São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Medo de violência esvazia escolas e fecha lojas em bairro de SP

Moradores do Jd. Arpoador temiam confronto como o de anteontem, quando centenas enfrentaram a PM após morte de suposto traficante

Polícia Militar diz ter ouvido de lojistas que traficantes ordenaram toque de recolher; secretaria afirma ter fechado CEU para "garantir segurança"

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

O medo da violência esvaziou três escolas e fechou o comércio ontem no Jardim Arpoador, extremo oeste de São Paulo.
Comerciantes fecharam suas lojas, pais correram para tirar os filhos das escolas e as ruas ficaram desertas por medo de mais protestos contra o assassinato de um suposto traficante.
No dia anterior, cerca de 300 pessoas entraram em confronto com a Polícia Militar durante ato contra a morte na terça-feira, com um tiro, de Fernando dos Santos Pereira, 25. Identificado como "ajudante" no boletim de ocorrência, ele era apontado por policiais como um dos líderes do tráfico na região.
Moradores dizem que ele foi morto pela Polícia Civil. Para o delegado do 75º DP, Ronaldo Bittencourt Cardoso, não há indícios de que o crime tenha sido praticado por policiais.
O medo se espalhou pelo bairro devido à expectativa de novo protesto violento -na quarta, um grupo fechou uma rua com pedras, lixo e pneus, e a PM reagiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha.
No início da tarde, comerciantes fecharam as suas lojas e os pais começaram a ir às escolas para levar seus filhos embora antes de um novo tumulto, que acabou não ocorrendo.
As escolas municipais General Alcides Gonçalves Etchegoyen e Professora Daisy Amadio Fujiwara e o CEU (Centro Educacional Unificado) Uirapuru fecharam. Maria Solange da Silva, 37, disse que seu filho passou no meio do confronto quando voltava do CEU anteontem. "Ele só tem oito anos e chegou em casa chorando."
Segundo a Secretaria Municipal da Educação, os diretores permitiram que os pais levassem seus filhos embora. No caso do CEU, os portões foram fechados, segundo a pasta, para garantir a segurança de alunos, professores e funcionários.
Lojistas ouvidos pela Folha negaram que tenha havido um toque de recolher. Policiais que patrulhavam o bairro, no entanto, afirmaram que comerciantes receberam telefonemas ameaçadores com ordens para que baixassem as portas.
Pelo menos metade das lojas estava fechada à tarde. A falta de movimento refletiu até em quem manteve sua loja aberta. "Agora está tudo deserto, não vamos vender nada. Acho que o pessoal ficou com medo", afirmou um vendedor de móveis.
Nas ruas, imperou a "lei do silêncio". A maioria se esquivou de perguntas sobre o ocorrido na quarta. Ontem, era possível notar resquícios do tumulto -vidros de um banco, por exemplo, estavam estilhaçados. A PM manteve policiais no bairro todo o dia. Moradores eram abordados e revistados. A operação iria até a meia-noite. (JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, EVANDRO SPINELLI E WILLIAN CARDOSO)


Texto Anterior: Foco: Guia do Ministério Público ensina promotores de SP a "tratar bem" jornalistas
Próximo Texto: Saiba mais: Para policiais, tráfico atua forte na região
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.