São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE/CARDIOLOGIA

Aparelho que monitora líquido nos pulmões já está em uso no país, mas custa R$ 98 mil

Novo marca-passo prevê crise de insuficiência cardíaca

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anvisa aprovou e já está em uso no país o primeiro marca-passo que avisa o paciente quando há excesso de líquido nos pulmões, evitando que ele tenha uma crise de insuficiência cardíaca. A doença, que causa enfraquecimento do músculo cardíaco, reflete diretamente no acúmulo de líquido nos pulmões e, em alguns casos, pode levar à morte.
Segundo o cirurgião cardíaco Nelson Hossne, da equipe de marca-passo da Unifesp, do total de pacientes com a doença -estima-se que sejam 2,5 milhões de brasileiros-, cerca de 30% têm insuficiência cardíaca grave e, portanto, teriam indicação para o uso do marca-passo.
Os primeiros estudos internacionais apontam que o novo aparelho é capaz de indicar com até duas semanas de antecedência o início de um quadro de insuficiência cardíaca, evitando possíveis internações do paciente em unidades de terapia intensiva.
"Antes que os sintomas graves apareçam, o paciente entra em contato com o médico e relata o problema. Assim, o profissional é capaz de reverter o quadro com outros medicamentos, sem precisar interná-lo", afirmou José Carlos Pachón, diretor do serviço de arritmias do Hospital do Coração.
Reduzir a necessidade de internação é um dos principais argumentos do custo/benefício do aparelho -que é fabricado por uma empresa americana, custa R$ 98 mil e não está disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Pacientes com insuficiência cardíaca grave, diz Hossne, chegam a ser internados de cinco a oito vezes por ano, sempre em UTIs. "Eles precisam receber medicamentos para estabilizar a pressão e os batimentos cardíacos e isso só pode ser ministrado em UTI com acompanhamento permanente."
O cardiologista Argemiro Scatolini Neto, do setor de eletrofisiologia cardíaca da Santa Casa de São Paulo, frisa a importância dos marca-passos para vítimas de insuficiência cardíaca. "Não apenas esse novo aparelho, mas os marca-passos em geral reduzem a necessidade de internação e melhoram a qualidade de vida dos pacientes", diz. "Infelizmente, o número de implantes autorizados pelo SUS ainda é muito irrisório se pensarmos que seria uma economia a longo prazo."
Outro fator apontado como significativo é tirar o paciente grave da fila de transplante cardíaco. "Se ele responder bem ao uso do marca-passo, com certeza ele sairá da fila ou terá a indicação do transplante adiada", afirmou o cardiologista Martino Martinelli, diretor do serviço de marca-passo do Incor (Instituto do Coração) e presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas.
Em geral, explicam os especialistas, o tratamento da insuficiência cardíaca é medicamentoso. O paciente toma diuréticos para eliminar o excesso de líquido no corpo e também toma medicamentos que aumentam a força de contração do músculo cardíaco.
Antônio Luiz Pinheiro, consultor técnico do Ministério da Saúde, disse que a pasta ainda não recebeu solicitação de inclusão do novo marca-passo nos procedimentos pagos pelo SUS. Segundo ele, a incorporação depende da comprovação de eficácia em estudos controlados e publicados e do reconhecimento de que a opção é melhor quando comparada a tratamentos alternativos.
"O impacto desse aparelho foi objeto de apenas poucos estudos na literatura médica. Uma análise inicial dos resultados obtidos sugere que o sistema poderia efetivamente ser útil em pacientes selecionados, mas uma opinião definitiva dependeria de análise mais aprofundada."

Como funciona
O marca-passo é implantado no paciente embaixo do músculo, ao lado esquerdo do tórax, por meio de uma cirurgia. Um eletrodo aplica estímulos no músculo cardíaco (para evitar o enfraquecimento) e também monitora o volume de líquido no pulmão.
Os sinais elétricos para detectar a proporção entre o volume de líquido e a quantidade de ar no pulmão são emitidos sempre das 12h às 18h, horário em que o paciente está mais ativo. Diante de qualquer anormalidade, o aparelho emite um sinal sonoro três vezes.


Texto Anterior: "Não esperava outra atitude"
Próximo Texto: Passei por isso: Já tive quatro infartos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.