UOL


São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA

Pedro Ciechanovicz, cujo grupo mantinha o fazendeiro João Bertin em cativeiro até anteontem, nega envolvimento com o caso

Líder de quadrilha diz que nunca sequestrou

André Sarmento/Folha Imagem
À esq., Pedro Ciechanovicz, líder da quadrilha que sequestrou João Bertin


DA REPORTAGEM LOCAL

Pedro Ciechanovicz, 48, disse ontem ter conhecido os sequestradores do empresário Abílio Diniz na cadeia, mas negou ter aprendido com eles como organizar células terroristas. Acusado de liderar a maior quadrilha de sequestradores do país, ele afirmou nunca ter feito um sequestro.
Ciechanovicz negou também ter dado a ordem, por telefone, para que o fazendeiro João Bertin, 82, patriarca da família que controla a rede de frigoríficos Bertin, fosse solto sem o pagamento de resgate.
Orientado por advogados, Ciechanovicz procurou desqualificar a investigação da polícia sobre a organização criminosa que é acusado de liderar. Mas não mostrou coerência ao afirmar que se sentia traído e que alguém havia falado demais seu nome.
Para a polícia, a estrutura de células da quadrilha, com grupos constituídos para missões específicas, é característica de grupos guerrilheiros, como os que sequestraram Diniz, na década de 80, e o publicitário Washington Olivetto, no ano passado.
O delegado Everardo Tanganelli Júnior, do Denarc (Departamento de Investigações sobre Entorpecentes), que prendeu o sequestrador anteontem em Curitiba, começou a reunir indícios da possível participação dele em outros dois sequestros. Podem chegar a 17 os crimes da quadrilha.

Pergunta - Você teve contato com os sequestradores do empresário Abílio Diniz na prisão?
Pedro Ciechanovicz -
Nunca tive contato com ninguém do Abílio Diniz. Eram umas pessoas que só conversavam entre elas. Eu era de uma população de crime comum, até discriminado.

Pergunta - Mas você os conheceu na prisão?
Ciechanovicz -
Sim, porque estava no mesmo presídio que eles.

Pergunta - Você participou do sequestro do fazendeiro João Bertin?
Ciechanovicz -
Veja bem. Estão imputando vários sequestros à minha pessoa. Não tenho participação nisso. Estão me pegando como bode expiatório.

Pergunta - Mas como o fazendeiro foi libertado após a sua prisão?
Ciechanovicz -
Creio que foi uma coincidência.

Pergunta - Você deu a ordem, por telefone, para que os sequestradores libertassem Bertin?
Ciechanovicz -
Não.

Pergunta - E por que estão acusando você?
Ciechanovicz -
A gente conhece. Às vezes, no mundo do crime, a gente tem umas amizades. Creio que seja isso, alguma amizade.

Pergunta - Quando a polícia cercou sua casa, em Curitiba, você teve medo de morrer?
Ciechanovicz -
Não tenho medo de morrer. O que eu temo é a covardia e a patifaria. Hoje, estou com 48 anos. Já passei pela época da repressão militar. A polícia não trabalhava com investigação, como eles [Denarc" trabalharam aqui, não sei. Pegavam você e colocavam no cavalete. Penduravam por quatro, cinco horas, como foi no meu caso. O sistema que eles usavam na época, embora ainda usem hoje, é uma coisa abolida na Constituição. É um crime hediondo, mas usam.

Pergunta - O que deu errado no seu plano de não voltar à cadeia?
Ciechanovicz -
O sem-vergonha que fala demais. É o cara que pega um dinheiro e não sabe...

Pergunta - Você foi traído?
Ciechanovicz -
Claro. Alguém falou demais meu nome.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Polícia investiga envolvimento em 2 outros crimes
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.