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AULA ANTIPRECONCEITO
Treinamento já inclui direitos humanos, diz corporação; idéia surgiu após repressão a beijo de garotas na USP
Comando da PM desiste de curso com gays
RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO
A Polícia Militar vetou a realização de curso de capacitação em
que policiais aprenderiam, com
auxílio de um bissexual e de uma
transexual, a lidar com gays, lésbicas e travestis. A justificativa foi
que a formação básica do PM inclui aulas de direitos humanos.
O curso deveria ocorrer nos dias
9 e 10 de fevereiro, conforme revelou a Folha em dezembro último.
A articulação foi iniciativa do 2º
Batalhão de Policiamento Metropolitano da Capital, responsável
por atuar na região da Penha,
Cangaíba, Ermelino Matarazzo e
São Miguel Paulista, na zona leste
da cidade. Os alunos seriam os
policiais vinculados ao 2º BPM.
A previsão era que as aulas fossem na USP Leste, onde, em setembro do ano passado, duas universitárias foram levadas à delegacia por uma PM porque se beijavam. Segundo a policial, as meninas cometeram ato obsceno
-elas disseram apenas ter trocado um "selinho". Um termo circunstanciado chegou a ser feito
na Polícia Civil, mas o Ministério
Público Estadual de São Miguel
Paulista arquivou o caso.
Para o comando da PM, não há
necessidade de dispensar o policial do trabalho diário e conduzi-lo para um curso cujo tema já faz
parte da formação da corporação.
"O policial militar é formado e capacitado para prestar os serviços
da instituição -polícia ostensiva
e de bombeiros- para toda a população", diz trecho de nota da assessoria de imprensa da PM. "Todos os cursos de formação policial-militar contêm vasta carga
curricular humanística, da qual se
destaca a de ordem jurídica, que
capacita a respeito dos direitos individuais e coletivos."
Formação humanística
Anda segundo a nota da PM,
soldados recebem 77 horas de aulas de direitos humanos. Os que se
tornarem sargentos recebem
mais 24 horas do mesmo curso.
Na formação dos oficiais, a questão é debatida em um módulo de
90 horas. "Isso demonstra (...) que
o tema faz parte dos currículos há
anos, [é uma] ação pedagógica espontânea -e anterior ao questionamento atual- de adequação
das capacitações profissionais ao
que é contemporâneo."
O conteúdo do curso, dividido
em duas etapas de oito horas diárias, previa aulas sobre direitos
humanos e, ainda, a importância
de atender de forma correta às
minorias. Uma peça de teatro, nos
moldes do Teatro do Oprimido
[técnica criada por Augusto
Boal], mostraria aos policiais como se sente um homossexual vítima de discriminação.
A idealização do curso foi do tenente-coronel Luiz Eduardo Pesce de Arruda, comandante do 2º
BPM, e do Instituto Ser Humano,
ONG de defesa da diversidade sexual da zona leste. À frente da
ONG estavam Edson Azevedo,
declarado bissexual, e a técnica
química Fernanda de Moraes,
transexual. O primeiro abordaria
a importância de respeitar diferenças. A segunda, falaria sobre
transexualidade.
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