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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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Estudantes da zona sul que não têm dinheiro para pegar ônibus enfrentam sol, chuva e insegurança a caminho das aulas

Alunos andam 16 km por dia para estudar

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Estudantes passam a pé por uma estrada de terra margeada por mato e situada em área violenta


ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 800 estudantes de escolas estaduais na zona sul de São Paulo precisam andar a pé ou de bicicleta até 16 quilômetros (ida e volta) em estradas de terra e áreas violentas para estudar.
Desses, 300 moram perto de uma escola, mas ela não funciona à noite nem tem ensino médio, o que os obriga à longa jornada, que pode durar mais de uma hora, de madrugada ou à noite, sob chuva ou sol e com risco de assaltos.
Os outros 500 estão sujeitos a caminhar por uma via que tem asfalto, mas não dispõe de calçadas. Os carros passam em velocidade enquanto os alunos estão no meio da rua onde, no ano passado, uma menina de 13 anos foi atropelada e morta.
A situação também colabora para a evasão escolar, pois há alunos que desistem das aulas.
Esses dados constam de uma representação que o vereador Carlos Giannazi (PT) deve encaminhar hoje à Promotoria da Infância de São Paulo.
O documento pede que o Estado seja obrigado a fornecer transporte gratuito aos alunos. O argumento é que eles são carentes e não conseguem pagar as passagens de ônibus.
Um dos casos é o da escola estadual Hermínio Sacchetta, na Chácara Santo Amaro. A escola só atende o ensino fundamental e não funciona à noite.
Os alunos que passam para o ensino médio têm de se matricular em escolas distantes até sete quilômetros da Hermínio Sacchetta. É o caso de Wagner Santos Rodrigues, 15, aluno da segunda série do ensino médio na escola estadual Professor Adrião Bernardes, no parque Grajaú.
Ele mora na Chácara Santo Amaro, a oito quilômetros da escola. Estuda das 7h às 11h, mas acorda às 5h para chegar a tempo. Geralmente, vai de bicicleta, mas, quando chove, tem de ir a pé para não se sujar muito.
Rodrigues leva de 40 minutos a uma hora no percurso. Sai de casa ainda de madrugada, às 5h30. Diz que não pode pegar ônibus. "Pior é a volta, debaixo de sol quente."
Walter Tenorio Vieira, 15, aluno da primeira série do ensino médio da escola estadual Lucas Roschel, em Nova Parelheiros, é vizinho de Rodrigues. Mora a cerca de sete quilômetros de onde estuda.
Também diz não ter dinheiro para os quatro ônibus que teria de pegar todos os dias. "Aí não ia sobrar nem para comer", afirma. Conta que pedala devagar para não ficar cansado nas aulas.
Maurício Pereira de Araújo, 19, também da Chácara Santo Amaro, estuda à noite na primeira série do ensino médio da Lucas Roschel e está para desistir das aulas. O pai dele, José Paixão de Araújo, afirma que é perigoso andar à noite na região.

Segurança
O levantamento do vereador Giannazi mostra que Araújo não é o único que corre riscos para estudar. Na escola Maria de Lourdes Almeida Sinisgalli, no Jardim Itaim, a demanda por transporte grátis seria de 500 alunos.
O transporte ali, segundo Giannazi, traria mais segurança. No ano passado, a estudante Cibelle Cristina Carvalho Oliveira morreu atropelada aos 13 anos no trecho de 800 metros sem calçada da avenida de acesso à escola. "Eu não podia pagar perua escolar", diz a mãe, a empregada doméstica Maria José de Carvalho.


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