São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

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"Eu queria um milagre", diz mãe de João Hélio

DA SUCURSAL DO RIO

"Sai, sai, sua vagabunda." Essa foi a frase que Rosa Cristina Fernandes disse ter ouvido quando tentava tirar o cinto de segurança de seu filho João Hélio, arrastado e morto depois do roubo de seu carro, na quarta.
Em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, Rosa tentou contar detalhes do assalto. Ela e o marido, Elson, choraram, mostraram fotos do filho e só esboçaram um sorriso ao lembrar do jeito do menino de falar. Dizem que não conseguem mais voltar para casa e que, agora, vão defender mudanças nas leis.
Rosa contou que, desesperada, diz ter pedido aos criminosos para tirar o filho do carro. Tentou levantar o cinto de segurança, mas um deles a empurrou, bateu a porta do carro e arrancou. "Só queria meu filho. Quando vi que ele tinha sido arrastado, sabia que não tinha como corrigir aquilo, não tinha como livrá-lo da morte. Eu comecei a rezar por um milagre. Eu queria um milagre", disse.
Disse que, quando dirigia para casa com João e a filha Aline, 14, parou no sinal vermelho porque tinha dois carros à sua frente. Dois homens armados se aproximaram e o mais alto deles pegou o volante.
"Surge uma revolta porque a gente vê que não são todas as pessoas que têm uma alma boa. Há pessoas duras, há pessoas que não têm coração, que têm uma pedra no lugar do coração. Não há como arrancar amor de uma criatura daquelas."
Católica por formação, disse que passou a freqüentar um centro espírita kardecista depois que João foi diagnosticado como criança hiperativa.
Um dia após o crime, Elson e Rosa contam que voltaram à casa e viram, numa lousa, um desenho feito por João: um coração e a mão do menino, que ele contornou com uma caneta.
A mãe disse que Aline sofre por não ter conseguido ajudar a tirar o irmão do carro. "Ela viu como eu vi o João sendo arrastado e a gente não podia fazer nada. Não sei como pode ficar a cabeça dela. Isso nunca vai sumir da nossa mente."
A menina escreveu uma carta, lida no "Fantástico", em que dizia estar "péssima". Num trecho, agradeceu a Kerginaldo Marinho da Silva, que entregou o filho Diego após descobrir que ele participou do crime.
"Minha família está no chão, o Rio emocionado e o Brasil revoltado. Se essa não é a hora da mudança, quando será? Quando acontecer novamente, quando mais uma vida for tirada por um homem de 16 anos. O Brasil está em fúria, pena de morte não resolve. Eu desejo Justiça rigorosa e para os políticos eu peço consciência."
"Só queria que a morte dele não ficasse em vão. Que tudo o que vem acontecendo servisse realmente para marcar uma fase de mudança no nosso país porque coisas como esta não podiam voltar mais a acontecer, as pessoas não podem sofrer como a gente está sofrendo", disse o pai de João.
Rosa defendeu punição maior aos adolescentes que cometem crimes e diferenciação de legislação penal entre Estados. "Eu queria que os governantes tivessem alma e olhassem o João como filho, e não como estatística, só mais um."
"O Rio de Janeiro não pode ser encarado [como outros Estados]. É um caso específico. Estados mais violentos têm que ter uma legislação específica. Se os menores de 18 anos cometem crimes bárbaros, eles têm sim que ser punidos. Não podem ficar só três anos, porque daqui a três anos estão matando outro João." A polícia prendeu cinco suspeitos do crime -um deles tem 16 anos.


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