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DANUZA LEÃO
Era bem bom
A coisa mais difícil que existe
é dar uma festa de aniversário. Como temos várias personalidades temos, consequentemente,
vários tipos de amigos. Juntar todos eles é difícil; muito difícil.
Tem os do PT e os do PSDB, os
ricos e os pobres, os sofisticados e
os totalmente simples, os intelectuais e os que nunca leram um livro, os famosos, os anônimos, e
por aí vai. É bom ser versátil, mas
não é fácil juntar pessoas tão diferentes que têm uma única coisa
em comum: você. É nisso que dá
ter colecionado gente tão diferente ao longo da vida.
Quando você percebe que seu
amigo banqueiro está conversando com aquele que fez passeata
contra a alta dos juros vai rolar
um certo estresse, é claro. E quando você percebe que aquela modelo/manequim, que foi convidada só para enfeitar a festa, está
pendurada no pescoço do marido
de sua maior amiga ou, quem sabe, no do seu, faz o que? Dá uma
de Daniela Cicarelli??
Fora esse pequeno problema da
lista, existem todos os outros pelos
quais passam todos os insensatos
que resolvem dar uma festa. Às 7
da noite começa a paranóia. Será
que vem alguém? E se vierem todos e cada um trouxer um amigo,
em vez de serem 50 vão ser 100, e
aí a comida não vai dar. E a bebida? E os copos? E o gelo? Que vida;
pra que foi inventar?
Marcada para as 9, às 10h30
chegam os primeiros convidados,
e você, que tomou sua primeira
tequilas às 9 em ponto, está na
quarta, e já achando o mundo
uma maravilha. Como alguns
amigos não aparecem e outros
trazem mesmo alguém, o número
permanece o mesmo: 50. Mas será
que tudo vai correr bem, as pessoas vão se divertir? E a música,
deve ser de dança ou quem sabe
clássica, bem baixinho, para criar
um clima fino, digamos assim?
Como clima fino jamais animou
festa alguma, é melhor começar
logo com I will survive, e pronto.
Não pode se impedir de lembrar
dos anos 70, quando havia festa
todos os dias -e se não houvesse,
se inventava. Olhando para trás,
foram anos incríveis. Ninguém
era rico, ninguém tinha dinheiro,
ninguém trabalhava -não muito-, mas todo mundo vivia razoavelmente bem, éramos todos
felizes, e as festas eram assim: para começar, nenhuma delas tinha
uma só flor, nem DJ, nem jantar.
Como eram inventadas de manhã, na praia, era só dizer a dois
ou três amigos "hoje tem festa lá
em casa" que eles se encarregavam de dizer para os outros. Como todo mundo pertencia à mesma turma, não tinha essa de telefonar para convidar, e a hora
marcada era 11. A bebida era uísque nacional, e só; uísque, muito
gelo, e água do filtro - nem club
soda existia. E comida, nem pensar. Havia um toca-discos muito
mixuruca, alguns amigos traziam
uns LPs emprestados, e todo
mundo tinha direito a trocar o
disco na hora que quisesse.
Não era como agora que tem
decorador, florista, DJ, bebidas
variadas, lista na porta, manobrista - até porque pouquíssimos tinham carro. A festa não
saía na coluna social, acabava
com o dia raiando e o objetivo era
um só: a gente se divertir.
E como se divertia.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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