e a Estácio de Sá, tradicional escola do Rio que está no grupo de acesso -lá, o ingresso sai por apenas R$ 5.

Samba esquema velho
Tanto nas quadras como fora delas os ensaios não mudam muito. Começam ou com uma roda de samba ou com um grupo pagode, depois são tocados sambas famosos da escola e de outras agremiações, intercalados com o samba-enredo deste ano.
No Scala, a Mangueira inovou, e um grupo de axé abre o espetáculo. Em geral, nos ensaios na zona sul, os sambas mais conhecidos ganham mais espaço -já o samba-enredo do ano tem menos repetições.
Segundo o vice-presidente do Salgueiro, Guará do Salgueiro, os ensaios são uma importante fonte de renda das escolas, por isso, as agremiações buscam novos públicos e locais de ensaio.
Álvaro Caetano, presidente da Mangueira, afirmou que 30% da receita da escola vem dos ensaios. Neste ano, o orçamento da Mangueira é de R$ 5 milhões. O do Salgueiro, de R$ 4,5 milhões.

Gratuito
De graça, os ensaios técnicos têm lotado a Marquês de Sapucaí nas noites de sexta, sábado e domingo. No último domingo, cerca de 50 mil pessoas foram à Sapucaí ver as apresentações da Mangueira, do Salgueiro e da Caprichosos.
Ao final, o público assistiu a um show da cantora Alcione. Em todos os domingos, um músico encerra os ensaios.


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