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"Eu queria um milagre", diz mãe de João Hélio
DA SUCURSAL DO RIO
"Sai, sai, sua vagabunda." Essa foi a frase que Rosa Cristina
Fernandes disse ter ouvido
quando tentava tirar o cinto de
segurança de seu filho João Hélio, arrastado e morto depois do
roubo de seu carro, na quarta.
Em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, Rosa tentou contar detalhes do assalto.
Ela e o marido, Elson, choraram, mostraram fotos do filho e
só esboçaram um sorriso ao
lembrar do jeito do menino de
falar. Dizem que não conseguem mais voltar para casa e
que, agora, vão defender mudanças nas leis.
Rosa contou que, desesperada, diz ter pedido aos criminosos para tirar o filho do carro.
Tentou levantar o cinto de segurança, mas um deles a empurrou, bateu a porta do carro e
arrancou. "Só queria meu filho.
Quando vi que ele tinha sido arrastado, sabia que não tinha como corrigir aquilo, não tinha
como livrá-lo da morte. Eu comecei a rezar por um milagre.
Eu queria um milagre", disse.
Disse que, quando dirigia para casa com João e a filha Aline,
14, parou no sinal vermelho
porque tinha dois carros à sua
frente. Dois homens armados
se aproximaram e o mais alto
deles pegou o volante.
"Surge uma revolta porque a
gente vê que não são todas as
pessoas que têm uma alma boa.
Há pessoas duras, há pessoas
que não têm coração, que têm
uma pedra no lugar do coração.
Não há como arrancar amor de
uma criatura daquelas."
Católica por formação, disse
que passou a freqüentar um
centro espírita kardecista depois que João foi diagnosticado
como criança hiperativa.
Um dia após o crime, Elson e
Rosa contam que voltaram à
casa e viram, numa lousa, um
desenho feito por João: um coração e a mão do menino, que
ele contornou com uma caneta.
A mãe disse que Aline sofre
por não ter conseguido ajudar a
tirar o irmão do carro. "Ela viu
como eu vi o João sendo arrastado e a gente não podia fazer
nada. Não sei como pode ficar a
cabeça dela. Isso nunca vai sumir da nossa mente."
A menina escreveu uma carta, lida no "Fantástico", em que
dizia estar "péssima". Num trecho, agradeceu a Kerginaldo
Marinho da Silva, que entregou
o filho Diego após descobrir
que ele participou do crime.
"Minha família está no chão,
o Rio emocionado e o Brasil revoltado. Se essa não é a hora da
mudança, quando será? Quando acontecer novamente,
quando mais uma vida for tirada por um homem de 16 anos. O
Brasil está em fúria, pena de
morte não resolve. Eu desejo
Justiça rigorosa e para os políticos eu peço consciência."
"Só queria que a morte dele
não ficasse em vão. Que tudo o
que vem acontecendo servisse
realmente para marcar uma fase de mudança no nosso país
porque coisas como esta não
podiam voltar mais a acontecer, as pessoas não podem sofrer como a gente está sofrendo", disse o pai de João.
Rosa defendeu punição
maior aos adolescentes que cometem crimes e diferenciação
de legislação penal entre Estados. "Eu queria que os governantes tivessem alma e olhassem o João como filho, e não
como estatística, só mais um."
"O Rio de Janeiro não pode
ser encarado [como outros Estados]. É um caso específico.
Estados mais violentos têm que
ter uma legislação específica.
Se os menores de 18 anos cometem crimes bárbaros, eles têm
sim que ser punidos. Não podem ficar só três anos, porque
daqui a três anos estão matando outro João." A polícia prendeu cinco suspeitos do crime
-um deles tem 16 anos.
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