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"Morrer poderia ser melhor"
da Reportagem Local
A lembrança dos filhos foi a
única coisa que chegou a colocar em xeque a decisão de Telma Regina de Almeida de se
suicidar. Além da criança que
está esperando -ela está grávida de seis meses-, Telma é
mãe de Leandro, 15, Douglas,
9, Diego, 6, e David, 4.
Com exceção do mais velho,
todos vivem com Telma e o
marido, Jorge Fontes. Leandro
mora com parentes em Curitiba (PR) porque o casal alega
não ter como mantê-lo.
Os filhos, conta Telma, são a
única razão que a faz ter alguma esperança na vida. Leia a
entrevista que ela e o marido
concederam à Folha.
Folha - Por que a sra. tentou
pular do prédio?
Telma Regina de Almeida -
Eu quis me matar mesmo. Se o
bombeiro não tivesse me segurado, teria pulado. Queria chamar a atenção para o meu problema. Pobre só consegue as
coisas assim.
Folha - Como a sra. pensou
em se matar?
Telma - Eu saí de casa para ir
à prefeitura. No meio do caminho pensava que ia subir e me
jogar. Estava zonza, acabei entrando no prédio errado e subi.
Inventei que ia falar com uma
tal de Carmen e fui subindo.
Jorge Fontes - Mas a gente ia
junto...
Folha - Como assim?
Telma - É verdade, mas eu
não queria que o Jorge fosse
porque seria uma humilhação
dupla. Preferi ir sozinha. Levantei cedo, pus uma roupa e
disse a ele que iria na casa da
minha irmã (que mora no mesmo prédio). Passei a bolsa pelo
lado de fora da janela e saí sem
ele perceber.
Folha - Quando o sr. soube o
que tinha acontecido com sua
mulher?
Jorge - Ligaram na casa de
uma vizinha avisando que ela
estava no hospital. Fiquei assustado e feliz quando soube
que ela estava bem.
Folha - O que vocês pretendem fazer agora?
Telma - Não sei. Queria ficar
aqui. Não tenho para onde ir.
Só se for para debaixo da ponte
com os meus filhos. Não é justo. Quando estava lá em cima,
cheguei a pensar que, se morresse, poderia ser melhor. Alguém tomaria conta deles.
Folha - As crianças vão à escola?
Telma - Vão, mas estão todos atrasados, porque a gente
vive mudando. Se tiver de sair
daqui, vão ficar mais atrasados.
Folha - Vocês foram à escola?
Telma - Sei ler e escrever.
Queria trabalhar, mas não tenho como por causa das crianças e da trombose nas pernas.
Jorge - Estudei até o segundo
ano, quando era criança e vivia
na Bahia.
Folha - Como era a vida de
vocês antes de perderem o
açougue?
Jorge - A gente vivia muito
bem. Morava em uma casa alugada, pagava uns R$ 300 por
mês. Tinha aparelho de som,
TV, tudo. Vendi tudo para pagar as dívidas e agora mal dá
para comer. Só tem carne
quando um amigo me dá.
Folha - A sra. já comeu hoje?
Telma - Eu ainda não. Meu
marido também não. As crianças, algum vizinho deve ter dado alguma coisa para elas.
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