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Juízes são acusados de vender liminares
De acordo com o Ministério Público, decisões judiciais eram utilizadas em fraudes que podem chegar a "bilhões de reais'
Quadrilha, que teve 9 pessoas presas, é acusada de atuar em 9 Estados; os advogados dos juízes
não foram localizados
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Policiais de Pernambuco e do
Pará prenderam ontem nove
pessoas, entre elas dois juízes,
acusadas de participar de uma
quadrilha, com ramificações
em nove Estados, que usava decisões judiciais em fraudes.
Segundo o Ministério Público de Pernambuco, o grupo agia
havia ao menos dez anos e seria
responsável por golpes que podem chegar a "bilhões de reais".
A quadrilha atuava com base
em liminares, concedidas por
juízes cooptados em pequenas
cidades, sempre segundo a Promotoria, nos Estados do Piauí,
Maranhão, Amazonas, Rio de
Janeiro, São Paulo, Paraná e
Minas Gerais . Também participariam do esquema advogados, empresários, policiais e
servidores públicos.
As decisões judiciais atribuíam ilegalmente altos valores para títulos "podres" (sem
valor) e determinavam a liberação da verba. Em troca, os juízes receberiam parte dela.
Os juízes também isentavam,
por meio de liminares, empresários da cobrança de tributos.
O dinheiro obtido era dividido
pelo grupo. Na fraude que resultou nas prisões, ocorrida em
maio de 2003, o grupo teria
tentado desviar quase R$ 89
milhões da Petrobras.
Os juízes presos, de acordo
com o Ministério Público, participaram do golpe. Antonio de
Pádua Casado de Araújo Cavalcanti, então titular da comarca
de Salgueiro (a 520 km de Recife), foi quem concedeu a liminar autorizando o resgate de
229 títulos da Petrobras.
Ele teria atribuído aos papéis
o valor de R$ 89,1 milhões -o
que só poderia ter sido definido
por meio de uma perícia que,
no entanto, não foi feita.
De Pernambuco, os títulos
seguiram para a cidade de Augusto Corrêa, no Pará, onde
atuava a juíza Maria José Corrêa Ferreira, hoje aposentada.
Com a ajuda de um servidor do
Banco do Brasil, foi transferida
parte do dinheiro -posteriormente bloqueada.
Com base em relatório da
Promotoria, o Tribunal de Justiça de Pernambuco determinou a prisão de 14 pessoas.
Os juízes presos ontem não
concederam entrevistas. Seus
advogados não foram localizados pela reportagem. O Tribunal de Justiça afirmou que o
Judiciário "irá às últimas conseqüências para apurar o caso".
Além dos juízes, foram presos em Pernambuco dois advogados, um empresário e um representante comercial. No Pará, outros quatro suspeitos foram detidos.
A ação de ontem é uma continuação de outra investigação,
que resultou na prisão, em setembro de 2006, do juiz André
Rui de Andrade Albuquerque,
acusado de fraudar processos.
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