São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DEPOIMENTO

"Sem desespero!, pensei, mas não pude controlar o medo da cheia"

CONRADO CORSALETTE
EDITOR-ASSISTENTE DE COTIDIANO

Estava a caminho da Pompeia quando a chuva começou. A região alaga, pensei, mas em 15 minutos chego lá.
Só que a água veio de repente. A uma quadra do destino tive de tirar o carro da rua-quase-rio e estacionar numa transportadora que, sorte, tinha o portão aberto.
Do pátio era possível ver parte do viaduto. Em cima, carros parados. Embaixo, carros alegóricos se movendo. Pedaços enormes deles boiavam. O trabalho da escola de samba Mocidade Alegre, que guarda suas coisas ali, estava bem danificado.
Foram 2 h para a chuva acalmar e a água começar a baixar. Quando a situação parecia ter melhorado, resolvi enfrentar as ruas ainda cheias d'água. Peguei trânsito numa delas, próximo à rodoviária Barra Funda. E dali em diante tudo só piorou.
Havia um ônibus à frente e outro ao lado direito. Abri a porta e a água estava ali, quase entrando. Lixos boiavam.
A chuva apertou. Sem desespero!, pensei, mas não consegui controlar o medo.
A cheia parecia aumentar -ou seria minha imaginação? Um terceiro ônibus chegou pela rua alagada e parou ao meu lado esquerdo. A água batia na lataria e o carro balançava, parecia boiar.
Pé no acelerador, lembrei, nada de afogar o motor. E se piorar mais, dane-se: abandono o barco-quase-carro e me agarro a um dos ônibus.
A chuva passou, o trânsito andou e cheguei em casa. O carro perdeu a placa da frente e sofreu uma pane elétrica.
Eu desmoronei na cama, à beira de uma pane de nervos.


Texto Anterior: Número de pontos de alagamento é o maior desde 2005
Próximo Texto: Mãe e filha morrem soterradas; Estado de SP registra 14 mortes
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.