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Medo de violência esvazia escolas e fecha lojas em bairro de SP
Moradores do Jd. Arpoador temiam confronto como o de anteontem, quando centenas enfrentaram a PM após morte de suposto traficante
Polícia Militar diz ter ouvido de lojistas que traficantes ordenaram toque de recolher; secretaria afirma ter fechado CEU para "garantir segurança"
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
O medo da violência esvaziou
três escolas e fechou o comércio ontem no Jardim Arpoador,
extremo oeste de São Paulo.
Comerciantes fecharam suas
lojas, pais correram para tirar
os filhos das escolas e as ruas ficaram desertas por medo de
mais protestos contra o assassinato de um suposto traficante.
No dia anterior, cerca de 300
pessoas entraram em confronto com a Polícia Militar durante ato contra a morte na terça-feira, com um tiro, de Fernando
dos Santos Pereira, 25. Identificado como "ajudante" no boletim de ocorrência, ele era apontado por policiais como um dos
líderes do tráfico na região.
Moradores dizem que ele foi
morto pela Polícia Civil. Para o
delegado do 75º DP, Ronaldo
Bittencourt Cardoso, não há indícios de que o crime tenha sido
praticado por policiais.
O medo se espalhou pelo
bairro devido à expectativa de
novo protesto violento -na
quarta, um grupo fechou uma
rua com pedras, lixo e pneus, e a
PM reagiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha.
No início da tarde, comerciantes fecharam as suas lojas e
os pais começaram a ir às escolas para levar seus filhos embora antes de um novo tumulto,
que acabou não ocorrendo.
As escolas municipais General Alcides Gonçalves Etchegoyen e Professora Daisy Amadio
Fujiwara e o CEU (Centro Educacional Unificado) Uirapuru
fecharam. Maria Solange da
Silva, 37, disse que seu filho
passou no meio do confronto
quando voltava do CEU anteontem. "Ele só tem oito anos
e chegou em casa chorando."
Segundo a Secretaria Municipal da Educação, os diretores
permitiram que os pais levassem seus filhos embora. No caso do CEU, os portões foram fechados, segundo a pasta, para
garantir a segurança de alunos,
professores e funcionários.
Lojistas ouvidos pela Folha
negaram que tenha havido um
toque de recolher. Policiais que
patrulhavam o bairro, no entanto, afirmaram que comerciantes receberam telefonemas
ameaçadores com ordens para
que baixassem as portas.
Pelo menos metade das lojas
estava fechada à tarde. A falta
de movimento refletiu até em
quem manteve sua loja aberta.
"Agora está tudo deserto, não
vamos vender nada. Acho que o
pessoal ficou com medo", afirmou um vendedor de móveis.
Nas ruas, imperou a "lei do
silêncio". A maioria se esquivou de perguntas sobre o ocorrido na quarta. Ontem, era possível notar resquícios do tumulto -vidros de um banco,
por exemplo, estavam estilhaçados. A PM manteve policiais
no bairro todo o dia. Moradores eram abordados e revistados. A operação iria até a meia-noite.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, EVANDRO SPINELLI E WILLIAN CARDOSO)
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