São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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Para PF, preso em SP é caixa de Abadía

Colombiano apresentado pela polícia na última semana diz que Abadía já tirou do Brasil os US$ 100 milhões que tinha escondidos

Ramón Manuel Yepes Penagos ficou nove meses preso em São Paulo com a identidade do mineiro Manoel Oliveira Ortiz

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O colombiano Ramón Manuel Yepes Penagos, que ficou preso em São Paulo por nove meses com identidade falsa, disse ontem à Polícia Federal que os US$ 100 milhões (cerca de R$ 230 milhões) que o megatraficante Juan Carlos Ramírez Abadía mantinha no Brasil já foram tirados do país.
Yepes é apontado pela polícia da Colômbia e pelo DEA (a polícia antidrogas dos Estados Unidos) ora como sócio ora como uma espécie de diretor financeiro de Abadía.
Durante os dois anos em que a PF acompanhou os passos de Abadía, de 2005 a 2007, foram gravadas conversas em que o nome Manuel é associado a dinheiro, de acordo com interpretação dos policiais que atuaram na Operação Farrapos, que investigou o megatraficante.
Após ser preso, Abadía informou à PF que tinha dinheiro escondido numa casa em Campinas (93 km a noroeste de São Paulo). Os policiais foram até o local indicado e encontraram enterrados US$ 952 mil (cerca de R$ 2,18 milhões, pela cotação atual) e 420 mil (pouco mais de R$ 1,24 milhão).
O próprio Abadía sugeriu ao juiz Fausto Martin de Sanctis, que atuou no caso, que tinha mais recursos no Brasil. Ele tentou negociar com o juiz a entrega de US$ 35 milhões em troca da anulação da ação.
O juiz considerou que Abadía queria comprar a Justiça e recusou a oferta. Preso em agosto de 2007, Abadía foi extraditado para os EUA um ano depois.
Ontem, em conversa informal com policiais federais, Yepes disse que o dinheiro foi tirado do Brasil sem passar por bancos ou qualquer outro esquema especial. Ele negocia com a PF uma delação premiada para contar o que sabe.

Identidade falsa
Apesar de falar espanhol com um forte sotaque, Yepes ficou preso nove meses no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros (zona oeste) como se fosse o mineiro Manoel Oliveira Ortiz. Na última semana, a Polícia Civil de São Paulo apresentou-o à imprensa como se fosse Carlos Ruiz Santamaria, integrante do Cartel de Calí e procurado na Espanha. Para o governo espanhol, ele era mexicano. Aos policiais brasileiros, disse ser colombiano.
O nome também era falso. A verdadeira identidade de Yepes só foi estabelecida depois que fotos dele circularam pelo mundo. O DEA e a polícia colombiana informaram que aquela pessoa não era Ruiz.
A identidade do traficante foi revelada anteontem pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo.
Yepes é procurado pelas polícias da Colômbia, dos EUA, da Espanha e da Alemanha. É acusado de tráfico, homicídio, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Na Espanha, foi condenado sob acusação de ter traficado 13 toneladas de cocaína para aquele país. Esteve preso na Alemanha, de onde escapou há cerca de oito anos.
Yepes foi preso pela polícia paulista em 2008 com comprimidos de ecstasy, um indício de que ele já não controlava grandes quantias de dinheiro.
Vivia num apartamento simples e não ostentava riqueza, como Abadía. Para a Polícia Federal, se ele controlasse grandes somas, não se envolveria com o tráfico miúdo.


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