São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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Grupo explode parede, pára em blindagem e afeta prédio vizinho

Assaltantes usaram uma bomba em tentativa de assalto a uma transportadora de valores localizada no centro de SP

O impacto danificou um cortiço e um prédio de 16 andares, mas a blindagem do muro impediu o acesso ao cofre da empresa

RACHEL AÑÓN
DA AGÊNCIA FOLHA

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma parede blindada frustrou o plano de uma quadrilha de 20 homens de assaltar uma transportadora de valores anteontem na região central de São Paulo. O grupo tentou, sem sucesso, explodir a parede -o impacto, entretanto, danificou prédios vizinhos. Ninguém se feriu, mas houve pânico entre os moradores -cinco deles tiveram crise nervosa.
Os criminosos fugiram sem levar nada, após trocar tiros com seguranças da empresa.
A ação começou por volta das 23h, quando os ladrões, armados com fuzis e metralhadoras, chegaram à sede da empresa, na rua Camaragibe (Barra Funda). Eles estavam em quatro carros -alguns usavam capuz.
De acordo com testemunhas, metade do grupo permaneceu na rua. O restante entrou em um cortiço onde pelo menos 70 pessoas ocupam 17 quartos.
Ali, os moradores receberam ordem de não deixar os quartos. Os criminosos então subiram dois lances de escada até a laje de um dos quartos do cortiço. Ela dá acesso ao muro da RRJ Transporte de Valores.
Em seguida, os ladrões instalaram a bomba, desceram dois andares, abrigaram-se num banheiro e ligaram o detonador.
A explosão abriu um buraco de 1,5 m de diâmetro na parte de concreto do muro da empresa. No entanto, a blindagem com chapas de aço que "recheia" o muro resistiu.
Três dos 17 quartos do cortiço foram destelhados, tiveram vidros das janelas quebrados e portas derrubadas.
O edifício Angatuba, atrás da transportadora de valores, teve 48 dos 110 apartamentos danificados (portas, janelas e vidros quebrados). Aproximadamente 500 pessoas moram no prédio, de 16 andares. Segundo a Defesa Civil, nenhum dos imóveis precisa ser interditado.
Sem conseguir chegar ao cofre da empresa, os assaltantes fugiram. Na rua Camaragibe, diante da empresa, houve troca de tiros com os seguranças, que estavam num Celta e num carro blindado -um carro forte e um veículo importado foram atingidos por cinco disparos.
A fachada da empresa ficou com marcas de tiros. Ninguém foi ferido ou preso pela PM, que chegou 15 minutos depois.
"Pensei que um avião tinha nos atingido. Desci as escadas e via cacos de vidro no chão, tudo quebrado. Chamei vizinhos para fugir", disse a dona-de-casa Mércia de Souza, 42, moradora do sexto andar do Angatuba.
Morador do apartamento 47 do prédio, um dos mais atingidos, o italiano Gesualdo Carmelo Vicenzo Gattuzo, 88, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, disse que nunca tinha imaginado passar por uma situação parecida.
"Lutei ao lado dos brasileiros em Monte Castelo [Itália] e nem na guerra passei tão perto de uma bomba. Escutei tudo caindo e quando saí do quarto vi tudo destruído. Foi difícil sair. Tive que tirar vidros do caminho", afirmou o aposentado.
"Como morar em um lugar que tem um verdadeiro quartel embaixo?", questionava o autônomo Evaristo Cintra Filho, 32, com o apartamento recém-reformado.
Procurada, a empresa RRJ informou que seu departamento jurídico estuda a possibilidade de ressarcir quem teve seu imóvel danificado durante a tentativa de assalto.
O caso foi registrado no 23º Distrito Policial de Perdizes. O delegado Otávio Granada acionou a perícia técnica para levantar o tipo de explosivo usado pela quadrilha.
A polícia também vai analisar as imagens gravadas pelas câmeras da empresa.


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