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SAÚDE/CARDIOLOGIA
Aparelho que monitora líquido nos pulmões já está em uso no país, mas custa R$ 98 mil
Novo marca-passo prevê crise de insuficiência cardíaca
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Anvisa aprovou e já está em
uso no país o primeiro marca-passo que avisa o paciente quando há excesso de líquido nos pulmões, evitando que ele tenha uma
crise de insuficiência cardíaca. A
doença, que causa enfraquecimento do músculo cardíaco, reflete diretamente no acúmulo de
líquido nos pulmões e, em alguns
casos, pode levar à morte.
Segundo o cirurgião cardíaco
Nelson Hossne, da equipe de
marca-passo da Unifesp, do total
de pacientes com a doença -estima-se que sejam 2,5 milhões de
brasileiros-, cerca de 30% têm
insuficiência cardíaca grave e,
portanto, teriam indicação para o
uso do marca-passo.
Os primeiros estudos internacionais apontam que o novo aparelho é capaz de indicar com até
duas semanas de antecedência o
início de um quadro de insuficiência cardíaca, evitando possíveis internações do paciente em
unidades de terapia intensiva.
"Antes que os sintomas graves
apareçam, o paciente entra em
contato com o médico e relata o
problema. Assim, o profissional é
capaz de reverter o quadro com
outros medicamentos, sem precisar interná-lo", afirmou José Carlos Pachón, diretor do serviço de
arritmias do Hospital do Coração.
Reduzir a necessidade de internação é um dos principais argumentos do custo/benefício do
aparelho -que é fabricado por
uma empresa americana, custa
R$ 98 mil e não está disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Pacientes com insuficiência cardíaca grave, diz Hossne, chegam a
ser internados de cinco a oito vezes por ano, sempre em UTIs.
"Eles precisam receber medicamentos para estabilizar a pressão
e os batimentos cardíacos e isso só
pode ser ministrado em UTI com
acompanhamento permanente."
O cardiologista Argemiro Scatolini Neto, do setor de eletrofisiologia cardíaca da Santa Casa de
São Paulo, frisa a importância dos
marca-passos para vítimas de insuficiência cardíaca. "Não apenas
esse novo aparelho, mas os marca-passos em geral reduzem a necessidade de internação e melhoram a qualidade de vida dos pacientes", diz. "Infelizmente, o número de implantes autorizados
pelo SUS ainda é muito irrisório
se pensarmos que seria uma economia a longo prazo."
Outro fator apontado como significativo é tirar o paciente grave
da fila de transplante cardíaco.
"Se ele responder bem ao uso do
marca-passo, com certeza ele sairá da fila ou terá a indicação do
transplante adiada", afirmou o
cardiologista Martino Martinelli,
diretor do serviço de marca-passo
do Incor (Instituto do Coração) e
presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas.
Em geral, explicam os especialistas, o tratamento da insuficiência cardíaca é medicamentoso. O
paciente toma diuréticos para eliminar o excesso de líquido no
corpo e também toma medicamentos que aumentam a força de
contração do músculo cardíaco.
Antônio Luiz Pinheiro, consultor técnico do Ministério da Saúde, disse que a pasta ainda não recebeu solicitação de inclusão do
novo marca-passo nos procedimentos pagos pelo SUS. Segundo
ele, a incorporação depende da
comprovação de eficácia em estudos controlados e publicados e do
reconhecimento de que a opção é
melhor quando comparada a tratamentos alternativos.
"O impacto desse aparelho foi
objeto de apenas poucos estudos
na literatura médica. Uma análise
inicial dos resultados obtidos sugere que o sistema poderia efetivamente ser útil em pacientes selecionados, mas uma opinião definitiva dependeria de análise
mais aprofundada."
Como funciona
O marca-passo é implantado no
paciente embaixo do músculo, ao
lado esquerdo do tórax, por meio
de uma cirurgia. Um eletrodo
aplica estímulos no músculo cardíaco (para evitar o enfraquecimento) e também monitora o volume de líquido no pulmão.
Os sinais elétricos para detectar
a proporção entre o volume de líquido e a quantidade de ar no pulmão são emitidos sempre das 12h
às 18h, horário em que o paciente
está mais ativo. Diante de qualquer anormalidade, o aparelho
emite um sinal sonoro três vezes.
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