São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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Fiquei no meio do fogo cruzado, contou o pai do garoto de 8 anos

DA SUCURSAL DO RIO

Horas depois do assalto em que seu filho por pouco não se torna mais uma vítima da violência no Rio, o aposentado Carlos Augusto Eugênio da Silva, 50, minimiza a atual preocupação.
"Tenho que ver como consertar o meu carro, que está com seis perfurações. Ainda bem que é essa a minha preocupação, mas não deixa de ser uma dor de cabeça", diz aliviado.
Ele voltava com o filho, Anderson Silva, 8, e sua namorada Sandra Ramos da Silva, 47, de uma festa de criança, motivo pelo qual seu filho estava dormindo no banco de trás do carros. "Ele brincou muito". Mais uma vez, ele agradece que às 17h30 de ontem o filho estivesse fazendo a mesma coisa. "Graças a Deus está tudo bem com ele. Está no playground brincando". (IN)

 

FOLHA - Como foi a ação dos assaltantes? CARLOS AUGUSTO EUGÊNIO DA SILVA - A gente estava ali perto do cemitério [de Irajá] quando eles fecharam o nosso carro com um táxi. Não tive como fugir. Cinco elementos desceram do carro e um deles apontou a arma para a minha cabeça, enquanto outro fazia o mesmo com a minha namorada. Eles vieram gritando "Perdeu! Perdeu! Sai do carro!".

FOLHA - O seu filho estava dormindo no banco de trás?
CARLOS -
Estava. Eu saí gritando: "Meu filho está no banco de trás! Tenho que tirar ele de lá!", quando os policiais chegaram e os bandidos começaram a troca de tiros. Fiquei no meio do fogo cruzado! Quando começou, cada um correu para um lado. Meu filho, que estava dormindo deitado no banco de trás, continuou abaixado e fugiu para atrás do poste. Quando acabou o tiroteio gritei: "Anderson, cadê você?!". Foi aí que vi que ele tinha se escondido atrás do poste. "Estou aqui, pai".

FOLHA - Ele estava com cinto?
CARLOS -
Graças a Deus não, porque estava deitado. A gente estava voltando de uma festa de criança. Ele brincou muito, estava muito cansado. Se tivesse com cinto ele dificilmente conseguiria sair do carro. Tem horas que o melhor é ficar sem o cinto [de segurança].

FOLHA - Em algum momento lembrou do caso do João Hélio?
CARLOS -
Dá até para comparar [com o caso]. Mas na hora não dá nem para pensar em nada. Era medo de [o filho] ser levado, de bala perdida... Agora tenho que ver como consertar o carro. Ele está com seis perfurações no vidro, pára-brisa, lataria... Ainda bem que é essa a minha preocupação. Isso é o de menos, mas não deixa de ser uma preocupação.

FOLHA - É a primeira vez que é assaltado?
CARLOS -
Está difícil ser [assaltado] a primeira vez aqui no Rio. Fui assaltado em Brás de Pina há alguns anos.

FOLHA - Pretende se mudar do Rio?
CARLOS -
Mudar para onde? Onde quer que você vá tem isso.


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